Do O Globo
Avaliação do diretor do Ibope analisa que interferência da líder caiu desde as últimas eleições
por Maria Lima
A dificuldade da dupla Eduardo Campos
(PSB) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade) de deslanchar nas pesquisas
de intenção de votos vem causando nervosismo crescente no comando da
sua campanha nacional. Aliados de Campos, inclusive, encomendaram ao
Ibope uma pesquisa nacional para avaliar a rejeição de Marina e sua
capacidade de transferência de votos, seja como candidata a vice na
chapa ou apenas como apoiadora do socialista. O objetivo é mensurar o
que ocorreria com a candidatura de Campos se Marina voltasse atrás na
decisão de ser sua vice por conta de alguma negociação de palanques
regionais.
O foco da crise foi a decisão do
diretório do PSB de São Paulo de aprovar, por unanimidade, uma coligação
com o PSDB, apoiando a reeleição do governador Geraldo Alckmin. Desde
que PSB e Rede resolveram se unir, em outubro passado, a candidatura
própria no maior estado do país foi colocada como cláusula pétrea pelos
marineiros. Por outro lado, apoiadores de Campos atribuem à ex-senadora
dificuldades na formação de palanques competitivos em grandes estados.
Para o diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, apesar de ter um
amplo capital político, Marina vem demonstrando pouca capacidade de
transferência de voto como candidata a vice.
Na avaliação de Montenegro, já repetida
por outros especialistas e articuladores políticos, o poder de
transferência da Marina caiu muito desde a última eleição. Isso estaria
sendo mostrado em todas as pesquisas e foi confirmado na última consulta
do Datafolha, na qual, além da queda de quatro pontos de Campos (de 11%
para 7% nas intenções de voto), 48% dos entrevistados disseram que não
votariam no candidato indicado pela ex-senadora. O único cenário em que
ela teria condição de mudar o jogo eleitoral, na opinião dos
especialistas, seria aquele em que ela fosse candidata à Presidência.
Nesse caso, poderia agregar mais votos que recebeu em 2010.
— A Marina é uma pessoa querida,
correta, ética, mas, como vice, não tem poder de transferência de votos
para o Eduardo Campos. Uma parte dos votos dela em 2010 foi de protesto.
Os votos de protesto eram 9% a 10%. Na eleição, ela chegou a 20%.
Depois, caiu para 9% e 10% de novo. No começo, a notícia da coligação
Rede-PSB foi um boom, uma notícia positiva. Mas, no final, acabou dando
confusão. Ela é contra o agronegócio, Campos, a favor. Depois, surgiram
os problemas em Goiás, São Paulo e Minas. A coisa do açaí com tapioca
faz sentido. Os dois não combinaram. Era uma coisa previsível, que ia
dar confusão, e deu - avalia Montenegro.
A assessoria de Marina e integrantes do
comando do PSB dizem que a pesquisa para medir a rejeição da ex-senadora
não foi encomendada pelo partido, mas integrantes da campanha
confirmaram a sondagem. Apesar do nervosismo que tomou conta da campanha
após a queda de quatro pontos na intenção de votos no Datafolha, Campos
tenta salvar a parceria com Marina. Procura compensar a
incompatibilidade dos dois em São Paulo com a formação de um palanque
próprio em Minas Gerais, defendida há meses pela Rede.
Os dois combinaram que ela iria hoje em
Minas retirar a candidatura do desconhecido professor aposentado Apolo
Heringer (Rede) para apoiar o nome do deputado Júlio Delgado (PSB).
Marina já teria gravado apoio a Delgado; porém, na reunião com a Rede, o
deputado continuou sendo criticado e chamado de "laranja de Aécio
Neves", pré-candidato tucano à Presidência. Marina, porém, elogiou
Delgado e anunciou que os dois disputarão a candidatura na convenção.
Em São Paulo, Marina lançará um
candidato ao Senado, provavelmente na chapa do PV, para que possa ter um
palanque alternativo ao de Alckmin.
Ao ser firmada, a parceria de Campos com
Marina levou aliados dele à euforia; hoje, porém, há no grupo do
socialista quem questione essa estratégia. A esperada transferência
massiva de votos não veio e parte do grupo de Campos avalia que as
interferências dela nas articulações estaduais do pernambucano deixaram o
campo livre para Aécio.
- Eles, da Rede, não estão entendendo
que o que Marina teve em 2010 foi o espaço que sempre teve a terceira
via nas disputas presidenciais. Mas Eduardo não é uma terceira via para
ter 20 milhões de votos. Ele está na disputa para ganhar. Está na hora
de resolver isso - cobrou Roberto Freire, um dos aliados que mais
brigaram pela aliança com Alckmin e que está incomodado com as ações do
entorno de Marina para sabotar as articulações do PSB nos estados.
Há, entre os aliados de Campos, quem
aposte que ele reaja ao que, entendem, Marina está articulando: usar o
PSB como vitrine para se fortalecer para 2018, sem compromisso com a
eleição de Campos.
- O Eduardo tem que repensar essa
parceria. Foi uma aposta que não deu certo. Se ele tivesse deixado que
ela se filiasse ao PPS, hoje Marina seria um problema do senhor Roberto
Freire e não teria contaminado sua candidatura. Ia ter seus 6% de votos e
levava a eleição para o segundo turno do mesmo jeito. Marina desidratou
Eduardo - avaliou um integrante da Executiva do PSB.
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