Olá,
Quando falamos que o objetivo do Intercept é causar impacto real e mudar vidas, isso se aplica a resultados imediatos, mas alguns casos podem surpreender e continuar impactando por muito tempo. Na última semana, 1 ano e meio depois de seu início, nossa série de reportagens sobre o uso de R$ 33 milhões do dinheiro público em Santa Catarina na compra de respiradores fantasmas gerou mais um desdobramento: o Ministério Público denunciou 14 pessoas envolvidas no escândalo.
A pandemia ainda engatinhava no Brasil quando um pronunciamento do governo de Santa Catarina chamou a atenção do repórter Fábio Bispo, que decidiu investigar a compra-relâmpago de 200 respiradores com uma empresa que nunca tinha fornecido o aparelho. No início, a redação não se interessou muito pelo caso, mas, como editora, farejei a história e insisti que merecia atenção. Com a apuração implacável dos repórteres Fábio Bispo e Hyury Potter, chegamos ao esquema de corrupção milionário — e chocante, por tirar proveito de um item fundamental para a sobrevivência de doentes graves de covid-19!
Vejo esse caso, que rendeu quatro matérias, como uma das investigações mais bem-sucedidas dos 5 anos do site, considerando todos os resultados práticos: investigações foram abertas no Ministério Público e no TCE; uma CPI teve início na assembleia legislativa de Santa Catarina; dois secretários de estado foram afastados e o governador Carlos Moisés ainda enfrentou dois pedidos de impeachment — Moisés chegou a ser afastado, mas conseguiu voltar, aliado aos mesmos políticos que pediram sua cassação. Além disso, boa parte do dinheiro foi devolvida aos cofres públicos.
Agora, ex-secretários do governo, servidores públicos e empresários de SC, MT, RJ e SP vão responder por organização criminosa, estelionato, falsificação de documento, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. É um orgulho enorme fazer parte disso.
É incrível pensar que uma redação ainda enxuta, perto dos grandes jornais do país, consiga articular e executar investigações que mais de um ano depois seguem responsabilizando corruptos. É muito bom botar a cabeça no travesseiro e pensar que nosso trabalho ajudou na investigação de agentes públicos que deveriam trabalhar pela saúde da população, mas que em vez disso usam uma pandemia para enriquecer com a dor alheia. E levantar do mesmo travesseiro com a vontade de fazer mais.
Se o Intercept fosse financiado por governos, empresas, pelo agronegócio e pela indústria, não poderíamos contar histórias como essa. Nem expor como a Coca-Cola vê o Guia Alimentar para a População Brasileira ou as denúncias de ameaças a moradores e inundação da pequena Raul Soares (MG) pela hidrelétrica canadense Brookfield. |
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