Autor: José Augusto Ribeiro
O Conselho de Administração da
Petrobrás resolveu cortar 25% dos investimentos previstos para os
próximos anos e imediatamente as ações da empresa tiveram uma queda de
9% na Bolsa de São Paulo. Ao mesmo tempo, as cotações internacionais do
petróleo caíram pouco abaixo dos 30 dólares em Nova York.
Essas notícias foram festejadas pela
grande mídia acumpliciada com o pessoal que aproveita qualquer número
negativo, e quanto mais fora de contexto melhor, para convencer a grande
maioria incauta e desinformada de que será melhor para o Brasil ir
privatizando fatia após fatia de nossa indústria petrolífera.
A queda nos preços internacionais do
petróleo é apontada como prova de que empreendimentos da natureza do
Pré-Sal vão se tornando inviáveis para a Petrobrás, porque a venda de
cada barril produzido não cobrirá os custos de produção. Não se diz,
porém, que os custos da Petrobrás no Pré-Sal são muito menores que os
das multinacionais. E, contraditoriamente, o que se recomenda é que as
multinacionais sejam chamadas a operar no Pré-Sal com as mesmas
vantagens que têm nas concessões fora do Pré-Sal. Também não se faz a
pergunta que deveria ser automática: se vai ficando inviável para a
Petrobrás, como será viável para as multinacionais, que, além de tudo,
têm custos muito mais altos?
Já a queda na cotação das ações aparece
como sinal de grande perigo para a Petrobrás, embora a maioria das
ações da empresa pertença e não possa, por lei, deixar de pertencer, à
União, isto é ao país e seu povo, dos quais o governo federal é apenas
procurador com poderes limitados. A cotação, portanto, reflete apenas a
expectativa da minoria de acionistas privados (que são, principalmente,
grandes grupos financeiros) a respeito dos próximos dividendos.
Tudo isso parte do pressuposto de que a
Petrobrás deve ser uma empresa igual à maioria das grandes empresas
privadas, o que ela não é nem pode ser. Se fosse uma empresa privada, a
Petrobrás não poderia ter chegado a sua maior façanha, o Pré-Sal, porque
uma empresa privada teria de dar prioridade à lucratividade de suas
ações, aos dividendos a apurar no próximo balanço, e não poderia correr
os riscos que a Petrobrás correu. E a Petrobrás só pode correr esses
riscos porque seu acionista controlador, a União, não tem como
prioridade receber dividendos e sim que ela cumpra a finalidade para a
qual foi criada: atender, nas melhores condições para a sociedade
brasileira, às suas necessidades de derivados de petróleo. Isso não sou
eu que digo, embora o argumento tenha força por si mesmo. Isso ouvi, em
entrevista para o “Debate Brasil”, do ex-diretor de Exploração e
Produção da Petrobrás, Guilherme Estrela, que apostou tudo no projeto
do Pré-Sal.
Mas quero recorrer, além desse, a outro
depoimento insuspeito, o do ex-Ministro Delfim Neto. Em entrevista ao
programa “Canal Livre”, da TV-Bandeirantes, Delfim foi perguntado sobre
notícias como essas, a respeito da cotação de ações, da queda dos preços
do petróleo e de um suposto valor de mercado da Petrobrás. Delfim foi
absolutamente tranquilizador: “Não esqueçam que o estoque de petróleo
do Pré-Sal continua lá.” Continua lá e não sofreu nenhuma
desvalorização. O valor da Petrobrás é sobretudo o valor de seu estoque
de petróleo, de sua tecnologia e de sua admirável equipe técnica: esse
valor não se altera com a queda nos preços, que está longe de ser
definitiva, até porque os estoques do resto do mundo já estão em
declínio e o petróleo é um recurso finito, que não dá duas safras.
Nem a infiltração dos corsários da Lava
Jato reduz o valor da Petrobrás. É pena que a mídia não diga e a
opinião pública brasileira não saiba quais são os fatos verdadeiros, e
que o país seja mistificado com uma dança de preços que não reflete a
realidade.
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