APOLLO NATALI
MENOS, ALCKMIN!
Todo escoteiro faz uma boa ação por dia. Parabéns por ajudar uma velhinha a atravessar a rua, disse o chefe para um deles. Mas, por que você está todo arranhado? --estranhou. Senhor, a velhinha não queria vir de jeito nenhum!
O
governador Geraldo Alckmin vai sair todo arranhado politicamente se
obrigar sua velhinha a atravessar a rua contra a vontade dela. Ou seja,
se impuser contra a vontade de milhares de estudantes, suas famílias,
professores, o que ele batiza de reorganização escolar.
Ele teima em manter as mudanças neste ano novo de 2016 e implantá-las
em 2017. Insiste, mas não convence, de que a reorganização melhora o
ensino.
Melhorar
a Educação e fazer um país forte é isto aqui: pagar melhor os
professores do que os políticos. Qualquer estúpido, como eu, vê que ele
quer é gastar menos com a Educação.
Despoticamente
alheio ao pânico e aos contratempos mil que sua medíocre reengenharia
vai causar a milhares de famílias e seus filhotes, e também aos sempre
desconsiderados professores, ele trama o fechamento de 93 escolas. E
transformar 754 delas em unidades de ciclo único. Fechar uma centena de
escolas melhora o ensino?
Alguns
minutos de navegação nos arquivos do espaço cibernético são suficientes
para se constatar o espírito de tirania até agora manifestado por
Alckmin em episódios marcantes da vida dos cidadãos paulistas. Num
deles, interpretou como ação de baderneiros as super-democráticas
manifestações de rua de 2012 em todo o país. Quantos movimentos de
professores por melhores salários foram reprimidos com violência por
Alckmin em seus três governos autoritários? Pesquisem.
O
governador, do PSDB, partido que em duas décadas no poder não fez
prosperar nada no Estado mais promissor e rico do país, proclama que são
políticos os movimentos contra a sua enganosa reestruturação escolar.
Ora,
governador, cada suspiro de um ser humano neste planeta azul é um ato
político, seja ele cadastrado ou não a um partido. Nunca ouviu falar, em
seus tempos de estudante, que o homem é um animal político? Pelo amor
de Deus, não sabia? Quem falou que apenas o PSDB pode fazer ato político
e para o resto do mundo é crime?
Mudando
de assunto. Me respondam, vocês que me ouvem: que governador paulista
em todos os tempos deixou de pisotear com cavalos e baixar o cassetete
nos professores em suas manifestações?
Voltando
ao assunto. Escolas depredadas, e lá vem Geraldo Alckmin considerar
criminosos os estudantes, no caso todos crianças, apesar da estatura
física. Só um toque, governador: as escolas foram depredadas quando já
tinham sido desocupadas e por baderneiros usando máscaras. O que os
alunos têm é feito melhorias nas escolas. Entre outras, pintá-las por
conta própria. Não sabia?
Menos,
governador, sua velhinha não quer atravessar a rua. Deixe-a em paz. As
crianças-estudantes, seus pais e muito menos os professores não querem a
sua abrupta, policialesca, inconveniente e nem um pouquinho democrática
reestruturação. Ouça a voz das ruas. Fique de bem com a democracia.
E
eu incito a não-violência da PM contra crianças. Exorcize esse seu
pesadelo de que está enfrentando crianças criminosas, governador. O
senhor jogou bombas de gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, gás de
pimenta, cassetetes, até contra meninas! Que horror! E se fosse uma
filha sua?
Na
hora da onça beber água, agora em 2016 e 2017, novas manifestações
poderão acontecer, quem sabe. Então, reconheça isto, governador Geraldo
Alckmin: já não tem mais nenhum cabimento o povo brasileiro ser
pisoteado pela bota de ferro da repressão. Este é outro entulho
autoritário de que deveríamos ter-nos livrado em 1985, quando voltamos à
civilização.
É
paradoxal que se arvore em reorganizador da rede escolar quem mostra
tamanho desconhecimento de nossa História: a ditadura acabou em 1985!
A
truculência como regra no trato das questões sociais virou uma
excrescência na sociedade brasileira. A cidadania a estranha. A
cidadania a rejeita. A cidadania a abomina.
Passou da hora desta obviedade ser reconhecida também no Palácio dos Bandeirantes. Caia em si, governador, pelo amor de Deus! (por Apollo Natali, jornalista e cronista)
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