sexta-feira, 28 de agosto de 2020

POLÍTICA - Grande Kakay!



Algo curioso aconteceu com a ascensão de figuras monstruosas no poder judiciário como Sergio Moro e Deltan Dallagnol (e, agora, o respectivo declínio). Magistrados, juristas, criminalistas, pensadores do direito sérios resolveram potencializar seus talentos humanísticos e intelectuais para, justamente, se contraporem a essa vergonha histórica que foi ter Moro e Dallagnol (e Lava Jato) desfilando na passarela midiática do punitivismo rupestre.
Em outras palavras: a miséria intelectiva e moral de Moro e Dallagnol abriu espaço para que o direito brasileiro reagisse e mostrasse sua face virtuosa, talentosa, técnica, civilizada, honesta.
O Grupo Prerrogativas é o emblema desse fenômeno (e nasceu justamente para isso, para se contrapor ao assassinato do direito por figuras repulsivas e ridículas como Moro e Dallagnol).
É aquela regra: para toda a doença, cedo ou tarde, chega uma vacina.
A vacina para a pandemia imoral da Lava Jato é o direito de qualidade, consistente, vibrante, democrático.
Essa impressão me foi reforçada com a veia literária e ensaística do criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. O artigo dele "Medo e solidariedade" é uma das peças mais belas já escritas para definir nossas angústias de turno, tantas e tantas que são.
Kakay intermedeia sua reflexão com o que há de melhor na poesia em língua portuguesa, cirúrgico, delicado, generoso, polifônico.
É por essas e outras que não há espaço para conformismo nem ceticismo. O Brasil é talentoso demais para se reduzir a Moros, Dallagnóis e Bolsonaros, certamente a página mais infeliz da nossa história.
Gustavo Conde
Leiam um trecho do artigo de Kakay (e a íntegra, clicando na foto da matéria):
"Estranho país virou o Brasil. Não nos dão o direito, sequer, de fazer o acompanhamento da tragédia da pandemia com a necessária “normalidade” dentro da loucura, do caos que vivemos, que o mundo vive.
O medo do desconhecido, a dor das perdas de vidas, a incredulidade frente aos desencontros dos atores da área científica, da saúde, a preocupação extrema da derrocada econômica, o desemprego, a perplexidade do drama que nos assola, a falta de estrutura por parte da saúde pública, a solidão, enfim, tudo isso que é comum aos cidadãos do mundo todo, no Brasil, ainda é pouco. Nós temos que viver um calvário próprio, as nossas pitadas de um descaso dentro das mazelas já quase incontroláveis.
A deliberada banalização da vida por parte do governo federal, a falta de seriedade no trato da pandemia, a sórdida postura frente aos milhares de mortos, a indiferença com a dor do outro, o desdém com angústia dos que sofrem, o pouco caso, a pilhéria, tudo leva a um estranho sentimento de individualismo que é o contrário do que se espera em um momento como esse. As ações de solidariedade, que brotam e se multiplicam no meio da sociedade, são o inverso dessa postura mesquinha que é a marca desse governo. Nas coisas simples, nos detalhes, as pessoas se revelam nas horas difíceis."

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