Marina Silva diz que não contraria o PT ao apoiar o candidato Gabeira no Rio.
Altino Machado
Ao declarar apoio a Fernando Gabeira (PV), candidato a prefeito do Rio, a senadora Marina Silva (PT-AC) entende que não contraria o apoio de seu partido ao candidato Eduardo Paes (PMDB).
- A decisão do diretório estadual do Rio é de apoio a Eduardo Paes, do PMDB, mas a decisão do Diretório Nacional foi apenas uma recomendação de apoio a ele, já que o Fernando Gabeira, do PV, também faz parte da base aliada no plano nacional - argumenta Marina Silva em entrevista exclusiva ao Blog da Amazônia.
Caso fosse do PT do Rio, Marina Silva teria tomado a mesma decisão? Ela diz que teria defendido com muita firmeza o apoio à candidatura de Gabeira por considerá-lo com o melhor projeto para o Rio e dono de uma trajetória de vida com maior proximidade com as propostas do PT.
A senadora não esconde o desconforto com a opção do “governo da floresta”, comandado no Acre pelo PT, em decorrência da instalação de uma usina para a produção de álcool, ressuscitada na gestão do ex-governador Jorge Viana, e pela prospecção de petróleo que vem sendo realizada no Estado, essa com a salvaguarda do senador Tião Viana.
- Sobre a questão de cana na Amazônia, minha posição é por demais conhecida. Defendo que seja proibida a produção de álcool na Amazônia e que possam funcionar apenas as poucas que infelizmente foram estabelecidas no passado, sem ampliações. No Brasil, a exploração de petróleo deve ser condicionada aos limites estabelecidos na legislação ambiental e indígena. No caso do estado do Acre, essa questão é ainda mais importante, pois mais de 45% do território do estado está coberto por áreas protegidas, que são as unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável e as terras indígenas.
Leia a entrevista:
A senhora disse que foi pessoal a sua decisão de apoiar Fernando Gabeira como candidato a prefeito do Rio. Isso não contraria uma decisão estatutária e consensual do PT?
Não. A decisão do Diretório Estadual do Rio é de apoio a Eduardo Paes, do PMDB, mas a decisão do Diretório Nacional foi apenas uma recomendação de apoio a ele, já que o Fernando Gabeira, do PV, também faz parte da base aliada no plano nacional.
O que o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, argumentou quando a senhora conversou com ele para comunicar a sua decisão?
Disse que compreendia minha decisão e respeitava.
A senhora teria tomado a mesma decisão caso fosse do PT do Rio?
É difícil falar de decisões em cima de hipótese. Se fosse do PT do Rio teria defendido com muita firmeza o apoio à candidatura de Gabeira. No meu entendimento é o que tem, nesse momento, o melhor projeto para o Rio e a trajetória de vida dele tem maior proximidade com as propostas do PT.
Agindo dessa maneira, a senhora abre uma brecha para que outros petistas, em futuras eleições, possam desobedecer uma decisão partidária como a senhora o faz agora?
Não estou desobedecendo uma decisão partidária, pois, como já disse anteriormente, a Direção Nacional do PT não tomou nenhuma resolução quanto a apoio a Eduardo Paes, apenas fez um recomendação. E como já disse em outra oportunidade, recomendação não é imposição.
Durante a CPI dos Correios, Eduardo Paes, o candidato do PMDB a prefeito do Rio, chamou Lula de “chefe de quadrilha”. O julgamendo da “quadrilha” cabe ao STF. Lula se desgasta muito aparecendo no horário eleitoral do Rio como cabo-eleitoral do acusador?
Não dá para avaliar a imagem do Presidente limitando-a apenas a uma posição eleitoral municipal em segundo turno.
A senhora acredita que seja possível a transferência de votos no Brasil?
A transferência não é simples e os eleitores estão cada vez mais atentos quanto às suas escolhas. A transferência não acontece automaticamente. Se estiver associada a um candidato que passe confiança ao eleitorado, o apoio de alguma personalidade ou líder, sem dúvida pode ajudar.
O que constará de essencial no manifesto de ambientalistas que a senhora está articulando em defesa da candidatura de Fernando Gabeira?
Conversei com o próprio Gabeira e com algumas pessoas sobre a idéia de fazer esse manifesto. Acredito ser importante colocarmos elementos de sustentabilidade para as cidades do século XXI, principalmente para o Rio de Janeiro, que é uma espécie de vitrine para o país.
Como é hoje a sua relação com a ministra Dilma Roussef?
A mesma que tinha quando estava dentro do governo. De cordialidade e respeito mesmo quando há posições diferentes.
Ao declarar apoio ao candidato Fernando Gabeira, a senhora argumentou que ele a ajudou, e a Chico Mendes, no amparo ao meio ambiente. E se a candidata do PT a presidência for mesmo Dilma Roussef, cujo perfil não é de amparo ao meio ambiente, a senhora está disposta a apoiá-la de modo envergonhado?
Primeiro não há como pensar o candidato ou candidata falando de si mesmo. Ele ou ela terá que ter como base de sua candidatura um plano de governo. No que depender de mim, o futuro candidato ou candidata do PT à presidencia da República deverá ter uma plano de governo que dê conta dos grandes desafios desse início de século que é desenvolver com preservação e preservar com desenvolvimento.
Como a senhora avalia o desempenho da coligação Frente Popular do Acre nestas eleições? A coligação enfrenta os mesmo percalços que o PT Brasil afora?
Muito bom. Com destaque para a vitória do Raimundo Angelim em Rio Branco, a reconquista de Xapuri com o Bira e até mesmo o crescimento eleitoral da Frente em Cruzeiro do Sul, apesar de não ganhar a prefeitura.
Não vale atribuir como resposta os desígnios de Deus para a pergunta que faço agora. Quais os seus planos em relação ao Acre?
Para mim sempre vale. Pois Ele é que me ajuda a definir cada passo da minha vida. Sou senadora do Acre e pretendo continuar contribuindo com o governador Binho Marques, sobretudo no que concerne ao fortalecimento das organizações sociais e para que continuemos avançando na superação do desafio de promover o desenvolvimento sustentável do estado.
É inegável que o Acre tem melhorado bastante em três gestões do governo petista, mas também é inegável que muito do sonho original se perdeu. Como a senhora avalia o excesso de obras de infra-estrutura, sobretudo a construção de estradas sem planos de mitigação de impactos socioambientas, além da instalação de usina para a produção de etanol e a defesa da prospecção de petróleo no seu Estado?
Desde que a Frente Popular do Acre chegou ao poder em 1998, tenho acompanhado a realização de diversas obras de infra-estrutura no Estado, voltadas para oferta de melhores serviços públicos à sociedade. Não tenho conhecimento da existência de obras inúteis ou em excesso. Também não tenho conhecimento de obras realizadas sem o cumprimento da legislação ambiental no Estado. Sobre a questão de cana na Amazônia, minha posição é por demais conhecida. Defendo que seja proibida a produção de álcool na Amazônia e que possam funcionar apenas as poucas que infelizmente foram estabelecidas no passado, sem ampliações. No Brasil a exploração de petróleo deve ser condicionada aos limites estabelecidos na legislação ambiental e indígena. No caso do estado do Acre, essa questão é ainda mais importante, pois mais de 45% do território do estado está coberto por áreas protegidas, que são as unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável e as terras indígenas.
O senador Tião Viana, principal defensor da prospecção de petróleo, continua pré-candidato a governador do Acre, mas também se cogita no retorno do ex-governador Jorge Viana e até na candidatura à reeleição do governador Binho Marques, com quem a senhora é mais afinada entre todos. A Frente Popular vive um doce dilema ou, como dizem os seringueiros, o apertado da hora quanto ao projeto original de desenvolver o Acre em bases sustentáveis?
Acredito que o fato da população acreana ter boas opções de escolha para governar o Acre nos próximos anos é algo muito positivo, sobretudo quando lembramos de que, num passado não muito remoto, numa época em que o Acre protagonizava escândalos nacionais, algumas vezes a escolha dos nossos representantes era entre o ruim e o menos ruim. A escolha agora ficou menos arriscada. A Frente Popular é uma realidade política que tem mais de 20 anos de existência e já acumulou muita sabedoria para poder lidar com as próximas eleições.
Fonte:Blog da Amazõnia.
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