O capital financeiro e o oportunismo da classe média brasileira.
por jpereira
Aplicadores na Bovespa perderam R$ 438 bilhões em dois meses; mas quem ganhou?
Péricles de Oliveira
O capitalismo concentra sua acumulação agora, na esfera da circulação, no chamado capital financeiro. Os capitalistas banqueiros e os outros que possuem capital na forma de dinheiro são os que hoje acumulam ainda mais. Usam esse dinheiro para comprar ações das empresas que atuam na produção e comércio e, assim, se apropriam de parte do lucro deles. Usam esse dinheiro para emprestar ao governo e dele recebem polpudas taxas de juros.
No caso brasileiro, o governo garante a taxa mínima (chamada de Selic) de 13% ao ano, enquanto esse mesmo capital ganha nos países desenvolvidos apenas 2% de juros ao ano. E esse capital é também aplicado no financiamento das vendas a prazo. Ou seja, ativa o comércio e a produção, mas se apropria de uma alta taxa de lucro, oriunda das taxas de juros cobradas dos incautos consumidores, que para alimentar seu sonho de consumo se sujeitam a pagar muito mais em prestações.
No Brasil, a taxa média de juros cobrada dos consumidores que compram a prazo eletrodomésticos ou carros é de 47% ao ano. Um lucro fantástico!! Lembre-se que a taxa de lucro médio das empresas industriais em todo mundo gira ao redor de 13% ao ano.
Em função disso, entraram no Brasil nada menos que 330 bilhões de dólares para especular, nos últimos dois anos. Aplicaram na Bolsa de Valores, em ações, nos bancos privados para financiar vendas a prazo e emprestaram ao governo brasileiro.
Na onda do lucro fácil, rápido e volumoso, a classe média brasileira ficou enciumada e resolveu também entrar na ciranda financeira. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve as ações valorizadas entre 2003 e 2007 em nada menos do 467%. Ou seja, um investidor que comprou uma ação em 2003 por 1,00 pode revendê-la no final de 2007 por R$ 5,67. Mas esse dinheiro não tem nada a ver com a riqueza produzida. É apenas fruto da especulação entre os capitalistas que apostam ali seu dinheiro, para tentar auferir parte do lucro das empresas.
Diante disso, em 2002, havia 82 mil pessoas que aplicavam dinheiro em ações da bolsa. A vontade de ganhar dinheiro fácil elevou o número de aplicadores para 516 mil pessoas físicas. A maior parte da classe média brasileira, pelo menos da região Sudeste.
Mas o capital financeiro e o capitalismo, como dizia algum técnico de futebol, é para profissionais, e eles não perdoam os incautos. Nesse jogo de especulação, alguns ganham: os bancos, os mais fortes, os que podem especular a longo prazo... E muitos perdem para manter essa taxa de lucro resultante da especulação, já que o dinheiro investido em bolsa não representa aplicação em investimento em patrimônio físico e produção real.
Resultado: os jornais estão noticiando que, em junho e julho de 2008, os aplicadores na Bovespa perderam R$ 438 bilhões, em conseqüência da conjugação das várias crises no capital financeiro. A classe média oportunista, que sonhava ficar mais rica em um rompante, aplicou e perdeu. E alguém ganhou. Certamente os bancos, os fundos de investimento estrangeiros que coordenavam esses recursos e as grandes empresas. A classe média perdeu R$ 438 bilhões em dois meses. E a verdadeira burguesia financeira, brasileira e internacional, apropriou-se disso. E viva a concentração. E viva o capitalismo!
Péricles de Oliveira é economista.
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