Luciana Genro: Psol não pega atalho, e não dará apoio à Dilma ou Marina


Jornal GGN - Com no máximo de 1% das intenções de voto nas pesquisas de opinião, Luciana Genro, candidata do Psol, certamente sairá maior do que entrou nesta corrida presidencial. A ex-deputada federal gaúcha, filha do governador petista Tarso Genro, tem figurado nos debates televisivos e nas redes socias com um discurso de esquerda radical, disparando críticas ferrenhas contra os três principais postulantes ao Palácio do Planalto. Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) são “siameses”, diz Luciana ao telespectador.
Mas se o Psol não for conduzido ao segundo turno, como indicam as pesquisas, quem será o candidato apoiado pelo partido? Na avaliação de Luciana, Dilma e Marina estão descartadas Aécio, nem se comenta. “Claro que isso vai ser discutido no segundo turno, caso a nossa candidatura não esteja lá - e eu costumo insistir muito que depois de junho de 2013, nada é impossível -, mas creio que o Psol vai ter a mesma posição que teve em outros processos eleitorais. Em 2006 e 2010, não apoiamos ninguém”, aponta a candidata, em entrevista exclusiva ao GGN.
Luciana crava que o papel do Psol, à margem do poder Executivo, é permanecer como uma oposição coerente com seus próprios princípios. “Nosso papel é lutar com coerência pelo nosso programa. Não buscar atalhos, como aconteceu no PT - e agora Marina repete de maneira mais explícita -, por exemplo, quando Lula escreveu a carta aos brasileiros para acalmar os mercados e ganhar aceitação do capital financeiro. A Marina faz o mesmo caminho. É um caminho de abandonar suas próprias convicções”, pondera.

Apesar da avaliação sobre o segundo turno, Luciana Genro não nega que há correligionários seus que denotam tanta simpatia por Marina que pedem votos à pessebista a despeito da candidatura presidencial do Psol. Caso de Heloísa Helena, que esteve na mesma posição de Luciana em 2006.
Mas as divergências pessoais e ideológicas no Psol não cessam aí. A própria escolha da cabeça da chapa majoritária este ano enfrentou seus momentos de drama com envolvimento do senador pelo Amapá, Randolfe Rodrigues, que desistiu de ocupar o posto. Em todos os estados, o Psol lançou candidatos a governador, menos no Amapá, onde o grupo de Randolfe costurou uma aliança com Camilo Capiberibe (PSB).
Divergências no Psol e a Frente de Esquerda
Explicando as raízes das divergências internas, Luciana alertou que, como toda boa esquerda, o Psol não é uma massa completamente homogênea do ponto de vista ideológico. A legenda é formada por vários agrupamentos que estão ligados entre si por “afinidades históricas”. "Alguns são de matriz mais Trotskista, outros de uma matriz mais Maoísta, e isso acaba refletindo em algumas diferenças políticas que a gente busca unificar o máximo possível”, relatou.
No processo eleitoral desse ano, dois grandes blocos orbitaram em torno de Randolfe e Luciana, separadamente. “O Randolfe acabou sendo escolhido, mas depois não conseguiu refletir sequer o que o bloco dele pensava. Por isso, acabou renunciando. E aí meu nome foi escolhido por unanimidade”, pontuou.
Randolfe, na época, escreveu uma carte dizendo que gostaria de ver Marcelo Freixo como presidenciável, pois o deputado estadual pelo Rio de Janeiro conseguiria unir a esquerda brasileira em uma massa única, com vistas à eleição.
Segundo Luciana, essa Frente de Esquerda (Psol, PSTU e PCB) sugerida por Randolfe foi discutida na pré-campanha, mas o “óbice foi o próprio Randolfe, que não era aceito como candidato pelo PSTU e o PSB”. Isso porque o senador tenta ser mais moderado e não defende bandeiras da esquerda radical.
“Eu acredito que se eu tivesse sido escolhida desde o início, nós teríamos condições de fazer a Frente de Esquerda. Mas eu entrei muito tarde, o PSTU já tinha lançado candidato, o PCB também, e não tivemos muito tempo de discutir o programa.”

Política no sangue
Luciana Genro entrou no cenário político ainda jovem, pelas mãos do próprio pai. “Ele foi embora para o Uruguai [durante a ditadura militar] quando eu tinha 13 dias de vida. Isso, claro, acabou me marcando de uma forma ou de outra. Eu sempre acompanhei a política. Quando fui para o ensino médio, quis justamente um colégio que tivesse a efervescência do movimento estudantil. O pai, inclusive, não queria que eu fosse. Acabei convencendo ele e fui para um colégio tradicional de militância. Na época, ele me levou para o PRC [Partido Revolucionário Comunista], que era o grupo político dele. Embora tivesse um nome de partido, era um grupo dentro do PT.
Mas na militância, acabei conhecendo outros matizes da esquerda e acabei entrando para a Convergência Socialista, que depois saiu do PT e formou o PSTU. Eu e outros militantes acabamos ficando no PT - achávamos que não era o momento de sair do PT, embora, já tivéssemos desde aquela época uma visão muito crítica do PT. Fiquei como candidata pela primeira vez em 1994, a deputada estadual”, contou. Fazia parte do PRC figuras como Marina Silva, José Genoíno e Aldo Fornazieri, lembrou ela.

Em 2003, deputada federal, Luciana saiu do PT na leva que votou contra a reforma da Previdência durante o governo Lula. Hoje, a advogada de 43 anos assiste à uma situação com a qual parece se divertir muito, na família. Enquanto ela enfrenta a corrida presidencial, seu ex-marido, Roberto Robaina, também do PSOL, enfrenta o ex-sogro na disputa para o governo do Rio Grande do Sul.
Hoje, a socialista reserva críticas ao PT tão ou mais duras do que as críticas que faz ao PSDB e sua agenda mais “elitizada”. “Acho que cada um cumpre o seu papel, mas o PT cumpriu um papel muito nefasto, pelo fato de ser um partido que nasceu da classe trabalhadora. Nasceu como um partido símbolo da esquerda e ao chegar no poder, sucumbiu, se moldou às estruturas tradicionais da política e do poder. Nesse sentido, acabou gerando frustração. Há muitos setores que acham que é impossível governar de forma diferente ao acompanhar essa trajetória do PT. Votam na Dilma de nariz tapado, mas votam achando que não há outra alternativa possível.”