segunda-feira, 8 de junho de 2009

FUTEBOL - Os tiros de Saldanha em Manga.

Roberto Porto

Um dos mais curiosos episódios do futebol carioca são, sem sombra de dúvida, os tiros que João Saldanha (1917-1990) deu para espantar o goleiro Manga, que lhe queria tomar satisfações, pois fora acusado de vendido ao Bangu. O Botafogo, clube da paixão de João Saldanha, havia conquistado o Campeonato Carioca de 1957, sobre o Bangu, pelo placar de 2 a 1, e, no jantar de confraternização e comemoração, na sede do Mourisco Pasteur (hoje não mais existe), João Saldanha, lado a lado com Bebeto de Freitas, avançou na direção de Manga, que viera a seu encontro, e atirou duas ou três vezes em direção ao chão, como se avisasse ao goleiro para que não desse mais um passo.

Manga, espavorido, saiu correndo e desapareceu. Sandro Moreyra (1919-1987), brincalhão, disse que naquela noite de quarta-feira de 1967, Manga bateu o recorde mundial do salto em altura, pois os muros do Mourisco tinham cerca de três metros de alto. Não sei se era tanto. Mas quase. Durante a partida – a que assisti de arquibancada, justamente atrás do gol que Manga defendia – João, comentando o jogo para uma emissora de rádio, disse a bem dizer que estava estranhando a atuação de Manga.

A rigor, me recordo de um lance sobre a área em que Manga fez um gol contra, num salto com Del Vecchio, que o árbitro Antônio Viug anulou. Depois desse lance, Gérson mandou Carlos Roberto para o meio-campo, com Zagallo, e ficou nas proximidades da área, jogando atrás dos zagueiros Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir (já falecido). Parecia que Gérson, como João Saldanha, lá das cabines, também estranhava a atuação de seu goleiro. E, como líbero, salvou várias chances de gol do Bangu que tinha um time fortíssimo e lutava pelo bicampeonato carioca naquele domingo.

À noite, na famosa Resenha Facit, que contava com João Saldanha, Luiz Mendes, José Maria Scassa, Vitorino Vieira, Nélson Rodrigues e Hans Henningsen, tornou a atacar Manga e dizer – de maneira bem clara – que o bicheiro Castor de Andrade (‘926-1997) havia subornado o goleiro alvinegro. Em poucos minutos, Castor, que vivia em Copacabana, perto do velho Cassino Atlântico, ocupado pela TV Rio, Canal 13, invadiu o estúdio, protegido por seguranças, e houve xingamentos de parte a parte. Não houve como seguir com a resenha, cancelada em bom momento por Luiz Mendes.

Na quarta-feira à noite houve o tal jantar de comemoração e os famosos tiros que entraram para a história do futebol do Rio. Mas eu não me dei por vencido ou convencido. Consultei livros a respeito da Seleção Brasileira e descobri que Castor de Andrade – escolhido pela então CBD – chefiou, a nove de junho, uma excursão do Brasil em um amistoso no Chile (Seleção Brasileira 1 a 0), com uma delegação composta quase que exclusivamente por jogadores do Botafogo e do Bangu – inclusive Manga.

E pergunto aos leitores do Direto da Redação: não estaria aí o contato entre Castor e Manga, para o título disputado em dezembro? Castor não teria prometido nada a Manga? Não posso afirmar porque nessa viagem fiquei de fora, embora tenha viajado em outra para enfrentar o mesmíssimo Chile no Estádio Nacional. Deixo aos leitores com o com o direito de resposta.

Manga estava ou não vendido? João Saldanha teve apenas desconfiança? E Gérson, que foi jogar de líbero? Ja sem passaram 42 anos e a dúvida perdura.
Fonte:Direto da Redação.

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