quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

PETROBRAS - O preço e o valor.


Autor: José Augusto Ribeiro
                 


O Conselho de Administração da Petrobrás resolveu cortar 25% dos investimentos previstos para os próximos anos e imediatamente as ações da empresa tiveram uma queda de  9% na Bolsa de São Paulo. Ao mesmo tempo, as cotações internacionais do petróleo caíram pouco abaixo dos 30 dólares em Nova York.
Essas notícias foram festejadas pela grande mídia acumpliciada com o pessoal que aproveita qualquer número negativo, e quanto mais fora de contexto melhor, para convencer a grande maioria incauta e desinformada de que será melhor para o Brasil  ir privatizando fatia após fatia de nossa indústria petrolífera.
A queda nos preços internacionais do petróleo é apontada como prova de que empreendimentos da natureza do Pré-Sal vão se tornando inviáveis para a Petrobrás, porque a venda de cada barril produzido  não cobrirá os custos de produção. Não se diz, porém, que os custos da Petrobrás no Pré-Sal são muito menores que os das multinacionais. E, contraditoriamente, o que se recomenda é que as multinacionais sejam chamadas a operar no Pré-Sal com as mesmas vantagens que têm nas concessões fora do Pré-Sal. Também não se faz a pergunta que deveria ser  automática: se vai ficando inviável para a Petrobrás, como será viável para as multinacionais, que, além de tudo, têm custos muito mais altos?
Já a queda na cotação das ações aparece como sinal de grande perigo para a Petrobrás, embora a maioria das ações da empresa pertença e não possa, por lei, deixar de pertencer, à União, isto é ao país e seu povo, dos quais o governo federal é apenas procurador com poderes limitados. A cotação, portanto, reflete apenas a expectativa da minoria de acionistas privados (que são, principalmente, grandes grupos financeiros) a respeito dos próximos dividendos. 
Tudo isso parte do pressuposto de que a Petrobrás deve ser uma empresa igual à maioria das grandes empresas privadas, o que ela não é nem pode ser. Se fosse uma empresa privada, a Petrobrás não poderia ter chegado a sua maior façanha, o Pré-Sal, porque uma empresa privada teria de dar  prioridade à lucratividade de suas ações, aos dividendos a apurar no próximo balanço,  e não poderia correr os riscos que a Petrobrás correu. E a Petrobrás só pode correr esses riscos porque seu acionista controlador, a União, não tem como prioridade receber dividendos e sim que ela cumpra a finalidade para a qual foi criada: atender, nas melhores condições para a sociedade brasileira, às suas necessidades de derivados de petróleo. Isso não sou eu que digo, embora o argumento tenha força por si mesmo. Isso ouvi, em entrevista para o “Debate Brasil”, do ex-diretor de Exploração e  Produção da Petrobrás, Guilherme Estrela, que apostou tudo no projeto do Pré-Sal.
Mas quero recorrer, além desse, a outro depoimento insuspeito, o do ex-Ministro Delfim Neto. Em entrevista ao programa “Canal Livre”, da TV-Bandeirantes, Delfim foi perguntado sobre notícias como essas, a respeito da cotação de ações, da queda dos preços do petróleo e de um suposto valor de mercado da Petrobrás. Delfim foi absolutamente tranquilizador: “Não  esqueçam que o estoque de petróleo do Pré-Sal continua lá.” Continua lá e não sofreu nenhuma desvalorização. O valor da Petrobrás é sobretudo o valor de seu estoque de petróleo, de sua tecnologia e de sua admirável equipe técnica: esse valor não se altera com a queda nos preços, que está longe de ser definitiva, até porque os estoques do resto do mundo já estão em declínio e o petróleo é um recurso finito, que não dá duas safras.
Nem a infiltração dos corsários da Lava Jato reduz o valor da Petrobrás. É pena que a mídia não diga e a opinião pública brasileira não saiba quais são os fatos verdadeiros, e que o país  seja mistificado com uma dança de preços que não reflete a realidade.

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