Galvão erra ao recusar comentar Olimpíadas na Sport TV
Pedro do Coutto
A coluna Holofote, Revista Veja que está nas bancas, assinada pelo jornalista Otávio Cabral, revela que Galvão Bueno recusou proposta deste ano em Londres pela Sport TV. A razão é a seguinte: por um desses lapsos que acontecem, a Globo perdeu para a Rede Record o direito de transmissão dos Jogos Olímpicos em TV aberta. Só poderia, no máximo, pelo contrato firmado com o COL, usar imagens diárias de 3 minutos. Não valia a pena.
Então o comando da Vênus Platinada, cuja audiência é igual à das demais emissoras juntas, decidiu usar a televisão paga para as reportagens. Optou pela Sport TV, que pertence ao grupo da família Roberto Marinho. Otávio Cabral informa que, diante de tal perspectiva, Roberto Irineu, diretor geral das Organizações Globo, optou por escalar Galvão Bueno. Ele se recusou.
Se mantiver seu gesto, Galvão terá cometido um erro. No jornalismo não se contestam decisões empresariais, pois existem interesses legítimos, fortes, em jogo. Cada ponto na audiência vale 600 mil residências, praticamente, tratando-se de esporte, cerca de 2 milhões de pessoas. A disputa torna-se intensa pois o reflexo projeta-se no volume do faturamento publicitário.O equívoco do locutor de grande sucesso e repercussão no país amplia-se porque ele próprio, participa de programa de entrevistas no espaço de boa audiência da mesma Sport TV. Portanto atua na Sport TV.
Por que não estaria à vontade narrando os Jogos de Londres através de sua tela? Além do mais, profissionalmente, não se deve contrariar o Cidadão Kane. Ficam mágoas, sensibilidade atingida, o troco pode demandar algum tempo, mas sempre vem. Não só no jornalismo. Mas na vida, de modo geral.Os precedentes confirmam. São muitos.
Resultado da embriaguês do sucesso, aliás título de filme famoso de Alexander Mackendrick, com Burt Lancaster e Tony Curtis. A pessoa de sucesso, digo sempre, deve se policiar, tomar cautela com suas atitudes. Caso contrário, prejudica tanto a empresa para a qual trabalha quanto a si mesmo.
Lembre-se o que aconteceu no carnaval de 84, primeiro do Sambódromo. Bonifácio Sobrinho, o famoso Boni, decidiu que o meio era mais importante do que a mensagem. Resolveu que a Globo não iria transmitir o desfile das Escolas de Samba. Resultado, a Globo, segundo o IBOPE, de apenas 7 pontos, o menor índice de sua história em horário nobre. A TV Manchete alcançou 47 pontos.Não é somente este o exemplo.
Nas eleições de 82, Armando Nogueira, então diretor de Jornalismo da Globo, e Evandro Carlos de Andrade, diretor de Redação de O Globo, deslumbraram e, por isso, tentaram transferir os resultados da eleição para governador do Rio de Janeiro, disputa vencida por Leonel Brizola. Não conseguiram.
O resultado foi péssimo para a Organização Roberto Marinho. Porque não existe no mundo veículo de comunicação, por mais forte que seja – A Organização Globo fortíssima – que seja mais forte do que a verdade. É preciso atenção quando se sonha. Tem que se voltar a colocar os pés no chão. Os sonhos quando se está caminhando na praia, ou quando se está sob o chuveiro, são devaneios. Como se lançássemos pipas ao vento. Neste ponto devemos dizer para nós mesmos: volte para a realidade.
Ricardo Boechat constitui outro exemplo, ao ser dispensado de O Globo, fazia coluna de grande leitura, e da Rede Globo, participava do Bom Dia Brasil. Hoje alcança êxito na Band, tanto no rádio quanto na televisão. A meu ver é o maior fenômeno da Comunicação brasileira. Mas estes são outros fatos.
Galvão errou. Sobretudo porque a TV a cabo hoje está com 12 milhões de assinantes, vinte por cento das residências do país.
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