O descaso de Serra e Joaquim Barbosa com a Justiça
José Serra e Joaquim Barbosa, ex-grandes esperanças brancas, acabam de dar demonstrações eloquentes de descaso com a Justiça. Um velho amigo acupunturista os definiu como legítimos malandros agulha, com o que não concordei.
Barbosa não compareceu ao Supremo na votação dos recursos do ex-deputado João Paulo Cunha e de João Cláudio Genu, ex-assessor do PP. Em todo o julgamento do mensalão, desde 2 de agosto de 2012, foi a única vez em que JB faltou. Terminou em absolvição (seis a quatro no primeiro caso, seis a três no segundo).
Segundo sua assessoria, ele não participou porque “estava trabalhando” e acompanhou tudo “pela TV Justiça”.
Bem, é difícil saber onde começa e termina o cinismo. Até ontem, você achava que Joaquim Barbosa trabalhava naquela plenária do STF. Ok. Ele não trabalha lá. Onde, então? Ele não estava trabalhando nas outras sessões? Jamais saberemos? Ou ele perdeu a causa, fez um alerta aos brasileiros e decidiu que dane-se?
São perguntas que deveriam ocorrer ao cidadão comum. O cidadão comum tem medo de faltar ao trabalho e tem medo da Justiça por razões óbvias — e é bom, até certo ponto, que tenha. Barbosa não tem. Nem Serra.
Serra não compareceu a um depoimento como testemunha em inquérito civil do Ministério Público de São Paulo. Tratava-se de uma ação que apura irregularidades em um contrato firmado pela CPTM em 2008.
Seus advogados alegaram que não tiveram acesso aos autos e que o cliente não foi notificado a tempo. Um executivo da Siemens disse que foi pressionado pelo ex-governador a não interferir em uma licitação de prestação de serviço no setor metroferroviário. A empresa vitoriosa foi a espanhola CAF.
Segundo o jornalista Fausto Macedo, do Estadão, o promotor Cesar Dario Mariano frisou que Serra “não está sendo investigado”. Ele será novamente convidado a depor.
É muito difícil acreditar que os advogados do ex-governador “não tiveram acesso aos autos” e “não foram notificados a tempo”. Serra conhece o assunto e pode colaborar. Há alguns dias, afirmou: “Qualquer manual anticartel nos daria razão. Ganharíamos a medalha anticartel”.
Se ele está tão certo disso, qual o problema em depor, ainda mais como testemunha? Medo não é. Mais provavelmente, a sensação de que ele, como Barbosa, sabe como a Justiça funciona e, portanto, age de acordo com isso: com descaso, quando lhe convém.
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