sábado, 6 de março de 2021

O maior anti bolsonarista do momento.

 


O maior anti-bolsonarista do momento é o presidente dos EUA, Joe Biden

Aborto, direitos LGBTs, estatização de prisões federais, combate à pandemia: agenda de Biden é diametralmente oposta à de Bolsonaro

MONTAGEM DA INTERNET COM O "BIDEN COMUNISTA"
Cynara Menezes 
24 de fevereiro de 2021, 17h25
   

O maior anti-bolsonarista do momento no mundo é o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden –e Jair Bolsonaro sabe disso. Desde que assumiu o cargo, em 20 de janeiro, todas as decisões tomadas por Biden são diametralmente opostas ao que Bolsonaro defende. A mais recente delas foi anunciar que pretende restringir a posse de armas de fogo, na mesma semana em que o presidente brasileiro assinou decretos facilitando a compra de armas no país.

Boa parte das decisões tomadas por Biden neste primeiro mês são anulações, por decreto, de medidas tomadas pelo antecessor, Donald Trump. Uma delas foi a anulação da proibição a pessoas transgênero de integrar as Forças Armadas; Biden deixou de dar apoio governamental a uma ação que visava impedir atletas trans de participarem nas competições escolares; e as pessoas trans ou não binárias serão autorizadas a colocar “X” em seus documentos em vez de “feminino” ou “masculino”, para que reflitam sua identidade de gênero.

Já imaginou se os esquerdistas fizessem como os bolsonaristas na época da Dilma e saíssem às ruas pedindo intervenção dos EUA no Brasil? Chegaram a fazer um abaixo-assinado a Barack Obama! Menos mal que a esquerda defende a autodeterminação dos povos…

Outra decisão anti-bolsonarista do presidente dos EUA foi a de revogar a proibição de Trump de financiamento federal às ONGs que facilitam o aborto (permitido em quase todos os Estados desde 1973), como a Planned Parenthood. Biden já havia prometido durante a campanha não tomar nenhuma medida para revisar a decisão da Suprema Corte conhecida como “Roe vs Wade” que permitiu a existência destas ONGs e que na prática legalizaram o aborto no país há quase 50 anos. Enquanto isso, a ministra Damares Alves foi à ONU fazer uma anacrônica “defesa da vida desde a concepção”.

Para desespero de Bolsonaro, que primeiro disse que a eleição havia sido fraudada e agora bajula o presidente norte-americano como se não houvesse amanhã, a agenda de Biden mostra ter cada vez mais itens de oposição à sua cartilha de extrema-direita. A composição de seu governo, por exemplo, ao contrário do ministério de homens brancos de Bolsonaro e Trump, foi pensada para ter o gabinete mais diverso da História do país: incluiu negros, latinos e indígenas no primeiro escalão. Uma médica trans, Rachel Levine, ocupa o cargo de sub-secretária de Saúde e está à frente do combate à Covid-19.

 

A própria abordagem da luta contra a doença mudou drasticamente. Em vez de, como Bolsonaro e Trump, apostar no negacionismo e na promoção de medicamentos ineficazes contra a doença, como a hidroxicloroquina, Joe Biden, que só aparece em público usando máscara, aposta numa estratégia nacional de controle da doença. Prestigiou o médico chefe da Casa Branca, o infectologista Anthony Fauci, desautorizado diversas vezes por Trump, e está apostando na vacina –a escolhida é a da Johnson&Johnson, em dose única.

Além disso, derrubou as restrições impostas por Trump às pessoas de baixa renda para ter acesso ao Obamacare, a assistência de saúde governamental implementada por Barack Obama. E reatou os laços com a OMS (Organização Mundial de Saúde) desfeitos por Trump, que fez o país deixar de contribuir financeiramente com a entidade, apontada por bolsonaristas como “comunista”.

Ernesto Araújo, o ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro que chegou a chamar a pandemia de “comunavírus”, deve ter desejado se jogar da borda da terra plana ao ler que Biden revogou algumas das sanções impostas por Trump à Venezuela. Embora membros do governo ainda se refiram a Nicolás Maduro como “ditador”, voltou a permitir alguns tipos de viagens comerciais com o país sul-americano. Uma licença emitida pelo Departamento do Tesouro permite aos EUA tratarem com o INEA (Instituto Nacional de Espaços Aquáticos) da Venezuela, anulando parte das ordens executivas emitidas em agosto de 2019 pelo bloqueio total da administração Trump. Por enquanto, a medida permite a importação e a exportação de produtos via INEA, sem incluir pessoas e empresas que permanecem sancionadas.

Ricardo Salles, o ministro contra o Meio Ambiente, arrancou os cabelos quando soube que os EUA voltaram ao Acordo de Paris, oficializado nesta semana. Biden prometeu traçar um plano para zerar as emissões norte-americanas de gases estufa até 2050. Salles saiu falando fino e prometendo alinhamento com os norte-americanos de uma videoconferência com o secretário John Kerry no último dia 17.

Entre as decisões de Biden que contrariam o que defende o bolsonarismo está ainda a estatização das prisões federais: o presidente revogou o  contrato com os administradores privados de prisões com a justificativa de que as prisões privadas são piores e contribuem para o encarceramento em massa, já que recebem por número de presos, favorecendo a corrupção da Justiça.

“As prisões privadas se beneficiam dos prisioneiros federais e, de acordo com um relatório da inspeção geral do Departamento de Justiça, são menos seguras tanto para os réus quanto para os guardas” do que os centros de detenção estatais”, disse sua conselheira de Política Interna, Susan Rice. Biden também desistiu de construir o absurdo muro com o México iniciado por Trump e mudou a política de migração, prometendo legalizar a situação de 11 milhões de imigrantes ilegais.

Já imaginou se os esquerdistas fizessem como os bolsonaristas na época da Dilma e saíssem às ruas pedindo intervenção dos EUA no Brasil? Eles chegaram a fazer um abaixo-assinado a Barack Obama! Menos mal que nós, de esquerda, acreditamos na autodeterminação dos povos…

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