Verdades e mentiras no debate eleitoral
Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A entrevista da presidente Dilma Rousseff ao Jornal Nacional, da TV
Globo, na sequência das apresentações de candidatos ao Planalto,
ocorrida na noite de segunda-feira (18/8), deve ser contada como um
ponto favorável ao seu propósito da reeleição.
Talvez intimidados pelo fato de terem que confrontar a presidente no Palácio do Planalto, e não na bancada onde pontificam diariamente, os jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta tiveram um desempenho menos assertivo do que haviam apresentado nas sabatinas anteriores, quando pressionaram os candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB. A série, que foi interrompida na quarta-feira passada (13/8) com a morte de Campos, vinha sendo considerada pela imprensa como um ponto de inflexão, ou, pelo menos, um ponto crítico no trajeto das candidaturas.
No primeiro programa, os dois apresentadores colocaram contra a parede o ex-governador Aécio Neves, questionando o aspecto ético envolvido no uso privado de um aeroporto construído com dinheiro público quando ele governava Minas Gerais. Na segunda entrevista, foi a vez de Eduardo Campos se submeter ao quase interrogatório, mas se saiu melhor que seu antecessor, mesmo tendo que se explicar sobre a nomeação de sua mãe para um cargo vitalício no Tribunal de Contas da União.
O trágico desaparecimento de Campos, no acidente de avião que ocorreu na manhã seguinte, quebrou o efeito comparativo que se poderia fazer entre os três candidatos diante dos dois jornalistas.
Bonner e Patrícia Poeta não aliviaram também para a candidata à reeleição, mas perderam o comando do tempo diante da serenidade com que ela enfrentou as duas primeiras questões. A presidente Dilma Rousseff usou a seu favor o prazo rígido determinado para cada entrevista, e impediu que os entrevistadores ficassem com a última palavra.
Um balanço da série pode indicar que ela se saiu melhor que seu oponente mais próximo, o candidato do PSDB, mas a nova configuração da disputa, com a entrada da ex-ministra Marina Silva no lugar de Eduardo Campos, cria um contexto que precisa ser analisado com cautela.
Oportunismo e hipocrisia
Nas edições de terça-feira (19/8), os três jornais de circulação nacional ainda estudam os números da pesquisa de intenção de voto feita pelo Instituto Datafolha logo após a morte do candidato do PSB. Embora os analistas da imprensa afirmem que a ascensão de Marina Silva, que aparece com mais eleitores do que Aécio Neves, determina com mais certeza a necessidade de um segundo turno, alguns elementos importantes podem estar dizendo o contrário.
Como se sabe, previsões sobre resultados eleitorais só têm algum valor se forem contextualizadas em relação a outros fatores de decisão relevantes no período das consultas. Esse fatores podem ser circunstanciais, como o estado de comoção que se seguiu à morte trágica de Eduardo Campos; conjunturais, como uma crise ou uma percepção de desconforto na economia; ou estruturais, como a persistência de dificuldades crônicas que causam mal-estar a um grande número de cidadãos.
Tais elementos não são necessariamente captados em coletas de intenção de voto, mas podem ter grande influência nas respostas. Além disso, impõem uma leitura cuidadosa dos indicadores obtidos. Por exemplo, quando se escrutina os índices de aprovação de um governo, é preciso levar em conta o contexto comunicacional que o envolve: se esse governo é constantemente bombardeado por críticas da mídia, parte das respostas com valores como “regular” ou “médio” devem ser tomadas como avaliações positivas. Portanto, o índice de aprovação do atual governo é bem maior do que os 38% de “ótimo/bom” apresentado pelo Datafolha.
O quadro político que se iniciou com as primeiras entrevistas de candidatos ao telejornal de maior audiência – e foi impactado pela morte de Eduardo Campos – se consolida num contexto em que a aprovação do governo de Dilma Rousseff se apresenta em recuperação. Nesse cenário, o ingresso de Marina Silva na linha de frente da disputa pode exercer um impacto menor do que fazem crer os analistas da imprensa. Ela terá pouco tempo para fazer o eleitor entender sua proposta de mudança nos paradigmas da política. Além disso, o interesse da imprensa na ex-ministra é apenas oportunismo hipócrita: em conversas privadas, ela é motivo de chacotas preconceituosas por parte de editores e colunistas de jornais.
Talvez intimidados pelo fato de terem que confrontar a presidente no Palácio do Planalto, e não na bancada onde pontificam diariamente, os jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta tiveram um desempenho menos assertivo do que haviam apresentado nas sabatinas anteriores, quando pressionaram os candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB. A série, que foi interrompida na quarta-feira passada (13/8) com a morte de Campos, vinha sendo considerada pela imprensa como um ponto de inflexão, ou, pelo menos, um ponto crítico no trajeto das candidaturas.
No primeiro programa, os dois apresentadores colocaram contra a parede o ex-governador Aécio Neves, questionando o aspecto ético envolvido no uso privado de um aeroporto construído com dinheiro público quando ele governava Minas Gerais. Na segunda entrevista, foi a vez de Eduardo Campos se submeter ao quase interrogatório, mas se saiu melhor que seu antecessor, mesmo tendo que se explicar sobre a nomeação de sua mãe para um cargo vitalício no Tribunal de Contas da União.
O trágico desaparecimento de Campos, no acidente de avião que ocorreu na manhã seguinte, quebrou o efeito comparativo que se poderia fazer entre os três candidatos diante dos dois jornalistas.
Bonner e Patrícia Poeta não aliviaram também para a candidata à reeleição, mas perderam o comando do tempo diante da serenidade com que ela enfrentou as duas primeiras questões. A presidente Dilma Rousseff usou a seu favor o prazo rígido determinado para cada entrevista, e impediu que os entrevistadores ficassem com a última palavra.
Um balanço da série pode indicar que ela se saiu melhor que seu oponente mais próximo, o candidato do PSDB, mas a nova configuração da disputa, com a entrada da ex-ministra Marina Silva no lugar de Eduardo Campos, cria um contexto que precisa ser analisado com cautela.
Oportunismo e hipocrisia
Nas edições de terça-feira (19/8), os três jornais de circulação nacional ainda estudam os números da pesquisa de intenção de voto feita pelo Instituto Datafolha logo após a morte do candidato do PSB. Embora os analistas da imprensa afirmem que a ascensão de Marina Silva, que aparece com mais eleitores do que Aécio Neves, determina com mais certeza a necessidade de um segundo turno, alguns elementos importantes podem estar dizendo o contrário.
Como se sabe, previsões sobre resultados eleitorais só têm algum valor se forem contextualizadas em relação a outros fatores de decisão relevantes no período das consultas. Esse fatores podem ser circunstanciais, como o estado de comoção que se seguiu à morte trágica de Eduardo Campos; conjunturais, como uma crise ou uma percepção de desconforto na economia; ou estruturais, como a persistência de dificuldades crônicas que causam mal-estar a um grande número de cidadãos.
Tais elementos não são necessariamente captados em coletas de intenção de voto, mas podem ter grande influência nas respostas. Além disso, impõem uma leitura cuidadosa dos indicadores obtidos. Por exemplo, quando se escrutina os índices de aprovação de um governo, é preciso levar em conta o contexto comunicacional que o envolve: se esse governo é constantemente bombardeado por críticas da mídia, parte das respostas com valores como “regular” ou “médio” devem ser tomadas como avaliações positivas. Portanto, o índice de aprovação do atual governo é bem maior do que os 38% de “ótimo/bom” apresentado pelo Datafolha.
O quadro político que se iniciou com as primeiras entrevistas de candidatos ao telejornal de maior audiência – e foi impactado pela morte de Eduardo Campos – se consolida num contexto em que a aprovação do governo de Dilma Rousseff se apresenta em recuperação. Nesse cenário, o ingresso de Marina Silva na linha de frente da disputa pode exercer um impacto menor do que fazem crer os analistas da imprensa. Ela terá pouco tempo para fazer o eleitor entender sua proposta de mudança nos paradigmas da política. Além disso, o interesse da imprensa na ex-ministra é apenas oportunismo hipócrita: em conversas privadas, ela é motivo de chacotas preconceituosas por parte de editores e colunistas de jornais.
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