Ha 40 anos, enfrentávamos na rua Maria Antonia uma agressão, misto de provocação e conspiração, para nos desalojar do centro político e cultural do movimento estudantil brasileiro - o prédio da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo.
Era, enfim, um foco de luz e de inteligência, e um centro de direção política da luta contra a ditadura. Sua imagem e influência era real não somente sobre o ME, mas sobre o movimento contra a repressão. Nós tínhamos abandonado a greve como instrumento de luta e a substituído pela ocupação das faculdades, transformando-as em centros de agitação política e cultural, de mobilização dos estudantes. A Maria Antonia representava o auge dessa tática de luta.
Durante a ocupação, criamos uma comissão paritária que, após longos meses de debate e estudos, propôs, e o conselho universitário aprovou, uma ampla e geral reforma da Universidade de São Paulo, a USP, como é chamada até hoje. Foi contra isso que a direita do país e a ditadura, tendo como instrumentos grupos paramilitares como o Comando de Caça aos Comunistas, o CCC, a direita estudantil da Universidade Presbiteriana Mackenzie e o Departamento de Ordem Política e Social (DEOPS), do governo de São Paulo.
Desencadearam ali, e então, uma onda de repressão que culminaria no Ato Institucional nº 5, que liquidou o pouco que restava de direitos constitucionais no Brasil. O conjunto residencial da USP, o CRUSP, no campus da Cidade Universitária foi ocupado por tropas militares, e em todo país faculdades e centros acadêmicos foram invadidos, milhares de estudantes presos e todo vestígio de liberdade suprimido.
Em 1993, graças ao apoio de estudantes, dos governos de Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury Filho, de antigos líderes estudantis como ex-ministro da Justiça de FHC, Aloyísio Nunes Ferreira Fillho, de artistas e intelectuais como a atriz Beth Mendes e o escritor Fernando Moraes, não só tombamos o prédio da Faculdade de Filosofia, como criamos uma fundação cultural, o Centro Universitário MariAntonia, que funciona no local, na rua de mesmo nome, nº 294.
Em 1998, ao se completarem 30 anos da edição do nefasto AI-5 (13 de dezembro de 1968), inauguramos uma placa em homenagem aos que deram a vida na luta pela liberdade e pela democracia, que combateram na defesa daquele prédio, símbolo dos sonhos e ideais da geração de 68.
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
ANOS DE CHUMBO - Maria Antônia: sonhos e ideais de 68.
03/10/2008 08:50
Maria Antonia: sonhos e ideais de 68
Por José Dirceu
Depoimento de José Dirceu Clique para ampliar
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