Decisão de não punir Pazuello foi o passo mais perigoso dado desde o fim da ditadura, diz Míriam Leitão
03/06/2021
Para a jornalista, o Exército dá um “passo para a anarquia; comete erro que traz consequências graves. Se um general pode desrespeitar as normas disciplinares, o capitão também pode e, no fim, o soldado poderá“, escreve
Na avaliação de Míriam Leitão, no Globo, a decisão do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello é um erro que traz consequências graves. Se um general pode desrespeitar as normas disciplinares, o capitão também pode e, no fim, o soldado poderá. O que o Exército fez agora foi dizer que aceita a pressão de Bolsonaro. O general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira mostra por que foi escolhido para o lugar do general Edson Pujol. Ele aceita a pressão do Planalto.
A nota diz que acolhe os argumentos apresentados por escrito e oralmente pelo general Pazuello. E o que ele disse foi que aquele não era um ato político, dado que o presidente Bolsonaro não tem partido. Para Leitão, o general decidiu fazer o Exército de bobo e o Comando aceitou essa desculpa.
“O Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial general”. Ou seja, concordou com uma explicação totalmente distante da realidade. “Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do general Pazuello”, diz a nota.
O episódio Pazuello é uma linha divisória que o Exército não deveria cruzar. Para Bolsonaro é uma vitória. Ele quer que as instituições o sigam e que abram mão da autonomia. Bolsonaro quer acabar com a diferença entre Estado e governo, e transformar a força terrestre no que ele define como “o meu Exército”.
O vice-presidente Hamilton Mourão foi punido, em 2015, quando fez declarações políticas na época em que estava na ativa. Ele pediu, “o despertar da luta patriótica”, durante o governo Dilma. Perdeu o Comando Militar do Sul, não pode mais falar para as tropas e foi transferido para a Secretaria de Economia e Finanças. Mesmo ele que viveu esse episódio admitiu que Pazuello tinha que ser punido para “evitar que a anarquia se instaure nos quartéis”. Foi o que ele disse logo após os eventos do Rio. Segundo Mourão, aquela era uma manifestação “de cunho político”. E disse que o próprio Pazuello sabia que tinha errado e havia telefonado para por seu “pescoço no cutelo”.
O plano de Bolsonaro sempre foi cooptar as instituições civis e militares da República para o seu projeto político. Ele está seguindo os mesmos passos de Coronel Hugo Chavez que trocou comandos das Forças Armadas e as submeteu ao chamado bolivarianismo. A politização das Forças Armadas, a partidarização das polícias militares, são parte central do projeto de Bolsonaro. O presidente conspira contra a democracia brasileira, enfraquecendo as instituições. E essa quinta-feira foi para ele, “um grande dia”. Para o Brasil foi o passo mais perigoso dado pelas Forças Armadas desde o fim da ditadura militar.
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