segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O OUTRO LADO DO MASSACRE.

O outro lado do massacre: A versão de Nasrallah

A amiga Caia Fittipaldi tem feito um trabalho de tradução de matérias e reportagens que não estão sendo publicadas no Brasil. Ela os têm divulgado em sua lista pessoal. Publico na sequência, a última tradução de Caia, onde um discurso de Hassan Nasrallah, líder do Hizbóllah é trazido à tona. Vale à pena conferir a versão dos que não têm voz na mídia ocidental.

Nasrallah, Fanon & o Martírio de Gaza 29/12/2001, Halake, de Londres, via jornal de Gâmbia, África

Tradução: Caia Fittipaldi

Meu filho de 11 anos, seu tio que chegou de Gâmbia e eu sentamos colados à televisão, há dois dias, dia 27/12, para ouvir Hassan Nasrallah, do Líbano. Falou sobre o Imam Hussein, reverenciado neto do Profeta Maomé. Nasrallah ensinou a ver o massacre dos palestinenses de Gaza, pelos israelenses, em contexto histórico e religioso.

Hassan Nasrallah, líder do Hizbóllah no Líbano, respeitadíssimo e reverenciado em todo o Oriente Médio e na África muçulmana, faz-me lembrar o falecido grande Frantz Fanon.

Para Hassan Nasrallah, a resistência, no Oriente Médio, contra o imperialismo israelense-norte-americano, a exploração e a opressão, deve ser analisada num contexto religioso. Frantz Fanon analisava a mesma situação, para nós, africanos, de um ponto de vista secular, durante nossa luta contra o colonialismo anglo-europeu, a exploração e o racismo.

A conclusão de ambos, nos dois casos é surpreendemente semelhante, simples e clara: não há meio fácil para conquistar a liberdade (Nelson Mandela) e a estrada até a liberdade e o direito é muitas vezes lavada pelo sangue dos que têm de se libertar, eles mesmos.

Hassan Nasrallah aproxima sua análise, sobre a situação atual do Oriente Médio, e uma história fácil de comunicar, que todos logo entendem, da vida de uma figura histórica e religiosa muito reverenciada – Imam Hussein (“E eu que pensava que os americanos tinham enforcado Hussein, no Iraque!" comentou meu filho Hassan. Filhos! Televisão!).

Frantz Fanon fundamenta análise semelhante, igualmente certeira, em eventos mais recentes: a brutalidade da opressão francesa no Vietnam antes de os americanos chegarem lá com mais bombas, sobre aquele país que Hitler explorou durante toda a II Guerra Mundial.

Os EUA jogaram mais bombas no Vietnam do que a Alemanha Nazista consumiu durante TODA a II Guerra Mundial. O exército dos EUA também foi o primeiro exército do mundo a usar armas químicas contra civis, no Vietnam (guerra em que, tantos esquecem, os EUA foram derrotados). Escreva "napalm" no Google e leia a história das armas químicas que os EUA usaram contra o povo do Vietnam.

Fanon também sabia do modo selvagem como os ingleses responderam ao justo desejo de liberdade dos quenianos (os “Mau Mau”) e conhecia, é claro, a brutalidade do apartheid na África do Sul e no Zimbabue. Como é fácil esquecer, hoje, que Mandela e Mugabe estiveram na listas dos "terroristas" do governo inglês e do governo dos EUA...

Fanon lutou, como escreveu, ao lado da heróica resistência dos argelinos, contra a brutalidade dos franceses (A "França Livre", suponho que não por amor, mas por ódio à liberdade, matou UM MILHÃO de argelinos da resistência, DEPOIS de os próprios franceses terem sido salvos de Hitler por interferência da comunidade internacional, ANTES de os franceses serem obrigados a libertar a Argélia. O que nos leva de volta a Gaza, onde...

Israel nasceu porque o mundo horrorizou-se com a matança de judeus europeus e com o que viu nos campos de concentração de Hitler.

Hoje, Israel é vista, pelo mundo, como a Alemanha nazista, como nação genocida, que está matando o povo da Palestina, num campo de concentração sem saídas chamado Gaza.

Hassan Nasrallah conclui, dizendo que o mundo árabe tem de manter-se unido e lutar por sua liberdade.

O que se passa em Gaza é, em primeiro lugar, uma luta pan-árabe contra o imperialismo, a exploração e a opressão. Ninguém jamais virá de fora para libertar um oprimido, um escravo. A tarefa de libertar-se é tarefa de cada oprimido, de cada escravo.

A tarefa, disse Hassan Nasrallah, cabe aos militantes do pan-arabismo – como tantas vezes disse o grande líder árabe Abdel Gamal Nasser, sim, do Egito.

Hoje, nações como o Egito, a Jordânia e a Síria erram, se crêem que, por entregar Gaza e o Líbano ao crocodilo israelense, evitarão que, depois, o mesmo crocodilo as devore. Israel e os EUA já estão de olhos postos na Síria e no Iran, como seus próximos alvos.

Como disse Hassan Nasrallah, é dever dos árabes e de todos os árabes, unir-se e lutar. Os amantes da liberdade em todo mundo, também nos EUA e na Inglaterra, saberão solidarizar-se com os que resistam à opressão.

(Agora, em Londres, enquanto ouvimos a fala de Hassan Nasrallah, ao vivo pelo canal PRESS TV, ouvem-se helicópteros sobrevoando essa parte de Londres. Houve um gigantesco protesto em frente à embaixada de Israel e a polícia prendeu 10 pessoas).

Arrisco-me a desejar "Feliz 2009”? Sim, claro! Porque "a esperança de mudança anima todos os corações humanos". Feliz Ano Novo!

Comecemos por esperar que a "Ousadia da esperança" de que falou Barack Hussein Obama, não se converta, em pouco tempo, em covardia da esperança.
Fonte: Blog do Rovai.

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