segunda-feira, 14 de julho de 2008

MÍDIA - Uma batalha de todos.


Mario Augusto Jacobskind.

UMA BATALHA DE TODOS .

Não há dúvidas que nos dias de hoje um dos grandes desafios a ser enfrentado é o do aprofundamento do processo democrático na área de comunicação. Ou seja, o acesso à informação de amplas parcelas da população mundial, sem subterfúgios e manipulações. Quando se fala em democracia, deve ser este conceito entendido na verdadeira acepção da palavra e não na base da retórica pura e simples. Só a manipulação grosseira de acontecimentos contemporâneos importantes, como acontece diariamente na mídia convencional, já valeria a mobilização em favor da democratização da mídia. Na verdade, não se trata de uma batalha a ser travada apenas por jornalistas e comunicadores de um modo geral, mas, sim, por todos formuladores ou receptores da informação. E neste caso são bilhões de seres humanos em todo o mundo.

Esta introdução se faz necessária pelo fato de que há poucos dias estiveram reunidos na Ilha de Margarita, na Venezuela, os Ministros da Comunicação e Informação do Movimento dos Países Não Alinhados, sob absoluto silêncio da mídia. Foi proposta pelo representante da República Bolivariana da Venezuela, o Ministro Andrés Izarra, da Comunicação, a criação de uma TV independente, nos moldes da Telesul, a emissora da qual participam a própria Venezuela, Argentina, Uruguai, Bolívia, Cuba, Equador e Nicarágua.

A criação de uma emissora de rádio do gênero, a Radiosul, também foi proposta. Esta seria uma das formas de se enfrentar a hegemonia midiática dos países ricos, sobretudo os Estados Unidos.

A Telesul, que está no ar desde julho de 2006, é hoje um espaço midiático fundamental para quem quer acompanhar os acontecimentos na América Latina. Quando surgiu, legisladores estadunidenses passaram a fazer ameaças contra a emissora sugerindo até impedir a propagação das imagens do canal por ser uma “ameaça à democracia”. Nada de concreto foi feito, a não ser a intensificação de uma campanha de desinformação contra a emissora, hoje vista não apenas em toda a América Latina, como parte da Europa, Estados Unidos e África.

Para se ter uma idéia do besteirol midiático, um jornalista que ocupa espaços midiáticos conservadores na América Latina chegou até a chamar a atenção para o fato de a Telesul fazer apologia do terrorismo. E sabem o que foi alegado? Pasmem, que a Telesul estava fazendo apologia do grupo terrorista ETA ao veicular uma composição de Caetano Veloso (A Luz de Tieta – da trilha sonora do filme Tieta do Agreste – que num trecho canta-se ETA ETA ETA a lua o sol a luta de Tieta”). É possível que nem o próprio Caetano saiba do ocorrido, que passou a fazer parte da antologia de besteirol, digna dos compêndios do saudoso Sérgio Porto, o Stanislau Ponte Preta.

Para desespero dos barões da mídia, sobretudo os agrupados na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a Telesul se consolidou e tornou-se um fator de referência até para canais comerciais em termos de imagens. Sabem por que? Exatamente pelo fato de a emissora independente acompanhar de perto acontecimentos relevantes no âmbito da América Latina e cultivar a memória apresentando reportagens de fatos históricos de muitos países do continente. A Telesul mostrou na prática que um outro telejornalismo fora do padrão convencional é possível.

Como o Brasil geralmente acompanha as reuniões dos países Não Alinhados na qualidade de observador, certamente o Ministério das Relações Exteriores recebeu algum informe sobre o que se passou na ilha venezuelana de Margarita. Seria muito oportuno que o informe fosse encaminhado ao Presidente Lula e ao Ministro Franklin Martins, que já poderia sugerir que a TV Brasil (não apenas o Canal Brasil Integración, que vai ao ar a partir da uma hora da manhã em TV a cabo) passasse também o noticiário da Telesul em canal aberto.

Agora, mais do que nunca, é necessária a construção de uma nova ordem informativa que possa levar à democratização da comunicação, pois sem isto a democracia na verdadeira acepção da palavra estará distante.
Fonte: Direto da Redação.

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