A guerra das expectativas e a troca de equipes

Mesmo no período militar, em alguns momentos houve um modelo de implementação de política econômica muito próximo do parlamentarismo. Estimulavam-se dois pólos de discussão, a Fazenda e o Planejamento, um mais voltado para o mercado financeiro, outro para os programas estruturantes. Cada qual ficava sob a responsabilidade de um Ministro forte. De tal maneira que, se os planos econômicos se frustrassem, trocava-se o Ministro preservando o presidente do desgaste político.
Esse modelo foi abandonado no governo Figueiredo, após a saída do Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen. Concentrou-se tudo nas mãos do Ministro do Planejamento Delfim Netto, que indicou o MInistro da Fazenda, o presidente do Banco Central e das demais instituições econômicas.
Quando falhou o pacote econômico de 1980, o mundo desabou nas costas do Ministro, do governo e do regime.
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Trocas de Ministros - e de equipes - são instrumentos relevantes para enfrentar a guerra de expectativas com o mercado e a mídia, quando estiver desfavorável para o governo.  Funcionam como amortecedores, como renovação de esperanças, como correções de rotas, reduzindo o desgaste do presidente e diluindo as pressões, que se avolumam na proporção direta da falta de respostas a elas.
Ontem, reportagem do “Estadão” mostrava uma profusão de recordes na equipe econômica: Guido Mantega, o mais longevo Ministro da Fazenda da história; Arno Agustin, o mais longevo Secretário do Tesouro; Luciano Coutinho, do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social); Márcio Holland, da Secretaria de Política Econômica.
Segundo uma “fonte graduada do governo”, a longevidade é benéfica pois “segundo a teoria econômica, a permanência de "policy makers" confere consistência às medidas do governo e, também, dá previsibilidade aos empresários”.
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Ora, em princípio, a única “previsibilidade” assegurada é a da permanência da equipe nos seus cargos, independentemente do sucesso e da previsibilidade da política econômica.
Na política econômica, a previsibilidade é dada por uma linha teórica clara, objetiva, que respalde as medidas a serem tomadas pela equipe no decorrer dos trabalhos. Ou seja, entendido o objetivo a ser perseguido, se as medidas guardarem uma lógica entre si – e com o objetivo proposto – constroi-se a previsibilidade.
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O problema da atual equipe econômica é a imprevisibilidade. Em determinado momento, a prioridade é trazer taxas de juros e câmbio para níveis internacionais, permitindo a volta dos investimentos. No momento seguinte, a prioridade é combater a inflação, ainda que à custa de aumento da Selic.
Ora busca-se a modicidade tarifária nas concessões tabelando o spread dos competidores; depois, deixando que a modicidade seja alcançada através da competição.
Depois, tenta-se contornar a perda da competitividade com um conjunto de isenções, benvindas mas de pouca eficácia para melhorar o PIB.
Renovações são relevantes não apenas para melhorar as expectativas mas para trazer novas ideias, novos discursos, novas apostas no futuro.
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Dilma Rousseff tem dois desafios pela frente: vencer as próximas eleições; e, sendo vitoriosa, administrar o país por mais quatro anos. É uma longa caminhada.