| Há alguns meses, o presidente Lula e ministros afirmavam que o país se encontrava `blindado` contra os efeitos da crise que se esboçava a partir dos Estados Unidos, em decorrência da chamada crise do seu setor imobiliário. Trata-se de crise muito mais grave, envolvendo o sistema financeiro como um todo. Com a desegmentação dos mercados financeiros, torna-se muito difícil a identificação precisa das dimensões de créditos financeiros concedidos, sem as devidas garantias oferecidas por empresas que se especializaram na expectativa dos lucros fáceis, viabilizados por um longo período de excesso de liquidez, valorização de ativos e expansão do crédito. Nesta semana, quando divulgado o relatório anual do BIS - O Banco de Compensações Internacionais, interlocutor privilegiado dos bancos centrais de todo o mundo, a descrição da complexidade do imbróglio pode ser avaliada a partir do seu seguinte trecho: `empréstimos de qualidade cada vez pior foram concedidos, e então vendidos para os crédulos e gananciosos, com esses últimos freqüentemente recorrendo à alavancagem (empréstimos junto a terceiros) e ao financiamento de curto prazo para elevar ainda mais os seus lucros. Somente isto já é uma grave fonte de vulnerabilidade. Pior, a obscuridade do processo implica que a localização final das exposições nem sempre é evidente.` Em outro trecho do relatório, é descrito que `a atual confusão no mercado dos principais centros financeiros do mundo é inédita no período do pós-guerra`, e, ainda, `com o risco significativo de recessão nos Estados Unidos combinado com a alta acentuada da inflação em muitos países, crescem os temores de que a economia global estaria em algum ponto de virada. Esses temores não são improcedentes`. Mais claro impossível. O que não fica esclarecido é que nos últimos vinte anos, junto com a expansão formidável, e irresponsável, do mercado especulativo financeiro, a grande novidade apresentada pelos bancos centrais - cada vez mais comandados pelos `responsáveis` homens de confiança do próprio mercado - foi o desenvolvimento e a propaganda das virtudes de uma rotulada regulação prudencial, em torno dos chamados Acordos de Basiléia. Esses acordos objetivavam exigências de capital mínimo relativo, especialmente voltadas para os riscos de crédito e mercado, com atenção para os riscos de taxa de juros, de operações temerárias e de liquidez. Talvez, por essa razão, o referido relatório faça menção a um `imenso sistema bancário paralelo`. O que não deixa de ser também um verdadeiro absurdo, pois se o BIS se refere aos mercados de derivativos, não há como livrar de responsabilidades esses mesmos bancos centrais - e o próprio BIS - que não somente permitiram e incentivaram esses mercados, como difundiram a idéia de mecanismos regulatórios que inibiriam a eclosão de crises sistêmicas financeiras. |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
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