Moralismo a serviço da imoralidade
"Na iminência do debate eleitoral, a canalhocracia se
esforça para grudar em Dilma Rousseff a mancha da
corrupção
Ciro Gomes, CartaCapital
Ciro Gomes, CartaCapital
Certa feita, fui à sala do
presidente da República comunicar que iria romper com ele e com seu partido.
Denunciei, entre outras razões, a corrupção sistêmica instalada em seu governo.
Na data era o Ministério dos Transportes. O responsável, um quadro do PMDB,
claro. A resposta me frustrou muito, mas nunca esqueci. “Ciro, um dia você vai
sentar nesta cadeira”, me disse, em tom acadêmico e apontando para a cadeira
presidencial. “E aí vai ver que o presidente que não contemporizou com o
patrimonialismo, caiu.”
Essa memória me voltou por esses dias com muita força a propósito
do esforço que a picaretagem tupiniquim faz para imputar em Dilma Rousseff a
tisna da corrupção. É, sem dúvida, a agitação moralista a serviço da genuína
imoralidade. Ou, em termos mais populares, são os corruptos na tentativa de
arrastar para o seu universo podre uma pessoa clara e insofismavelmente
decente.
Quem me acompanha sabe que não sou o maior
entusiasta do atual governo. O leitor mais atento conhece minha opinião sobre o
grande despudor com que o condomínio PT-PMDB – sejamos justos, partes grandes
dele – se entranha nas tetas públicas. Mas não é possível calar diante do
despudor com que a canalhocracia assesta suas baterias contra Dilma Rousseff na
iminência do debate eleitoral.
E a resposta dos governistas mais apressados apenas provará ao
povo brasileiro, especialmente aos jovens, aquilo que o preconceito generalizado
afirma para gozo dos plutocratas: não há vida limpa na política brasileira.
Vamos investigar também, além da roubalheira na Petrobras, a roubalheira no
metrô de São Paulo e a roubalheira no porto de Sua-
pe, em Pernambuco. Teríamos assim, das duas uma: ou todos os três grupos que se preparam para disputar a Presidência da República são igualmente sujos e corruptos, ou, o mais provável, “vamos deixar disso” e arquivar tudo. Em um caso e noutro, irresponsáveis, o que os senhores estão fazendo é enterrar a jovem democracia brasileira.
pe, em Pernambuco. Teríamos assim, das duas uma: ou todos os três grupos que se preparam para disputar a Presidência da República são igualmente sujos e corruptos, ou, o mais provável, “vamos deixar disso” e arquivar tudo. Em um caso e noutro, irresponsáveis, o que os senhores estão fazendo é enterrar a jovem democracia brasileira.
Essa absurda compra de uma refinaria sucateada nos Estados Unidos
foi feita em 2006. Por que a mídia só trata desse assunto agora? Aqui mesmo,
neste espaço, em outubro do ano passado, falei mal desse absurdo pela enésima
vez sem que ninguém desse a menor bola. Por que agora? Explico. Dilma resolveu
confrontar o centro da máfia congressual na Câmara dos Deputados, que eu conheço
bastante bem e já denunciei mil vezes sem a menor repercussão.
Em Brasília vive-se em uma ilha da
fantasia em que a ladroeira é segredo de polichinelo. Todo mundo sabe, por
exemplo, como a Petrobras contrata empresas de prestação de serviços e a quem
elas pertencem. E todo mundo sabia que Dilma Rousseff demitiu o grande
“operador” petista Sergio Gabrielli e por quê. Todo mundo sabia que foi ele quem
comprou a tal refinaria no Texas e que a minuta do “negócio” tinha sido levada
ao Conselho de Administração sem as cláusulas aberrantes. Todo mundo sabia que
em 2008 Dilma revelara toda sua indignação com o que se processara e, mesmo
contra outra cláusula aberrante, levou o Conselho a vetar a compra da outra
banda superfaturada, que, enfim, só se consumou por ordem da Justiça arbitral
americana. Por que só agora o escândalo em horário nobre da (sempre ela) Globo?
Por que não se esclarece com a ênfase devida que tudo aconteceu muito antes do
governo Dilma?
Atenção, Eduardo Campos e Aécio Neves, saiam dessa
armadilha. Ela comerá seus corações e fígados como comeu os de Fernando Henrique
Cardoso e os de Lula.
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