domingo, 18 de janeiro de 2009

STÉDILE:O MST À ESPERA DE UM OUTRO GOVERNO MAIS À ESQUERDA.

]O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) completa 25 anos neste mês com uma peculiaridade: a de empunhar a bandeira da reforma agrária sem precisar de um registro jurídico como o CNPJ, já que "um movimento social de massa".

A coordenação nacional do MST é enfática: “Os brasileiros que lutaram contra a escravidão, pela criação da Petrobras, pelas reformas de base e pelas Diretas-Já não precisaram de registro jurídico para sair às ruas”.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o economista João Pedro Stedile, de 58anos, coordenador nacional do MST, disse que, sem o apoio da sociedade, o movimento teria acabado. Para 2010, afirmou, os sem-terra esperam a eleição de um governo "mais à esquerda" do que a atual gestão de Lula.

Quando o MST foi criado, em 1984, o sr. imaginava que o movimento chegaria aos 25 anos? Quais foram os momentos mais difíceis nessa trajetória?
Estávamos apenas preocupados em construir um processo unificado de luta pela reforma agrária. Nesses anos, vivemos muitos momentos difíceis. Os piores foram os dois anos do governo Collor [1990-1992] e, depois, os últimos dois anos do governo FHC [2001 e 2002].

E os méritos?
Mais de 500 mil famílias foram assentadas. Essas famílias resolveram seus problemas fundamentais, como trabalho, casa e educação para os filhos. Infelizmente, nem todos conseguiram resolver seus problemas de renda.

Por conta de seu novo foco, contra o agronegócio, e da decepção com o governo Lula, o MST passa pelo momento mais delicado?
Não fomos nós que mudamos, mas o foco do capital na agricultura. A reforma agrária foi bloqueada dentro do neoliberalismo, o que politizou a realidade do campo e o MST. Já tivemos momentos mais ou tão delicados como o atual.

O MST e seus militantes parecem bem mais silenciosos. A consolidação do Bolsa Família contribuiu para enfraquecê-lo?
A imprensa brasileira é que nos silenciou, embora não tenhamos parado de falar. O Bolsa Família é uma política para diminuir a fome de milhares de brasileiros, que estão na miséria e não fazem lutas. Não é a base social do MST. A mobilização em ocupações massivas diminuiu porque a reforma agrária está parada, e as ações do Incra, mais demoradas. As famílias ficam desanimadas.

Pesquisas de opinião mostram que os brasileiros são favoráveis à reforma agrária, mas contrários às invasões e à destruição de laboratórios e plantações. O apoio da sociedade interessa ao MST?
O apoio da sociedade ao MST e à reforma agrária continua muito forte. Se não fosse esse suporte, o MST já teria desaparecido.

Alguns analistas dizem que o eventual retorno de um governo de oposição ao atual faria bem ao MST, pois o movimento não ficaria mais nessa "sinuca de bico" entre atacar ou não um governo aliado. O sr. concorda?
É uma leitura equivocada. Nós sempre votamos em candidatos progressistas e, de preferência, de esquerda. Queremos que o próximo governo seja mais à esquerda do que o governo Lula, que foi um governo de composição política. Mesmo assim, vamos seguir a nossa política histórica de manutenção da autonomia em relação aos governos.
Fonte: Site O Vermelho.

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