quinta-feira, 22 de julho de 2021

"Dança das cadeiras".

 

Dança das cadeiras agrada Centrão e tira Ramos de cena

"Segundo um amigo e experiente político, a sobrevivência de Bolsonaro está nas mãos do Centrão, e quanto mais ele cede, mais o preço aumenta. O governo acabou", escreve a jornalista Denise Assis

Luiz Eduardo Ramos
Luiz Eduardo Ramos (Foto: Anderson Riedel/PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

O governo Bolsonaro está na lona. Sem partido que lhe dê sustentação, escora-se no Centrão e na caneta, para se arrastar até 2022, quando pretende usar da visibilidade do cargo para se reeleger. Até lá - se chegar lá -, seu governo vai sendo devorado pelas bordas, com a voracidade que só esta parcela de políticos “desideologizados” sabe manejar. Assim, vai entregando anéis para não perder os dedos. E lá se foi mais um, ao desalojar o ministro da Casa Civil, o general Luiz Eduardo Ramos, que ruma para a Secretaria- Geral, hoje ocupada por Onyx Lorenzoni, para dar poderes a Ciro Nogueira (PP-PI). A dança das cadeiras, porém, vai além de um agrado ao Centrão.

Por conveniência, neste momento em que se discute as cambalhotas da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e por prudência, é melhor tirar o general Ramos da janela. Já basta o barulho da passagem do ex-ministro Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello, pela CPI. Sem algazarra - pois a pauta principal é a sustentação do governo -, há algo de proveitoso nesta troca.

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Com as pesquisas acarretando até internação hospitalar – 46% para Lula contra seus minguados 25%, além da incerteza quanto ao apoio dos evangélicos, posto que deu chabu na viagem de “arranjo” do vice-presidente à Angola, para tentar clarear o horizonte das igrejas pentecostais naquele país -, resta a Bolsonaro bajular o Centrão. Não só. Garantir também que mais nenhum escândalo venha a turvar ainda mais a sua caminhada até as eleições. 

Num cenário em que 59% dos eleitores disseram ao Datafolha que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, todo cuidado é pouco. Vale não fazer marola em torno da engenharia elaborada lá atrás, para se montar um orçamento que contemplasse a todos e acalmasse os ânimos do sempre voluptuoso Centrão. De forma rápida e ágil, o principal arquiteto da partilha cedeu lugar a uma senhora de aparência dócil, indicada pela turma deles, para ficar na linha de frente dessa manobra. Perfeito.

Agora, porém, quando a discussão esquenta novamente em torno do tema, com a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que destinou ao fundo eleitoral de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões, o país se deparou com uma realidade ainda mais gritante: o presidente da Câmara, Arthur Lyra, tem em mãos – graças àquela cuidadosa arquitetura para agradar ao Centrão – R$ 11 bilhões em emendas parlamentares.  (No desespero de manter a fidelidade do apoio, “alguém” errou na mão, não só nos “agrados”, como na perspectiva política). Tanto poder com Lira, agora torna-se uma pedra no sapato. Afinal, estão em sua gaveta, 120 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, que virou refém. 

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Para fingir que governa e distrair o respeitável público, ele vem ao centro do palco dar murros na mesa e gritar que vai vetar o aumento do fundo Eleitoral. Deixa estar que ao voltar para o Congresso, o valor será mantido e ele ficará como bom moço, que tentou, mas foi derrotado na medida “moralizante”. 

Ao fundo, os ajudantes de palco movem as peças em ritmo de vaudeville, a fim de colocar fora do alcance dos holofotes o responsável por dirigir o trator que jogou no colo de Lira tanto dinheiro e poder. 

Enquanto isto, dane-se a economia de Guedes, que vai sendo carregada para o fim do ato. Desacreditado junto aos setores que contam, no país, o ministro da economia é apenas um figurante. Segundo um amigo e experiente político, a sobrevivência de Bolsonaro está nas mãos do Centrão, e quanto mais ele cede, mais o preço aumenta. O governo acabou, considerou.

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