12 de outubro de 1968. Há 40 anos caía o Congresso da UNE, o famoso 30º Congresso, em Ibiúna, no Estado de São Paulo, dando seqüência a escalada repressiva que desencadeara contra o movimento estudantil a ditadura militar e o governo do Estado - com mobilização da força pública, da polícia civil, do DEOPS e dos órgãos de inteligência militar - para cercar o sítio do nosso amigo Simão, velho militante da esquerda, e prender mais de 700 estudantes, delegados e dirigentes do ME de todo Brasil.
As conseqüências dessa prisão em massa de líderes estudantis, além da derrota política da queda do Congresso e de sua não conclusão, foram dramáticas para nossa luta, já que a repressão fichou todos os líderes e passou a usar, nos anos seguintes, essas informações para reprimir a luta de resistência à ditadura. Lógico que ela tinha outros meios para fazê-lo, mas a prisão em massa, além de imobilizar o ME, teve essa conseqüência. Mesmo assim, as lideranças que logo depois foram libertadas, realizaram novo congresso da UNE, em forma de congressinhos estaduais e processos indiretos, e elegeram um novo presidente para a UNE.
No entanto, o movimento estudantil não seria o mesmo e, em 13 de dezembro de 68, o Ato Institucional nº 5 deu aos militares e seus aliados o total controle do país, eliminando todas as liberdades constitucionais, praticamente anulando o próprio judiciário, iniciando a escalada de repressão que durou até 74, quando o povo derrotou a Arena nas urnas e deu ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) um caráter de partido popular, democrático e nacional.
Logo após a edição do AI 5, a ditadura desencadeou uma onda repressiva em todo país, invadindo universidades, conjuntos residenciais, como o CRUSP em São Paulo, e prendendo novamente praticamente todas as demais lideranças. Começou o período de clandestinidade do ME, de exílio e prisão para milhares de estudantes, de resistência armada a ditadura, do uso indiscriminado da tortura e do assassinato político por parte dos órgãos de repressão.
Foram anos duros. Eu, Luis Travassos, Vladimir Palmeira e Antonio Ribas não fomos libertados. O Habeas Corpus que nos daria a liberdade foi revogado pelo AI 5 e ficamos presos até dia 7 de setembro de 69, quando fomos libertados, junto com outros 12 presos políticos em troca do embaixador americano, Charles Burke Elbrick, que havia sido seqüestrado pelas organizações armadas de esquerda. E Antonio Ribas só foi solto alguns anos depois, foi para o Araguaia, onde foi assassinado pela ditadura.
Mas em 76, as ruas de São Paulo e depois de todo país ouviram de novo o grito de guerra dos estudantes em luta pela democracia e pela liberdade -- a “UNE somos nós, a nossa voz”, retomando a luta que culminaria com a campanha pela anistia, as Diretas Já! e o fim da ditadura em 85, e com a Constituinte em 88. A luta democrática e de resistência à ditadura mudou de qualidade com as greves operarias de 77-79, com o surgimento de lideranças sindicais com Lula à frente e com nova vitória da oposição nas eleições de 78, apesar do pacote de Abril, que criava os senadores biônicos para impedir a vitória do MDB no próprio colégio eleitoral da ditadura, nas eleições indiretas, que elegeu o general João Baptista Figueiredo, último ditador de plantão.
A história de Ibiúna tem sido contada em prosa e verso... Deveríamos ou não ter feito um congresso clandestino, por que não fazê-lo aberto como o da UEE de SP, que eu presidia, que foi realizado no CRUSP na presença de 5 mil estudantes, onde obtivemos uma estrondosa vitória que nos dava condições de ser eleito presidente da UNE em Ibiúna? Hoje qualquer um diria: "deveria ser feito aberto". Mas a UNE havia feito dois congressos clandestinos com sucesso em BH e Valinhos, em São Paulo, em seminários da Igreja Católica, e a realização de um congresso nacional aberto em outubro era de alto risco. Daí a decisão de novamente realizá-lo clandestino.
São os fatos e é a nossa história, agora registrada também nas paredes do prédio onde funcionou o DEOPS, onde, ontem, gravamos os nomes dos estudantes que foram presos naquele histórico congresso da UNE e resgatamos a memória dos que deram suas vidas na luta pela liberdade e pela democracia.
Fonte: Blog do Zé Dirceu.
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