segunda-feira, 10 de agosto de 2009

AMÉRICA LATINA - Obama e a América Latina.

Obama e a América Latina: 'Devo ficar ou devo ir'?

Depois de escutar durante uma semana as queixas dos presidentes latino-americanos, Obama decidiu protestar. Após os anúncios econômicos do país que foram notícia em todo o mundo, chamou um grupo de jornalistas de língua espanhola a um salão na Casa Branca e esperou as perguntas.

A reportagem é de Santiago O’Donnell e publicada pelo Página/12, 09-08-2009. A tradução é do Cepat.

Dois temas inquietam os governos latino-americanos. A ditadura hondurenha e o acordo dos Estados Unidos com a Colômbia para usar sete bases americanas desse país. Segundo o correspondente da agencia espanhola EFE, Obama abordou os temas com um meio sorriso. Fez isso parafraseando a memorável frase do grupo de new wave inglês The Clash, a da famosa canção dedicada às relações entre Estados Unidos e América Latina.

Should I stay or should I go? (Devo ficar ou devo ir?)

Obama não usou essas palavras. Disse com mais diplomacia, “alguns dos que têm criticado a ingerência dos Estados Unidos na América Latina se queixam agora de que não está havendo ingerência suficiente”.

Não usou a frase, mas disse o que milhões de estadunidenses pensam quando escutam as queixas, denúncias e insultos, mesclados com demandas, pedidos e súplicas, dos governos e dos povos latino-americanos. Should I stay or should I go?

Dois temas internacionais preocuparam nesta semana aos presidentes sul-americanos. Um unifica, o outro divide.

O que unifica é o golpe em Honduras. Neste tema, a América do Sul tem se comportado como um bloco coeso. Mas o consenso geral é que o tema os supera e que apenas os Estados Unidos pode destravar a situação.

Os Estados Unidos condenou o golpe em Honduras, cortou ajuda militar e dos organismos multilaterais que controla, retirou os diplomatas golpistas da embaixada de Washington e rapidamente credenciou os novos enviados de Zelaya, cancelou os vistos dos principais responsáveis pelo golpe e convenceu um grupo de importantes altos oficiais hondurenhos para que se pronunciasse contra o golpe e a favor de uma solução que contempla a volta de Zelaya.

Os presidentes da América do Sul querem que se faça mais. Ao declarar formalmente que houve “golpe de Estado”, como muitos exigem, por lei, deve retirar o seu embaixador de Tegucigalpa. Mas, os mesmos diplomatas zelayistas que estão em Washington explicaram ao Página/12 que eles não querem que os Estados Unidos retire o seu embaixador, Hugo Llorens, porque Llorens, com seus contatos, é o único capaz de destravar a negociação com os golpistas em favor da volta de Zelaya.

Should I stay or should I go?

O tema que divide a região é o acordo das bases colombianas. O acordo não tem nenhuma relação com Honduras, mas em conseqüência direta com o fechamento da base militar de Manta que os Estados Unidos tinham no Equador, fechada por decisão soberana do governo de Rafael Correa ao expirar o acordo entre ambos os países.

O anuncio do acordo com a Colômbia provocou reações diversas e Uribe, o presidente colombiano saiu em giro disparado pelo continente para firmar a sua postura. Diante de Evo, Cristina, Michelle, Lugo e Lula prometeu que os milicos yanquis não sairão da Colômbia e que as bases militares continuarão sob comando colombiano. Depois explicou que a aliança com os yanquis tem sido útil para obter grandes vitórias contra a guerrilha e que agora quer passar a combater os narcos. E fechou os argumentos, mencionado que a Colômbia tem o direito de fazer o que quer dentro do seu território.

Ao final do giro, a América do Sul, ficou dividida em quatro. Por um lado, os países que Uribe não visitou, Venezuela e Equador, ficaram praticamente inimigos da Colômbia. Equador não mantém relações diplomáticas com a Colômbia faz um ano e a Venezuela vive as congelando a toda hora. Correa não esquece que desde a base de Manta partiram os aviões que bombardearam o acampamento do guerrilheiro colombiano Raúl Reyes em território equatoriano, e Chávez está ofendido porque Uribe o acusa de vender armas para as FARC.

Depois estão os países que receberam Uribe, mas criticaram duramente a sua decisão. Neste grupo se inscreve a Argentina e Bolívia, com o acréscimo de que a Bolívia acaba de aprovar uma Constituição que proíbe expressamente tropas militares estrangeiras no país.

Depois está o grupo de presidentes que se sente preocupado ou não estão de acordo com a decisão de Uribe, mas que reconhecem o direito da Colômbia, e por conseguinte de Uribe de tomá-lo. Aqui se têm com suas devidas matizes, Lula, Lugo e Bachelet.

Should I stay or should I go?

O tema das bases não apenas polariza e mina o processo de integração latino-americana, mas também atrapalha a relação com os Estados Unidos. Prevalece a impressão de que Obama é o mesmo que Bush, mas em pele de cordeiro, então “o novo começo”, chegou a um abrupto final.

O problema é que a América do Sul não parece capaz de resolver por si mesma os dois temas que preocupam e ocupam a seus presidentes. Não pode reverter a decisão de Uribe porque não estão unidos. E não podem superar a ditadura hondurenha porque ainda que unidos não possuem força suficiente para impor a sua vontade para além do canal do Panamá.

Então olham para o norte. Para que se faça em Honduras o que não querem na Colômbia. Para que fique e para que se vá. E Obama protesta:

Should I stay or should I go?

Obama sabe que “should I stay or should I go” é uma brincadeira. A canção foi escrita nos anos 80, nos albores da globalização. Hoje tudo fluí, ninguém fica, ninguém vai. Ademais não se trata de ir ou ficar, nunca se tratou disso, mas sim de fazer as coisas certas, tanto em Honduras como na Colômbia. Obama sabe disso e por isso o meio sorriso.

Mas o mais importante é que protestou, que tomou um tempo, entre a crise econômica, a reforma da saúde, Sotomayor e a façanha de Norcorea para acusar os reclames dos sul-americanos. E o fez sem prepotência, com um toque de humor, firme na Colômbia, mas flexível em Honduras, disposto a fazer concessões. Disse, pela primeira vez, que os Estados Unidos apóiam a restituição de Zelaya e não apenas a “continuidade institucional”, como vinham dizendo os seus porta-vozes.

Should I stay or should I go?

Chacho Alvarez, presidente da comissão de representantes permanentes do Mercosul, opina “stay” em Honduras e “go” na Colômbia. Diz que o tema das bases é preciso tratá-lo de portas fechadas, no marco do bloco regional da Unasul para buscar um consenso que eventualmente leve Uribe a mudar sua decisão: “Traz problemas para a consolidação da Unasul, torna irreconciliável o conflito entre a Colombia e a Venezuela, não é bom para a construção da América do Sul”, assinalou o ex-vice presidente argentino.

Por sua vez, o tema Honduras é preciso levá-lo aos EUA por via da Organização dos Estados Americanos (OEA), diz Alvarez, como uma forma de exercer pressão para que Washington asfixie o regime golpista se fracassa o plano Arias. “É preciso insistir que os Estados Unidos devem pressionar. È preciso colocar com força que o novo começo que prometeu Obama não pode nascer com os Estados Unidos sendo ambíguo”.
Fonte:IHU

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