A impressionante mediocridade do Plano Levy
Por André Araújo - Como é possível um
Ministro da Fazenda, que no Brasil tem as funções de Ministro de toda a
Economia e não apenas do Tesouro, ter como único foco a questão fiscal,
isso em plena recessão brava e crescente, sem horizonte para terminar?
Não se vê em momento algum uma palavra
do Ministro Levy sobre qualquer outro aspecto da economia como um todo,
produção, vendas, emprego, crescimento, safra, exportação, importação,
investimentos, fabricas, usinas, estradas, portos, nada, é só deficit
fiscal, superavit primario, uma alma de contador de feijões, mas será
que um País pode sobreviver sem alguém dar atenção à economia real, do
chão de fábrica e da terra arada?
Alan Greenspan, que ficou 14 anos no
comando do Banco Central americano, passava toda noite horas na banheira
examinando estatísticas de produção, uma de suas preferidas era o gasto
com telhas, via em cada estatística da ECONOMIA REAL um sinalizador de
botão para apertar, número de aspiradores de pó, de bicicletas, de
ingressos de cinema, tudo para ele era indicativo da atividade
econômica, soltava liquidez na economia de acordo com os números da
economia real, até hoje o Banco Central americano segue essa mecânica de
manejo da liquidez, toda ela manejada em função do emprego. Aqui nosso
BC copiou tanta bobagem como os 45 dias do COPOM, igualzinho ao Fed,
porque não 60 ou 35? Ah não, o Fed faz seu COPOM a cada 45 dias vamos
fazer igualzinho, mas porque não copiam o essencial e não a perfumaria, a
LIQUIDEZ REGIDA PELA PRODUÇÃO E EMPREGO?
Imagine-se em plena Depressão de 1933 se
Roosevelt só falasse em orçamento e receita, nem tocava nisso, sua
única conversa era emprego e como sair da depressão. Tampouco Keynes na
sua famosa carta aberta a Roosevelt publicada no New York Times de 31 de
maio de 1933 tinha alguma preocupação com o orçamento, sua mensagem era
como reavivar o emprego, quais os mecanismos para injetar liquidez na
economia, como levantar a demanda e, daí, reanimar a produção.
Ando muito a pé pelas manhãs, é chocante
o número de pequenos comércios fechados, há quarteirões inteiros na
Augusta em direção aos Jardins, em fila de placas de "Aluga-se", quando
uma loja dessas vai alugar? Nem em uma década. E cada porta fechada
representa o desfazimento de sonhos, de economias arduamente formadas.
Esses pequenos comércios dão o primeiro emprego aos jovens, dão o
primeiro treino e traquejo, são indutores fundamentais.
A desgraça da recessão é infinitamente
maior que a da inflação e no entanto o Plano Levy em conluio com o
Banco Central luta exclusivamente e sem sucesso contra a inflação, a
recessão nem entra no radar e no entanto é este o perigo maior e não a
inflação. O Brasil tem capacidade de produção para aguentar uma injeção
de liquidez de um ou um e meio trilhão de Reais, a inflação pode subir
alguma coisa, mas se criarão rapidamente dois ou três milhões de
empregos e mais importante, para-se o aumento do desemprego que está em
um furor mês a mês, caminhando celeremente para os 12 ou 15%, daí para
20% é um espirro.
Com um emprego é possível suportar mais
alguma inflação, mas com o repontar da atividade aumenta de imediato a
arrecadação, a inflação agua a dívida pública e privada, beneficiando os
devedores e ajuda a reposicionar o gasto público.
Dentre o errado é preciso optar pelo
menos errado mas para isso é preciso ter alma e sensibilidade e não uma
calculadora como instrumento único de gestão da política econômica, esta
é engenho e arte mais que ciência.
No Banco Central precisamos de diretores
afinados com o País e com sua economia como um todo, e não somente com
Wall Street. Quem teve a ideia de trazer um Tony Volpon que passou 30
anos no Canadá e nos EUA para ser diretor do Banco Central em abril de
2015? O que esse senhor, cujos méritos profissionais não discuto, sabe
da realidade da economia brasileira? Faz lembrar o famoso episódio
Paulo Leme, quando o brilhante Armínio Fraga, sem ironia, mas comete
erros, teve a ideia de importar um "estrangeiro" brazuca que mora muito
tempo no exterior para ser diretor do Banco Central. Luis Nassif
abateu-o em pleno voo para tomar posse, mostrando os discursos
anti-brasileiros que ele fazia em Nova York quando diretor do Goldman
Sachs (ainda é hoje). Esses "wall streeters" não servem para cargos que
exigem homens com visão de Estado e de política econômica no seu sentido
mais amplo, são simples operadores de taxas e derivativos, homens de
mesa e não de formulações estratégicas de largo alcance.
Sem jogar liquidez imediatamente para
puxar a demanda não de bens de consumo mas de investimentos em
saneamento, estradas, ferrovias, portos, moradia popular, sistema de
saúde, escolas, sem esse processo não se levanta a economia. Haverá
nenhuma ou pouca inflação porque os fatores de produção para
investimentos estão em casa e são abundantes, tem cimento, ferro,
tijoço, tinta, azulejo, tubos, brita sobrando, não há porque subir preço
por demanda quando a capacidade ociosa é altíssima. Mas para isso
precisa ter o gosto do risco e da aventura, aquilo que Roosevelt tinha
em 1933 e JK tinha em 1955, grandes desbravadores da economia com o
instinto do futuro, pagando apostas com o pescoço.
Pobre Brasil se o que resta é o simpático Levy, muito bom mas para "nóis num serve".
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