sábado, 8 de agosto de 2009

POLÍTICA - Senado e mídia: o jogo do perde-perde.

Luis Nassif

Acabou a ópera bufa armada pela mídia no Senado:

1. A investida da tropa alagoana praticamente colocou na linha de fogo, indistintamente, todos os que devem algo em cartório. E com a consagração da denúncia-tapioca, a mídia armou a armadilha para seus próprios aliados: não pode minimizar nem o que for minimizável. Todos foram igualados por esse padrão rasteiro de cobertura.

2. O catão Pedro Simon se enrolou no apoio a Yeda Crusius.

3. O catão Arthur Virgílio se enrolou com professores de jiu-jisti e sua bolsa família.

4. A Época desta semana traz matéria informando que o catão Álvaro Dias, “um dos que mais cobram transparência”, não declarou US$ 6 milhões à Justiça.

Signifique que José Sarney é santo? Longe disso. Significa que as práticas políticas dos últimos 30 anos permitiram toda sorte de abusos e transgressões - que se incorporaram nos hábitos e costumes de todo o modelo político. Quando se envereda pelo mundo pantanoso das contribuições de campanha, não haverá procurador suficiente para dar conta do recado.

O modelo acabou, não se sustenta mais. A montanha de informações trazida pela Internet, pelos bancos de dados eletrônico, não permite mais a manutenção do velho jogo. Será uma crise por semana.

E ninguém ganha. Veja tentou envolver o Supremo na jogada dos grampos. Marco Aurélio de Mello e Sepúlveda Pertence não entraram. O Supremo entrou pela porta do gabinete do Gilmar e sua imagem foi exposta de maneira inédita. Perdeu o Supremo, perdeu a Veja, perdeu Gilmar.

A oposição entrou no jogo da mídia nesse episódio do Senado. A imagem do Senado foi destroçada e a da mídia continuou sofrendo desgaste diário e sistemático. Agora toca o Estadão a fazer esse escândalo com o pisão que levou no pé - tentando tratar como se fosse um heróico ferimento de guerra -, o Globo perdendo totalmente o rumo, a Folha nesse dilema entre entrar na onda ou manter a gratidão a Sarney, Lula se chamuscando com o apoio ao coronel.

O episódio Sarney é emblemático de fim de ciclo. Pela segunda vez (a primeira foi nas eleições de Lula) a mídia jogou tudo ou nada. E perdeu. Mas ninguém ganhou, nem Sarney, nem Lula. E a mídia conseguiu reforçar substancialmente a frente dos que a consideram o poder mais ameaçador do país.

Enfim, virou um jogo de perde-perde. Justamente por isso, a partir desta semana, instaura-se a paz. O modelo tornou-se totalmente disfuncional, sem ganhadores. O próximo capítulo terá que ser o da reforma política.
Fonte:Luis Nassif online

Um comentário:

  1. A mídia é muito dura em relação aos movimentos sociais e em relação a população mais pobre no que se refere à a aplicação da lei, exigindo pura e simplesmente seu cumprimento, que se use o peso da lei contra invasores de terra, criminalizando as ações do MST e seus similares, contra as greves, em particular de servidores, os camelôs, os favelados, os perueiros, enfim o velho discurso da lei e da ordem, mas a mesma inflexibilidade não se aplica à própria, sempre alegando o “o sagrado instituto da liberdade de imprensa”, escondendo atrás dele seus interesses. O caso do reacionário Estadão que alega censura, quando há na verdade a aplicação da lei, o sigilo de justiça, não se trata de apoio a Sarney, mas o fato de que a mídia quer uma aplicação discricionária da lei, adaptando-a a suas eventuais conveniências, ela deve dizer quando e como, e mais importante em relação a quem e de que forma deve ser aplicada, assumindo dessa forma não a figura do tal 4ª poder, mas sendo o próprio poder, legisla, julga e governa.

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