Marina Silva precisa devolver a palavra “pragmático” ao dicionário antes que seja tarde.
Em entrevista ao Jô Soares, Marina voltou ao seu quebra cabeça idiomático.
A
conversa teve um bom momento. Como era de se supor, foi um papo à
vontade, em que o apresentador só levantou a bola para a candidata do
PSB cortar. Marina lembrou seus tempos com o ambientalista Chico Mendes,
seu mentor, e parecia genuinamente emocionada. Até o tom de voz --
alto, em geral -- diminuiu.
A
dureza é quando se entra no chamado campo das ideias. Das propostas. Aí
é um deserto de mistificação. E vem sua obsessão: a “governabilidade
programática”. A importância, em sua opinião, da separação entre o
“pragmático” e o “programático”. É uma conversa para boi dormir, digna
dos melhores momentos de Capilé.
Qual
é, afinal, o grande problema em ser pragmático? Desde quando isso é uma
ofensa? Por que ela quer que crucificar o pobre pragmatismo?
Segundo
o Houaiss, pragmático é aquele “que contém considerações de ordem
prática (diz-se de ponto de vista, resolução, modo de pensar etc.);
prático, realista, objetivo”. Na etimologia: “que concerne à ação,
próprio da ação; capaz de agir, eficaz”.
Pragmatismo é o “método prático de tratar questões filosóficas, estéticas, literárias, científicas etc”.
Um
dos melhores jornalistas do Brasil, JRG, era um pragmático. Sabia
transformar um assunto complicado em algo simples de entender. Conseguia
encaminhar soluções sem se prender a falsas certezas. O resultado era
bom. Gente que resolve questões complexas -- e isso inclui seu prefeito e
seu mecânico, eventualmente -- pode ser boa para o mundo.
Marina
disse alguma palavra sobre mobilidade urbana? Nada. Alguma sobre
violência? Nada. Qualquer coisa relevante para o país? Sem resposta. O
"pragmático" é o “a nível de” de MS. Fico pensando nas aulas de história
dela. Júlio César era pragmático? Napoleão? Maquiavel, certamente...
A
conversa fiada de Marina é ruim em si. Mas piora quando ela faz
reiteradas tentativas de subverter, sequestrar e assassinar um termo e
um conceito para que eles caibam em seu discurso vazio. Se ela fosse
mais pragmática, saberia disso.
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