Haddad e Bolsonaro “relativizam o compromisso com a democracia”: como Vera Magalhães tenta reescrever sua história

 
Uma escolha difícil? Para Vera Magalhães, sim

O ex-juiz Sergio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol jamais tiveram ânimo de esconder: fazer uso da imprensa para dirigir a opinião pública a fim de obter êxito em seus objetivos judiciais sempre fez parte de suas estratégias. Isso é um fato afirmado e reafirmado pelos dois, fato ao alcance de todos pelo Google.

Não é possível, usando de seriedade, hoje em dia, após a Vaza Jato e a Operação Spoofing, questionar a parcialidade e a ilegalidade dos atos processuais de Moro, Dallagnol e o resto. Com alguma lógica e entendimento de relações de causa e efeito, também não é possível dissociar a eleição de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil desses mesmos atos. 

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Isso, quem insiste em não admitir ainda hoje em dia, o faz sabendo que será desmentido pela historiografia brasileira um dia, como hoje já o é pelos fatos postos ao Sol pela Lava Jato e pela Spoofing.

É por este motivo que este Diário e este repórter abordam ações e declarações de jornalistas e veículos de imprensa que se mancomunaram com Moro, Dallagnol e o resto dos procuradores da Operação Lava Jato, tornando-se cúmplices de seus feitos.

Por este motivo e por mais um: esses veículos e esses jornalistas, agora, tentam se imiscuir de suas responsabilidades, e já basta uma Anistia ampla, geral e irrestrita por geração a um país.

É por isso que já se tratou, neste espaço, de Merval Pereira, mostrando suas mentiras, seu cinismo e seu ridículo. É por isso que agora se faz o mesmo com a jornalista Vera Magalhães, como ainda se fará com outros que agiram e agem como eles.

Vera Magalhães, como Merval Pereira e outros, mente, tenta reescrever a própria história, longe da autocrítica que seria necessária se quisesse continuar exercendo o mesmo ofício com dignidade.   

Hoje em dia, como se nota em uma visita à sua conta de Twitter ou leitura de suas colunas mais recentes, é crítica ferrenha do governo Bolsonaro, dando razão aos que o chamam de genocida.

Até aí, qualquer são o é e dá.

Mas Vera Magalhães quer reescrever o próprio passado, com o uso de mentiras. No dia 4 de setembro de 2020, a jornalista disse – como de resto veio a repetir em outras oportunidades – que se chateia quando a cobram por um editorial do jornal o Estado de S.Paulo, que afirmou se tratar de uma “uma escolha difícil” aquela entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a que foram submetidos todos os brasileiros votantes no segundo turno das eleições de 2018.

Disse ela, no dia 20 de setembro de 2020: “Para algumas pessoas da sociedade, a escolha (entre Haddad e Bolsonaro) era difícil. Essas pessoas existiram, existem, estão na sociedade. Agora, eu não sou uma dessas pessoas. Eu não escrevi esse editorial”. Ouça abaixo, na voz da própria jornalista.

Então, não é uma dessas pessoas? Leia, abaixo, o que escreveu em sua coluna no jornal Estado de S.Paulo, no dia 29 de setembro de 2018, a jornalista Vera Magalhães, sob o título “Democracia Relativizada”, ao alcance de um clique no Google a quem duvide:

De um lado, o PT, o partido que questionou a legalidade de sucessivas sucessões judiciais, tem um condenado em segunda instância que diz que a sigla tomará o poder de qualquer forma, pelo voto ou não. O candidato a presidente do partido, Fernando Haddad, diz que pretende “criar condições para uma Constituinte”, sem dizer quais serão elas.

Do outro, Jair Bolsonaro diz que se não vencer a eleição não aceitará o resultado do pleito. A mesma tese é propagada por seus filhos e apoiadores. Em comum, os dois lados relativizam o compromisso com a democracia, as regras do jogo e o respeito às instituições. Na antesala da eleição.

Bom, de fato, o PT estava errado. A Vaza Jato e a Spoofing provaram que não cabia questionar a legalidade das decisões judiciais que levaram às condenações de Lula. Elas foram inquestionavelmente ilegais mesmo. Mas não espere uma correção, autocrítica ou coisa que o valha de Vera Magalhães por ter inumeravelmente repetido coisas como essa.

Além disso, em tão curto texto, quantas mentiras. O PT é um partido que foi fundado para construir a luta da esquerda dentro da legalidade, por isso desde sua origem foi muito criticado pela esquerda revolucionária e é até hoje, Rui Costa Pimenta que o diga. E provou essa característica em todos os anos que ficou no poder. Ou alguém viu os governos de Lula e Dilma ameaçando a democracia como o faz Bolsonaro? 

E como comparar o desejo de construir condições para uma Constituinte (a jornalista editou o que vem a seguir a essa vontade no programa de governo de 2018 de Fernando Haddad, a afirmação inconteste de que essa construção se daria estritamente dentro do campo da legalidade) com a afirmação de Bolsonaro de que, se perdesse a eleição, então não valeria?

Mas nem é isso que se busca apontar. O que se destaca é que o que escreveu Vera Magalhães, sem tirar nem por, era que se estava diante de uma escolha difícil entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro. Ou não?

Apenas o que se lê acima, então já demonstra a mentira de Vera Magalhães. Mas não é tudo. A jornalista foi além. Em mais de uma oportunidade, deu mostras de que, posta diante dessa escolha, não apenas optaria por Jair Bolsonaro, como incitava a imprensa a trabalhar pela derrota do petista no segundo turno.

A título de exemplo, leia o que disse Vera Magalhães na rádio Jovem Pan, no dia 20 de setembro de 2018. 

Para Fernando Haddad vencer o segundo turno, contra Jair Bolsanaro, ele precisa romper o antipetismo e se tornar palatável a um setor que vai ser antibolsonarista. Então, aí, ele precisa falar mais manso, mais suave. 

Aí, cabe aos adversários, cabe à imprensa também, mostrar que não é bem assim.

Abaixo, assista ao que se transcreveu, e mais, a jornalista comparando Haddad ao “Médico e o Monstro” e muito mais, tudo em cerca de dois minutos usando o microfone.

Que ninguém se engane. Este repórter e o Google têm mais uma série de exemplos que mostram que sim, Vera Magalhães disse que se tratava de uma escolha difícil entre Haddad e Bolsonaro e fez mais, trabalhou para que a escolha do eleitor fosse pelo ex-capitão do Exército.

Nada contra as escolhas políticas, sejam elas quais sejam, de quem quer que seja. É da democracia. Tudo contra uma imprensa e profissionais da imprensa que tentam, descaradamente, reescrever sua própria história recente, com o uso de mentiras, pensando que todo mundo é trouxa e prejudicando o posterior trabalho da historiografia brasileira.

É para isso que existe este artigo. Para ajudar a historiografia brasileira a não ser enganada.