sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

AINDA SOBRE O SARKOZY - Greve Geral na França

Parece que agora os franceses estão percebendo quem é o seu presidente.
Carlos Dória.

L'Humanité vê greve geral como "uma virada"

"Nicolas Sarkozy deve agora se render à evidência e tomar nota do imenso protesto que se expressou em todo o país contra sua política ultra-reacionária", diz o centenário diário comunista francês L'Humanité, em editorial assinado por Patrick Le Hyaric, sobre a surpreendente adesão à greve geral desta quinta-feira, convocada pelas oito centrais sindicais francesas. Veja a íntegra do editorial.

Nicolas Sarkozy não poderá mais dizer, como fez em 6 de julho passado estufando o peito, que "daqui por diante quando há uma greve na França ninguém se apercebe".

Depois de ter feito tudo, durante dias e dias, com seus ministros, para impedir esta forme mobilização, ele deve agora se render à evidência e tomar nota do imenso protesto que se expressou em todo o país contra sua política ultra-reacionária. É altamente sintomático que tal mobilização tenha sido possível, quando os períodos de crise tendem a empurrar os indivíduos para o recuo. Cerca de 70% de nossos concidadãos apoiaram o movimento.

Que o poder não tente distorcer o sentido desta jornada. Desde o mais minúscula povoado até Paris, os assalariados, os aposentados, os sem-emprego e os precarizados, seja do setor público ou privado, as pequenas e médias empresas fizeram ouvitr sua voz com uma força como há muito tempo não se via.

Em certo sentido, pela primeira vez no reinado de Sarkozy o povo quis erguer uma barreira no caminho de sua contra-revolução neoconservadora. Fez sentir sua cólera e sua revolta face às gritantes injustiças que sofre cada dia mais. "Não somos nós que devemos pagar a crise", foi sem dúvida a frase mais ouvida nas manifestações.

Os "esforços", sempre os mesmos

Esta idéia tornou-se majoritária no país. Com efeito, faz décadas que se pede sacrifícios ao mundo do trabalho, aos aposentados e pensionistas, supostamente para que as coisas melhorem amanhã. Ora, o que cada família popular vive é que ao fim dos sacrifícios existem ainda mais sacrifícios para a maioria.

Em contraste, os privilégios de uma minoria aumentam e a crise não cessa de se agravar. Enquanto as rendas do trabalho não param de se reduzir. O número de pobres aumenta. Centenas de milhares de pessoas não têm acesso a uma moradia decente. Um certo número delas, em pleno século 21, mora nas florestas e nas ruas.

O poder sempre solicita "esforços" dos mesmos, enquanto os lucros das empresas cotadas na Bolsa e dos bancos não cessam de explodir. É precisamente essa transferência para o capital de mais e mais riquezas produzidas pelo trabalho que é a causa fundamental dos males da sociedade socialista.

A consciência desta realidade aumenta. A excepcional potência deste 29 de janeiro é um dos sintomas.

É preciso buscar bem longe, no tempo, para se achar uma tal unidade, uma tal vontade de estarem "todos juntos".

È também a primeira vez em déecadas que um movimento deste gênero foi convocado por todos os sindicatos, reunidos com base numa plataforma reivindicatória de grande qualidade. Esta mostra, com razão, que é o progresso social, a eficácia social, quem irá gerar a eficácia econômica, não o inverso.

Assim, o povo em movimento colide frontalmente com as políticas atuais de compressão do poder de compra, de laissez faire em matéria de emprego, de devastação dos serviços públicos e de questionamento de tudo que forma a arquitetura francesa em matéria de educação, de pesquisa, de cultura ou de informação.

Para além de um movimento reivindicativo, trata-se de uma verdadeira revolta contra um sistema indecente, injusto, irrresponsável, que se choca com o interesse geral da sociedade e do mundo e que não pára de favorecer as forças do dinheiro. Sem exagero, pode-se dizer que ele constitui um movimento contra o capitalismo globalizado e seus governantes, o grande patronato e os banqueiros que o promovem.

Também é a primeira vez – e nós o felicitamos – que as forças de esquerda e progressistas apresentam em uníssono seu apoio ao movimento. Falta construir agora uma união sólida, durável, eficaz desta esquerda para dar um impulso político confiável e eficaz às demandas populares.

Um tal impulso político passa por reformas estruturais progressistas, elaboradas pelos próprios cidadãos, reunidos por sua vontade de transformar a sociedade, a Europa e o mundo. Refundar o capitalismo ou consertá-lo apenas nos levaria ao mesmo beco sem saída.

De imediato, é indispensável fazer o debate sobre o uso dos 420 bilhões de euros de dinheiro público que o poder sarkozysta pretende distribuir aos bancos e algumas grandes empresas. Este dinheiro deve servir não para consolidar os lucros da grande empresa e do setor financeiro, mas para responder a urgências sociais. Deve ser usado em favor de um aumento do salário mínimo e dos salários mais baixos, das contribuições sociais e de um novo emprego do crédito de forma seletiva, que pese no sentido da manutenção do emprego e de investimentos úteis para o futuro.

É preciso agora deter todos os fechamentos de serviços públicos e barrar o projeto de supressão de um posto de trabalho em cada dois no setor público. Em todas as regiões e departamentos devem-se implementar dispositivos pluralistas de controle do dinheiro público, de tal forma que este sirva bem ao emprego, às pequenas e médias empresas e à vida das coletividades.

O movimento de 29 de janeiro já convulsiona a paisagem social e política da França. Outros países europeus conhecem igualmente fortes mobilizações sociais em torno dos mesmos temas daqui. Os assalariados puderam verificar que são fortes quando não se acham divididos ou isolados. Isto é igualmente verdadeiro à escala do continente europeu, o que demanda novas convergências de lutas e novas unificações.
Esta ação unida deve prosseguir para obter resultados. O presidente da República e o governo devem ouvir a voz do povo.

Eles poderiam em particular reunir uma conferência nacional que associe o Estado, as organizações sindicais e o patronato, pela melhoria do poder de compra e o aumento dos salários, do emprego, dos serviços público, a melhoria da seguridade social e das aposentadorias.

Isto é do interesse geral. Isto são trunfos que nosso país deve usar para fazer com que a crise recue.

Fonte: http://www.humanite.fr/Site O Vermelho.

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