quarta-feira, 9 de junho de 2021

"A polícia bateu na nossa porta".

 

Terça-feira, 8 de junho de 2021
A polícia bateu na nossa porta

Até quando será possível se expressar livremente no Brasil? Até quando jornalistas poderão trabalhar sem medo de serem processados, investigados ou intimidados pelo direito penal subterrâneo que se tornou corriqueiro nesses tempos sombrios que vivemos?

Não sabemos as respostas para essas perguntas. Mas temos certeza de que a cada dia estamos mais perto do pleno estado de exceção tão desejado pela extrema direita brasileira. Na última semana demos mais um passo nesse sentido. A polícia política bateu na nossa porta. 

Leandro Demori, nosso editor-executivo, foi intimado a depor na próxima quinta-feira por conta de uma newsletter enviada no dia 8 de maio sobre a atuação da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil do Rio de Janeiro (Core) na chacina do Jacarezinho. 

Só o atual contexto político e um Estado policialesco podem explicar essa intimação. 

Leandro é um jornalista no livre exercício de sua profissão e que divulgou informações apuradas e de grande interesse público. Publicamos o texto hoje em nosso site e queremos que todos leiam (clique aqui para ler). É uma denúncia grave que, em uma sociedade democrática, deveria gerar investigação contra aqueles que podem estar envolvidos em dezenas de assassinatos! Mas não. No Brasil de 2021, é o jornalista que fez a denúncia que terá que se explicar para a polícia. 

O procedimento instaurado contra Leandro não é novidade e não é o único. A Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) já intimou o influenciador Felipe Neto e os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos em outras ocasiões igualmente ridículas. Aparentemente, a DRCI se tornou a polícia do pensamento da Nova Era. 

O que não falta é crime na internet para ser investigado. A polícia poderia estar de olho em quem dissemina discurso de ódio nas redes ou naqueles que ganham dinheiro divulgando remédios sem eficácia comprovada contra a covid-19. Quantas vidas foram perdidas por conta da rede de desinformação que se formou na pandemia? Por que a polícia não tem interesse nesses e em outros crimes graves? Por que o foco é vigiar opinião, ideias e apuração jornalística?

As respostas a essas perguntas eu deixo por sua conta. 

Intercept sabe que precisa tomar cada vez mais cuidado com o que publica e as denúncias que realiza. O que não significa que vamos parar ou diminuir o ritmo. Muito pelo contrário. Enquanto ainda for possível exercer o que resta do nosso direito de investigar, preservar o sigilo de fonte e revelar os esquemas e ideias que eles querem esconder, nós vamos nos manter de pé nesta batalha.

Mas nós não podemos fazer isso sozinhos. É fácil ir pra cima de um jornalista. É bem mais difícil deter um movimento. 

A comunidade que conseguimos formar com nossos leitores é a maior do país e é ela que nos protege. Sempre que nosso trabalho é divulgado, compartilhado e que recebemos o apoio de pessoas como você, essa rede se fortalece. Chegamos a um ponto em que precisamos dela ainda maior. Lembre-se: 2022 está logo ali. 

Queremos você ao nosso lado contra esse inquérito absurdo e em todos que ainda virão. Você pode nos ajudar encaminhando esta denúncia e o texto que publicamos hoje para seus contatos. Você também pode fazer uma doação para o TIB. É o apoio que vem dos nossos leitores que nos permite fazer esse trabalho pagando redatores, produtores, advogados, jornalistas. Fazer jornalismo independente e destemido é custoso e o Intercept precisa manter a estrutura que garante condições seguras para seus profissionais. 

Samanta do Carmo
Coordenadora de Redação

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