Santo Aécio recebe um terço... em propina!
Por Altamiro Borges
O santo Aécio Neves, idolatrado pela mídia oposicionista, está bem próximo do fogo do inferno. Na quarta-feira (3), o lobista Fernando Moura, em depoimento ao juiz Sergio Moro, confirmou a existência da sempre negada Lista de Furnas e foi didático ao explicar a distribuição da propina: “É um terço para São Paulo, um terço nacional e um terço do Aécio”. A bombástica declaração, prestada no curso da Operação Lava-Jato, que apura desvios na Petrobras, deixou de ressaca o cambaleante presidente nacional do PSDB e desnorteou a própria imprensa chapa-branca. Num primeiro momento, ela não teve como acionar a sua corriqueira “operação-abafa”. Até o Jornal Nacional da TV Globo abordou, a contragosto, o assunto. Na sequência, porém, a blindagem voltou a funcionar e o assunto já sumiu do noticiário – que segue com sua obsessão para “matar” Lula.
A Folha tucana, que já se esforça para desacreditar a “delação premiada” de Fernando Moura – “o lobista do PT”, que só foi útil e paparicado quando denunciou o ex-ministro José Dirceu – descreveu o explosivo depoimento da seguinte forma: “O nome de Aécio foi citado por Moura quando citou ter ocorrido uma reunião em 2002, logo após a vitória de Lula, onde se discutia a escolha de nomes para a diretoria de diversas estatais, entre elas a Petrobras. A reunião serviria para selecionar cerca de ‘cinco diretorias de estatais’ para alimentar o caixa de campanhas eleitorais futuras”. Ao tratar da indicação para Furnas, ele sugeriu o nome de Dimas Toledo, famoso serviçal do ex-governador de Minas Gerais. “Ainda segundo o lobista, Dimas Toledo, ao assumir a diretoria, afirmou a Moura que ‘em Furnas era igual’, referindo-se a esquema de propina. ‘Ele disse: 'Não precisa nem aparecer aqui. Vai ficar um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio’”.
Já a revista Época, pertencente à famiglia Marinho, foi ainda mais ridícula na manipulação do depoimento. “O lobista Fernando Moura, ligado ao PT, declarou ao juiz Sergio Moro que Furnas era uma estatal controlada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), cujo indicado para a diretoria foi escolhido por ele e aceito pelo governo Lula... Na semana passada, o lobista, que é amigo de longa data do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, mudou pela segunda vez o discurso em sua delação premiada e passou a afirmar que o petista recebia propina de empreiteiras e que sabia que a verba era proveniente de desvios na Petrobras. Na ocasião, ele confirmou que mentiu no depoimento anterior porque se sentiu ameaçado ao ser abordado por um estranho que lhe perguntou ‘como é que estão seus netos no Sul?’”. Ou seja: quase nada sobre o “terço” para o santo Aécio Neves e muito veneno contra Lula e José Dirceu. Nem com esta grave denúncia o “ético” presidente do PSDB virou capa da Época ou da Veja!
Estas manobras da mídia oposicionista, porém, não tranquilizaram a cúpula tucana, que está envolta numa guerra entre os bicudos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Em nota, a assessoria de imprensa do PSDB – que adora as “delações premiadas” e os “vazamentos seletivos” do juiz Sergio Moro – jurou que o senador mineiro-carioca não conhece o lobista Fernando Moura, “réu confesso de diversos crimes”, e anunciou que tomará as providências cabíveis para “desmontar mais essa sórdida tentativa de ligar lideranças da oposição aos escândalos investigados pela Operação Lava Jato”. Já o cambaleante Aécio Neves, vitimado pela overdose de más notícias, disse estar “indignado” com a menção do seu nome e choramingou: “Estou sendo alvo de declarações criminosas, feitas por réus confessos e que se limitam a lançar suspeições absurdas. A reputação de pessoas sérias não pode ficar refém de interesses inconfessos”. Pausa para chorar... de rir!
Em tempo: O santo Aécio Neves não deve ficar tão abalado com a denúncia sobre o terço... de propina. Afinal, como dizem na internet, basta ser filiado ao PSDB para não ser investigado, julgado, condenado e, muito menos, preso. Que o diga seu filhote Antonio Anastasia, ex-governador de Minas Gerais e coordenador da sua derrotada campanha presidencial. Na semana passada, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), confirmou o arquivamento do inquérito que investigava a participação do senador no “mensalão tucano” – que a mídia chapa-branca batizou carinhosamente de “mensalão mineiro”. Ele alegou “falta de provas”, apesar da farta documentação apresentada pela Polícia Federal. Além disto, o cambaleante Aécio Neves ainda contará com a cumplicidade, já histórica, da mídia oposicionista. Como afirma o líder dos sem-teto Guilherme Boulos, em artigo publicado na Folha nesta quinta-feira (4), a imprensa e o Judiciário amam os tucanos. Vale conferir:
*****
Pau que bate em Luiz bate em Fernando?
No apagar das luzes de seu mandato, o ex-presidente promoveu um jantar no Palácio do Planalto para a nata do PIB nacional – Odebrecht, Gerdau, Lázaro Brandão, entre outros - com direito a vinho francês e refinado menu. Mas o prato principal era obter dinheiro para o financiamento de seu instituto após sair da Presidência. Conseguiu naquela noite a bagatela de R$ 7 milhões.
O filho do ex-presidente teve as contas de um hotel de luxo em Ipanema, onde morou por certo período, pagas por um grupo empresarial do setor têxtil. Andava pra lá e pra cá de BMW e tinha um jatinho permanentemente à sua disposição. Isso tudo com o pai ainda na Presidência da República.
O ex-presidente e seu partido foram acusados por certo senhor, que foi seu Ministro de Estado e figura ativa na campanha eleitoral, de terem apropriado nada menos que R$ 130 milhões de sobras de campanha em sua primeira eleição, sendo R$ 100 milhões de caixa dois. Disse ainda que o recurso foi provavelmente enviado ao exterior.
O nome deste ex-presidente é Fernando Henrique Cardoso. O filho pródigo é Paulo Henrique Cardoso. E o acusador dos desvios na campanha de 1994 é José Eduardo de Andrade Vieira, banqueiro que foi ministro da Agricultura de FHC.
Nenhum desses fatos é novidade. Mas não renderam dez minutos no "Jornal Nacional" por dias a fio nem repetidas manchetes da Folha. Não fizeram também com que FHC e seu filho fossem intimados a depor pelo Ministério Público.
Se fosse o Lula...
Aliás, o mesmo Ministério Público de São Paulo que intimou Lula e sua esposa não denunciou nenhum agente político no escândalo do "trensalão" tucano e arquivou o caso das irregularidades no monotrilho, que apareciam numa planilha apreendida com Alberto Youssef.
Seguindo a toada, o Ministério Público de Minas Gerais também pediu o arquivamento do caso do aeroporto de Claudio. O então governador Aécio Neves (PSDB) desapropriou a fazenda de seu tio para construir um aeroporto, cuja chave (do aeroporto "público") ficava em poder de sua família. O MP mineiro não viu motivo algum para intimar Aécio ou oferecer denúncia.
FHC é tratado pela mídia como grande estadista e nunca foi incomodado pelo MP ou pela Polícia Federal. Em seu governo, aliás, ambos eram controlados na rédea curta. Suas transações com o pecuarista e empresário Jovelino Mineiro, seja na controversa fazenda de Buritis (MG), seja na hospedagem frequente em apartamento na capital francesa, nunca geraram grande alarde. Atibaia desperta mais interesse que Paris.
Aécio, por seu lado, desfila em Brasília como defensor da moralidade. Tal como FHC é aplaudido em restaurantes e não tem porque se preocupar com investigações. Seu nome apareceu em mais de uma delação da Lava Jato, mas não cola.
Em relação a Lula, a disposição é outra. Uma canoa vira iate. E o depoimento de um zelador é tratado como condenação transitada em julgado.
É verdade que Lula e o PT pagam o preço de suas escolhas. Não enfrentaram em seu governo a estrutura arcaica do sistema político brasileiro, onde interesses públicos e privados sempre conviveram promiscuamente. Mantiveram intocado o monopólio midiático empresarial, que hoje os dilacera. E optaram por uma aliança com a elite econômica, pensando talvez que seriam tratados como os "de casa". Chocaram o ovo da serpente.
Mas criticar suas escolhas estratégicas - como é o caso aqui - não significa legitimar um linchamento covarde e com indisfarçado interesse político. Se há acusações em relação a favorecimentos da OAS ou da Odebrecht, que Lula seja investigado. Como Fernando Henrique nunca foi e os grão-tucanos não costumam ser.
Contudo, investigação - e jornalismo investigativo - não podem carregar as marcas das cartas marcadas e da seletividade. Definir que Lula é o alvo e, depois, fazer uma devassa pelo país em busca de um argumento factível é transformar investigação em achincalhamento e argumento em pretexto.
Como gosta de dizer um famoso morador de Higienópolis: "assim não pode, assim não dá".
*****
O santo Aécio Neves, idolatrado pela mídia oposicionista, está bem próximo do fogo do inferno. Na quarta-feira (3), o lobista Fernando Moura, em depoimento ao juiz Sergio Moro, confirmou a existência da sempre negada Lista de Furnas e foi didático ao explicar a distribuição da propina: “É um terço para São Paulo, um terço nacional e um terço do Aécio”. A bombástica declaração, prestada no curso da Operação Lava-Jato, que apura desvios na Petrobras, deixou de ressaca o cambaleante presidente nacional do PSDB e desnorteou a própria imprensa chapa-branca. Num primeiro momento, ela não teve como acionar a sua corriqueira “operação-abafa”. Até o Jornal Nacional da TV Globo abordou, a contragosto, o assunto. Na sequência, porém, a blindagem voltou a funcionar e o assunto já sumiu do noticiário – que segue com sua obsessão para “matar” Lula.
A Folha tucana, que já se esforça para desacreditar a “delação premiada” de Fernando Moura – “o lobista do PT”, que só foi útil e paparicado quando denunciou o ex-ministro José Dirceu – descreveu o explosivo depoimento da seguinte forma: “O nome de Aécio foi citado por Moura quando citou ter ocorrido uma reunião em 2002, logo após a vitória de Lula, onde se discutia a escolha de nomes para a diretoria de diversas estatais, entre elas a Petrobras. A reunião serviria para selecionar cerca de ‘cinco diretorias de estatais’ para alimentar o caixa de campanhas eleitorais futuras”. Ao tratar da indicação para Furnas, ele sugeriu o nome de Dimas Toledo, famoso serviçal do ex-governador de Minas Gerais. “Ainda segundo o lobista, Dimas Toledo, ao assumir a diretoria, afirmou a Moura que ‘em Furnas era igual’, referindo-se a esquema de propina. ‘Ele disse: 'Não precisa nem aparecer aqui. Vai ficar um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio’”.
Já a revista Época, pertencente à famiglia Marinho, foi ainda mais ridícula na manipulação do depoimento. “O lobista Fernando Moura, ligado ao PT, declarou ao juiz Sergio Moro que Furnas era uma estatal controlada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), cujo indicado para a diretoria foi escolhido por ele e aceito pelo governo Lula... Na semana passada, o lobista, que é amigo de longa data do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, mudou pela segunda vez o discurso em sua delação premiada e passou a afirmar que o petista recebia propina de empreiteiras e que sabia que a verba era proveniente de desvios na Petrobras. Na ocasião, ele confirmou que mentiu no depoimento anterior porque se sentiu ameaçado ao ser abordado por um estranho que lhe perguntou ‘como é que estão seus netos no Sul?’”. Ou seja: quase nada sobre o “terço” para o santo Aécio Neves e muito veneno contra Lula e José Dirceu. Nem com esta grave denúncia o “ético” presidente do PSDB virou capa da Época ou da Veja!
Estas manobras da mídia oposicionista, porém, não tranquilizaram a cúpula tucana, que está envolta numa guerra entre os bicudos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Em nota, a assessoria de imprensa do PSDB – que adora as “delações premiadas” e os “vazamentos seletivos” do juiz Sergio Moro – jurou que o senador mineiro-carioca não conhece o lobista Fernando Moura, “réu confesso de diversos crimes”, e anunciou que tomará as providências cabíveis para “desmontar mais essa sórdida tentativa de ligar lideranças da oposição aos escândalos investigados pela Operação Lava Jato”. Já o cambaleante Aécio Neves, vitimado pela overdose de más notícias, disse estar “indignado” com a menção do seu nome e choramingou: “Estou sendo alvo de declarações criminosas, feitas por réus confessos e que se limitam a lançar suspeições absurdas. A reputação de pessoas sérias não pode ficar refém de interesses inconfessos”. Pausa para chorar... de rir!
Em tempo: O santo Aécio Neves não deve ficar tão abalado com a denúncia sobre o terço... de propina. Afinal, como dizem na internet, basta ser filiado ao PSDB para não ser investigado, julgado, condenado e, muito menos, preso. Que o diga seu filhote Antonio Anastasia, ex-governador de Minas Gerais e coordenador da sua derrotada campanha presidencial. Na semana passada, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), confirmou o arquivamento do inquérito que investigava a participação do senador no “mensalão tucano” – que a mídia chapa-branca batizou carinhosamente de “mensalão mineiro”. Ele alegou “falta de provas”, apesar da farta documentação apresentada pela Polícia Federal. Além disto, o cambaleante Aécio Neves ainda contará com a cumplicidade, já histórica, da mídia oposicionista. Como afirma o líder dos sem-teto Guilherme Boulos, em artigo publicado na Folha nesta quinta-feira (4), a imprensa e o Judiciário amam os tucanos. Vale conferir:
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Pau que bate em Luiz bate em Fernando?
No apagar das luzes de seu mandato, o ex-presidente promoveu um jantar no Palácio do Planalto para a nata do PIB nacional – Odebrecht, Gerdau, Lázaro Brandão, entre outros - com direito a vinho francês e refinado menu. Mas o prato principal era obter dinheiro para o financiamento de seu instituto após sair da Presidência. Conseguiu naquela noite a bagatela de R$ 7 milhões.
O filho do ex-presidente teve as contas de um hotel de luxo em Ipanema, onde morou por certo período, pagas por um grupo empresarial do setor têxtil. Andava pra lá e pra cá de BMW e tinha um jatinho permanentemente à sua disposição. Isso tudo com o pai ainda na Presidência da República.
O ex-presidente e seu partido foram acusados por certo senhor, que foi seu Ministro de Estado e figura ativa na campanha eleitoral, de terem apropriado nada menos que R$ 130 milhões de sobras de campanha em sua primeira eleição, sendo R$ 100 milhões de caixa dois. Disse ainda que o recurso foi provavelmente enviado ao exterior.
O nome deste ex-presidente é Fernando Henrique Cardoso. O filho pródigo é Paulo Henrique Cardoso. E o acusador dos desvios na campanha de 1994 é José Eduardo de Andrade Vieira, banqueiro que foi ministro da Agricultura de FHC.
Nenhum desses fatos é novidade. Mas não renderam dez minutos no "Jornal Nacional" por dias a fio nem repetidas manchetes da Folha. Não fizeram também com que FHC e seu filho fossem intimados a depor pelo Ministério Público.
Se fosse o Lula...
Aliás, o mesmo Ministério Público de São Paulo que intimou Lula e sua esposa não denunciou nenhum agente político no escândalo do "trensalão" tucano e arquivou o caso das irregularidades no monotrilho, que apareciam numa planilha apreendida com Alberto Youssef.
Seguindo a toada, o Ministério Público de Minas Gerais também pediu o arquivamento do caso do aeroporto de Claudio. O então governador Aécio Neves (PSDB) desapropriou a fazenda de seu tio para construir um aeroporto, cuja chave (do aeroporto "público") ficava em poder de sua família. O MP mineiro não viu motivo algum para intimar Aécio ou oferecer denúncia.
FHC é tratado pela mídia como grande estadista e nunca foi incomodado pelo MP ou pela Polícia Federal. Em seu governo, aliás, ambos eram controlados na rédea curta. Suas transações com o pecuarista e empresário Jovelino Mineiro, seja na controversa fazenda de Buritis (MG), seja na hospedagem frequente em apartamento na capital francesa, nunca geraram grande alarde. Atibaia desperta mais interesse que Paris.
Aécio, por seu lado, desfila em Brasília como defensor da moralidade. Tal como FHC é aplaudido em restaurantes e não tem porque se preocupar com investigações. Seu nome apareceu em mais de uma delação da Lava Jato, mas não cola.
Em relação a Lula, a disposição é outra. Uma canoa vira iate. E o depoimento de um zelador é tratado como condenação transitada em julgado.
É verdade que Lula e o PT pagam o preço de suas escolhas. Não enfrentaram em seu governo a estrutura arcaica do sistema político brasileiro, onde interesses públicos e privados sempre conviveram promiscuamente. Mantiveram intocado o monopólio midiático empresarial, que hoje os dilacera. E optaram por uma aliança com a elite econômica, pensando talvez que seriam tratados como os "de casa". Chocaram o ovo da serpente.
Mas criticar suas escolhas estratégicas - como é o caso aqui - não significa legitimar um linchamento covarde e com indisfarçado interesse político. Se há acusações em relação a favorecimentos da OAS ou da Odebrecht, que Lula seja investigado. Como Fernando Henrique nunca foi e os grão-tucanos não costumam ser.
Contudo, investigação - e jornalismo investigativo - não podem carregar as marcas das cartas marcadas e da seletividade. Definir que Lula é o alvo e, depois, fazer uma devassa pelo país em busca de um argumento factível é transformar investigação em achincalhamento e argumento em pretexto.
Como gosta de dizer um famoso morador de Higienópolis: "assim não pode, assim não dá".
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