Leonardo Sakamoto
Renan: - O dedo sujo infelizmente é o de Vossa Excelência [respondendo a Tasso, que pediu para que não apontasse os dedos sujos para ele]. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou.
Tasso havia utilizado recursos referentes à cota de passagens aéreas a que tem direito para o fretamento de jatinhos. Ele também possui um jatinho e disse ter tido autorização para realizar o fretamento de outros. Teria gasto mais de R$ 300 mil entre 2005 e 2007. A história veio a público em abril e, se não fosse Renan, permaneceria a sete palmos. Descansava em paz, como todas as denúncias de maus usos dos recursos de passagens aéreas.
Tasso: - Pelo menos era com o meu dinheiro, o jato é meu. Não é o jato que você anda dos seus empreiteiros. É meu! É meu! É meu! É meu, eu tenho para falar, tá!
Tá, senador, já entendemos, o senhor tem dinheiro para comprar um jatinho… O seu eleitorado no Ceará, Estado que tem um Índice de Desenvolvimento Humano altíssimo por sinal, deve estar orgulhoso do senhor cruzar os céus desse país com todo o conforto. A frase parece daquelas crianças que são as donas da bola: “É minha, faço com ela o que quiser, meu pai que comprou, tá!” Agradeço, contudo, ter lembrado das relações promíscuas do senador Renan com as empreiteiras – que fazem a farra nas licitações das grandes obras que levam esse país para frente…
Em 1º de agosto, famílias que haviam ocupado a fazenda do juiz Marcelo Testa Baldochi foram despejadas por ordem da Justiça do Maranhão. Três dias depois, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocuparam novamente a área. E, ontem pela manhã, foram despejadas pela segunda vez, em uma ação violenta. De acordo com as famílias, o próprio juiz participou dessa segunda ação, auxiliado por 50 policiais militares.
Trabalhadores teriam sido espancados e tiveram pertences, como documentos e roupas, queimados. Dois deles, que foram presos e agredidos, permanecem detidos na delegacia de Santa Inês. Segundo o MST, o clima é de tensão, pois a polícia permanece fazendo guarda e aterrorizando um assentamento que fica próximo ao local.
No dia 12 de setembro, de 2007 o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 25 escravos da fazenda Pôr-do-Sol, no município de Açailândia. Entre elas, havia um adolescente de 15 anos. Os trabalhadores faziam a derrubada da mata e o roço do pasto para o gado, com exceção de duas mulheres, que cozinhavam para o grupo. O dono da propriedade: Marcelo Testa Baldochi, juiz de direito da Comarca de Imperatriz, município vizinho, que tem cerca de 230 mil habitantes.
O grupo móvel chegou ao local depois de denúncia feita no dia 3 de julho, por um trabalhador que havia conseguido fugir. Para o coordenador da ação, o auditor fiscal do trabalho Humberto Célio, o isolamento geográfico, a retenção de salários e a existência de dívida ilegal caracterizaram a situação encontrada como trabalho escravo.
A Pôr-do-Sol fica a 170 km do centro de Açailândia e não há transporte regular entre os dois locais. As pessoas haviam chegado em junho do mesmo ano e não estavam sendo pagas. “Tem gente que recebeu ao todo R$ 10,00, desde que chegou”, disse o auditor. Na cantina, os trabalhadores contraíam dívidas com artigos alimentícios e Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como botas e luvas.
As condições de alojamento eram degradantes e insalubres: as pessoas dormiam numa mesma tapera abandonada, sem água, energia elétrica ou banheiro. “Eles tinham que tomar banho e fazer as necessidades do lado de fora, sem privacidade nenhuma, inclusive as duas mulheres”, lembra Humberto. Segundo ele, a água não tinha condições de uso: para beber, lavar roupa, cozinhar e tomar banho, era preciso trazer água de um poço a 400 metros da casa, e transportá-la em um tambor de armazenar combustível.
Marcelo, que foi denunciado pelo Ministério Público e agiu junto ao Tribunal de Justiça do Maranhão para não ser afastado, chegou a entrar na “lista suja” do trabalho escravo, que relaciona os que foram flagrados usando esse tipo de mão-de-obra e que é usada por bancos e empresas para cortar negócios. Mas saiu devido a um recurso. O Ministério do Trabalho e Emprego atua para devolvê-lo à lista o quanto antes.
Através de sua atuação como juiz, ele também interferiu em um julgamento de outro escravagista: Miguel de Souza Rezende – que já foi flagrado diversas vezes por usar escravos em suas propriedades de gado. Sua ação, de autorizar a mudança de esfera para o julgamento do réu, pode causar prejuízo processual e prescrição do crime de trabalho escravo contra Miguel, segundo o Ministério Público.
Para quem discorda da ocupação da fazenda: saiba que se a Proposta de Emenda Constitucional 438/2001 tivesse sido aprovada, Marcelo provavelmente já estaria enfrentando um processo para que sua propriedade fosse destinada à reforma agrária, sem receber um tostão por isso. A “PEC do Trabalho Escravo”, que prevê o confisco das terras em que escravos forem encontrados, já foi aprovada no Senado e em primeiro turno na Câmara. Mas encontra-se parada por conta da ação da bancada ruralista, contrária a essa medida civilizatória.
Fonte:Blog do Sakamoto.
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