domingo, 13 de julho de 2008

BOLÍVIA - A guerra armada pelo império.

Bolívia: A guerra armada pelo império em Cochabamba

Há poucos dias, os comentaristas das redes de TV mais difundidas na Bolívia atacaram o presidente Evo Morales em virtude de suas reclamações junto ao presidente do Peru, Alan García, pela instalação de uma base militar norte-americana em seu país. A "cegueira" de nossa imprensa não quer ver o que disse na revista "Página 12" o especialista em temas militares Ricardo Soberón: "A partir dessa base, os EUA operariam em toda a região. Com sua instalação no Peru, eles estariam se envolvendo perigosamente em conflitos regionais".

Por Carlos Alejandro Ugarte, para o Rebelión

Paralelo a esse primeiro comentário, não posso deixar de mencionar a existência de um plano norte-americano para atenuar sua crise econômica a partir do "keynesianismo militar" entendido como a determinação política de manter uma economia de guerra permanente, utilizando-a como elemento ativador e sustentador da economia do país.

Esse keynesinismo militar, somado à base militar norte-americana na região peruana de Ayacucho (uma região eqüidistante em relação à Colômbia e à Bolívia), nos dá pistas para entender a geopolítica desenhada pelo imperialismo na América Latina – mas o desenho por si só não esclarece seu plano a respeito da Bolívia a curto prazo.

Um feito que se denuncia a si mesmo, eu seu processo a curto e médio prazo, é a reaparição do embaixador norte-americano Philip Goldberg na Bolívia. A partir de suas relações com o Conselho Nacional pela Democracia (Conalde), é fácil deduzir que o que ele e a direita do país vêm tramando é o enfrentamento entre os cidadãos de Cochabamba. Isso apenas para começar.


O Império e o Conalde aparentemente fizeram ajustes em suas planos iniciais, descartando enfrentamentos em Santa Cruz e Sucre, devido a uma ligeira diminuição do ambiente de belicosidade na nova configuração política do país. Cochabamba será um novo ensaio, com possibilidade de sustentabilidade e apoio externo dede a base militar de Ayacucho, com pretextos mais bem construídos do que nas tentativas anteriores, caso o governo local seja derrotado no referendo revogatório de 10 de agosto.

Ninguém mais duvida de que o governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, será um dos que deverão perder a disputa no referendo. Ele, no entanto, tem sido taxativo nos últimos dias e já reiterou que não aceitará o resultado da eleição e, seja qual for a decisão popular, não dará por encerrada sua gestão. Ou seja, se sublevará ao mandato do povo e à institucionalidade do poder central.

É necessário atentar para essa arrogância, pois ninguém nega que os movimentos sociais tentarão primeiro persuadir o governador para que respeito o resultado do referendo e, somente depois, assumir alguma atitude diferente. Sob essa lógica de comportamento sangrento, Reyes Villa já teria um plano de resistência desenhado pelo imperialismo norte-americano.

E que não venham os membros do Conalde com a falsa postura de que respeitam as decisões de seus integrantes, ao não insistir para que Reyes Villa aceita o resultado do referendo "bem quietinho". É claro que eles também são parte de um plano de desestabilização e serão parte responsável do enfrentamento que poderá ocorrer entre camponeses, cocaleiros e aliados do governo contra jovens paramilitares de Cochabamba e outras regiões preparadas antecipadamente para este fim.

Reiteramos: o Império quer fazer de Cochabamba o foco central do conflito para pôr em prática e ação militar contra o MAS. O pretexto da guerra contra o narcotráfico e o terrorismo não será mais do que isso: um pretexto construído com as elites reacionárias para conspirar contra o governo, além da realização do sonho norte-americano inconcluso de impulsionar a guerra de baixa intensidade no trópico de Cochabamba.

Mas a discussão não se encerra nisso. O Império necessita pressionar a região no que diz respeito ao controle dos recursos energéticos também, principalmente a partir de pressões sobre Argentina e Brasil, países cujas indústrias e famílias de algumas regiões dependem, em certa medida, do gás que a Bolívia lhes fornece.

Tudo se configura para ver como os Estados Unidos aproveitam a crise política boliviana para recuperar sua hegemonia e seu poder na América do Sul. E ainda que por ora isso seja apenas uma hipótese, daqui a dois meses valerá a pena ter um acompanhamento da ofensiva imperial na América Latina – que dependerá do nível de atenção que a população da região estará diante de cada passo dado pelo imperialismo.

Finalmente, não-somente por interesses econômicos, mas também porque somos uma mesma família latino-americana, Alan García não deveria permitir a instalação de uma base militar norte-americana em Ayacucho. Nesse mesmo sentido de irmandade, será prudente que o povo de Cochabamba não defenda Reyes Villa caso ele seja derrotado no referendo. A paz vem sendo construída na Bolívia com nossas próprias mãos e ainda podemos seguir nesse caminho, dentro da legalidade e da constitucionalidade, sem jamais se sublevar a um mandato soberano, se submetendo ao imperialismo norte-americano.
Fonte: Selenia.

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