sábado, 7 de julho de 2012

MEIO AMBIENTE - Quando não progredir significa regredir.

O malogro da Rio+20: quando não progredir significa regredir


Leonardo Boff

Não corresponde à realidade dizer que a Rio+20 foi um sucesso. Não se chegou a nenhuma medida vinculante nem se criaram fundos para a erradicação da pobreza nem mecanismos para o controle do aquecimento global. Não se tomaram decisões para a efetivação do propósito da conferência, que era criar as condições para o “futuro que queremos”. É da lógica dos governos não admitir fracassos. Mas nem por isso deixam de sê-lo. Dada a degradação geral de todos os serviços ecossistêmicos, não progredir significa regredir.

No fundo, afirma-se: se a crise se encontra no crescimento, então a solução se dá com mais crescimento. Isso, concretamente, significa mais uso dos bens e serviços da natureza, o que acelera sua exaustão, e mais pressão sobre os ecossistemas, já nos seus limites. Dados da ONU dão conta de que, desde a Rio-92, houve uma perda de 12% da biodiversidade, 3 milhões de metros quadrados de florestas foram desmatados, 40% mais gases de efeito estufa foram emitidos e metade das reservas mundiais de pesca foi exaurida.

O que espanta é que o documento final e o borrador não mostram nenhum sentido de autocrítica. Não se perguntam por que chegamos à atual situação nem percebem, claramente, o caráter sistêmico da crise. Aqui, reside a fraqueza teórica e a insuficiência conceptual desse e de outros documentos oficiais da ONU.

Os que decidem continuam dentro do velho software cultural e social, que coloca o ser
humano numa posição adâmica sobre a natureza, como seu dominador e explorador, razão fundamental da atual crise ecológica. Não entendem o ser humano como parte da natureza e responsável pelo destino comum. Não incorporaram a visão da nova cosmologia, que vê a Terra como viva e o ser humano como a porção consciente e inteligente do próprio Terra, com a missão de cuidar dela e garantir-lhe sustentabilidade. Ela é vista, tão somente, como um reservatório de recursos.

Acolheram a “grande transformação” ao anular a ética, marginalizar a política e instaurar como eixo estruturador da sociedade a economia. De uma economia de mercado, passou-se a uma sociedade de mercado, descolando a economia real da economia financeira, esta comandando aquela. Confundiram desenvolvimento com crescimento. Aquele, como o conjunto de condições que permitem o desabrochar da existência humana, e esse, como mera produção de bens a serem comercializados e consumidos.

Entendem a sustentabilidade como a maneira de garantir a continuidade do crescimento, sem mudar sua lógica interna e sem questionar os impactos que causa sobre todos os serviços ecossistêmicos. São reféns de uma concepção antropocêntrica, quer dizer: todos os demais seres somente ganham sentido à medida que se ordenam ao ser humano. Entretêm uma relação utilitarista com todos os seres, negando-lhes valor intrínseco e, por isso, como sujeitos de respeito e direitos.

Por considerar tudo pela ótica do econômico, que se rege pela competição e não pela cooperação, aboliram a ética, e a dimensão espiritual na reflexão sobre o estilo de vida, de produção e de consumo das sociedades. Fizemo-nos bárbaros, insensíveis a milhões de famintos e miseráveis.

Por isso, impera radical individualismo, com cada país buscando seu bem particular em cima do bem comum global, o que impede, nas conferências da ONU, consensos e convergências. E assim, alienados, rumamos ao encontro de um abismo, cavado por nossa falta de razão sensível, de sabedoria e de sentido transcendente da existência.

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