Autor: José Augusto Ribeiro
Do lado, porém, de
alguns defensores mais passionais do governo, surgiu um fenômeno muito
perigoso para a própria Petrobras: a tentativa de negar fatos que estão
fora de dúvida, fatos reconhecidos publicamente até pela Presidente
Dilma Roussef.
Assim como se opôs à
compra de Pasadena, a Aepet se opôs a muita coisa que os governos
impuseram à Petrobras, tanto no período de Fernando Henrique Cardoso
quanto na Era Lula. É o caso, por exemplo, dos leilões de áreas de
exploração de petróleo promovidos pela ANP, sempre organizados em
benefício das multinacionais e em prejuízo da Petrobras.
Ao ceder à chantagem
dos grupos partidários que impuseram e fizeram tudo para manter
diretores como esse inacreditável Paulo Roberto Costa, o governo Lula
cometeu um erro trágico que na verdade teve origem muito antes.
Como ouvi de um amigo e
ex-colega que foi deputado várias vezes pelo PT, Milton Temer, o PT
nunca deu a devida importância à questão nacional, a questão da
soberania do Brasil, e fixou-se apenas na questão social. Por isso, os
governos da Era Lula não tiveram, em relação à Petrobras, a mesma
coragem demonstrada, por exemplo, no desafio que foi a Comissão Nacional
da Verdade. Uma exceção foi o Pré Sal.
Coragem mesmo teve o
então Diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrela,
ao mobilizar todos os recursos disponíveis no que para muitos poderia
parecer uma aventura insensata. Se o Pré Sal desse em nada ou
apresentasse resultados medíocres, isso estaria na lógica e nas
estatísticas da indústria mundial do petróleo: em geral ocorrem mais
fracassos que êxitos em qualquer experiência pioneira como essa.
Estrela, porém, seria crucificado, como exemplo da incompetência das
empresas estatais, e o governo seria acusado de entregar a um
petrossauro, como os chamava Roberto Campos, uma diretoria de tal
responsabilidade. Como o Pré Sal deu muito certo, começou imediatamente a
corrida para transferir a empresas multinacionais a exploração daqueles
recursos, em cuja descoberta elas não tinham investido um centavo de
dólar e nem ao menos uma gota de suor ou um suspiro de inveja.
Foi aí que o governo
Lula teve coragem. Como reconheceu o próprio Estrela em entrevista ao
programa Debate Brasil, da Aepet, Lula e a então Ministra das Minas e
Energia, Dilma Roussef, tiveram a coragem de optar por um novo modelo
legal de exploração dos recursos do Pré Sal, o regime de partilha e não
mais o das concessões. Se a coragem foi grande, a solução não foi a
natural, que seria a outorga integral dos campos do Pré Sal à Petrobras,
sua descobridora única. O regime da partilha pagou pesado pedágio às
multinacionais (e aos interesses dos Estados Unidos), concedendo a elas o
direito de investir em lotes explorados diretamente pela Petrobras, em
áreas nas quais a Petrobras estabeleceu sozinha a certeza de que existe
petróleo. Por esse investimento, as multinacionais terão grandes lucros.
É como se comprassem pelo preço original, de antes do sorteio, bilhetes
de loteria já premiados.
O ideal, no ponto de
vista da Aepet, seria o retorno ao modelo do monopólio estatal do
petróleo, tal como definido pela Lei 2.004, de 1953, que criou a
Petrobras. Sendo isso difícil ou impossível naquele momento, a Aepet
entendeu que o regime de partilha constituía pelo menos um avanço em
relação ao regime das concessões.
Pouco tempo depois
desse avanço, acontece o desastre do escândalo agora denunciado. Ou
seja, tipos menores, como esse Paulo Roberto, põem em grande risco as
realizações de homens de verdade, de coragem e integridade, como
Guilherme Estrela. Esse é o perigo maior para a Petrobrás, o perigo
instalado lá dentro. Os grupos empenhados em acabar com ela nem precisam
de um cavalo de Troia para invadi-la, porque ela não é atacada de fora
para dentro e sim de dentro para fora.
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