terça-feira, 8 de dezembro de 2015

POLÍTICA - Dúvidas se o Temer vai entrar nessa canoa furada.





   Jornal GGN - O jornalista Luis Nassif entrevistou, na tarde desta terça (8), os deputados Wadih Damous e Paulo Teixeira, ambos do PT, sobre a conjuntura política e a tramitação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara Federal. Na conversa, os parlamentares repercutiram a carta que o vice-presidente Michel Temer escreveu à chefe do Executivo, vazada na imprensa na noite anterior. Segundo os petistas, o PT tentará administrar o conflito com Temer, mas tudo depende de como ele irá se comportar durante o processo de impeachment.
"Se ficar caracterizado que ele tenha embarcado na canoa furada do golpe parlamentar, ficará difícil recompor a ponte. Ele passará para a consciência das pessoas que ele quer o atalho, o golpe para sentar na cadeira presidencial. E é bom que ele preste atenção - e Ciro Gomes chamou atenção para isso - porque ele assinou as pedaladas fiscais. Essa situação também pode se voltar contra ele", apontou Damous.
Abaixo, os principais trechos da entrevista:
Enfrentamento na comissão do impeachment
Paulo Teixeira: “Temos duas questões que vamos enfrentar: a primeira é o desejo de Eduardo Cunha de instalar uma votação secreta para a escolha da comissão, e a segunda é a chapa alternativa à principal. Essas duas coisas deixam claro o objetivo golpista de Eduardo Cunha e daqueles que o acompanham. Cunha quer estabelecer um roteiro fora da lei, ilegal, inconstitucional.
A lei diz que tem que ter a proporcionalidade entre os partidos da Casa [na formação da chapa para a comissão do impeachment]. E ele [Cunha] pediu, na semana passada, que os partidos indicassem seus membros, e assim fizeram os partidos. Agora, Cunha quer subverter essa proporcionalidade fazendo com que outros partidos definam os nomes que farão parte da comissão. Ou seja, uma pessoa do PSDB pode dizer quem do PMDB vai fazer parte da comissão. Ele [Cunha] fere de morte a proporcionalidade.
(...) Não há previsão constitucional para voto secreto. Então, eles estão transitando pela ilegalidade. Vamos fazer dura obstrução no plenário, nesta tarde, assim como esperamos que o Supremo impeça a ilegalidade para se criar um golpe parlamentar.”
Reorganização da base pós impeachment
Wadih Damous: “Não podemos falar em nome do governo, mas tenho a impressão de que a base deverá ser reorganizada. Se for um resultado a favor do impeachment, as forças que dão sustentação à presidente vão entender que se tratou de um processo legítimo? Se for o contrário, se prevalecer a tese de que não é o caso de impeachment, e Dilma sair vitoriosa, as forças derrotadas vão se contentar com o resultado? São essas as questões que estarão em jogo após o resultado do processo."
Riscos para Dilma no Tribunal Superior Eleitoral
Wadih Damous: Parte do Judiciário - essa representada por Gilmar Mendes - resolveu entrar no jogo político-partidário, fato que contraria a percepção que se tem de um Tribunal - de ter imparcialidade, objetividade, [agir] à luz do que rege a Constituição e as leis. Lá no TSE, pelo menos na voz de Gilmar Mendes, esse quadro traz preocupação.
Sobre as contas da campanha da presidente, que aliás atingem também o vice-presidente Michel Temer, a questão é: esse julgamento se dará de forma objetiva e imparcial, à luz do Direito? Se se der assim, não temos temor.
As críticas de Gilmar ao PT 
Paulo Teixeira: Não acredito que ele [Gilmar Mendes] mudou a correlação de forças [no Judiciário]. Gilmar faz política partidária a partir de seu posto no Supremo. Mas digamos assim: o som da voz dele é mais alta do que a força que ele tem dentro do Supremo. E no TSE, igualmente. Tanto que quem ficou com a relatoria [da ação de impugnação de mandato eletivo contra Dilma] foi a ministra Maria Thereza [de Assis Moura, corregedora eleitoral].
Gilmar é um militante político. Acho que ele deveria atravessar a rua e se candidatar. Ser um colega aqui, numa bancada oposta a nossa, porque não há identidade, para que ele possa dar as opiniões que ele dá.
Movimentos de esquerda em apoio à Dilma
Paulo Teixeira: Acho que Dilma deveria estabelecer com esse movimento que se forma em defesa do mandato dela uma boa interpretação para que resulte na melhoria do governo. A maioria dos erros nos últimos anos se deu por erro na interpretação do apoio que ela teve. Espero sair dessa não só ganhando a batalha contra a ilegalidade e o golpe, mas nos aproveitando desse processo para melhorar a governabilidade. Por exemplo, segmentos que estiveram com ela na eleição se afastaram e voltaram agora nesse processo.
Como o PT recebeu a carta de Temer
Paulo Teixeira: Sobre a carta, percebo repercussão negativa para ele [Temer]. Há uma repercussão nas redes e nos setores que fazem opinião sobre a inoportunidade dessa carta. É uma carta que não ajudou o cenário político. Por outro lado, ao criticar o líder da bancada, Temer não levou em conta que o Picciani é do partido dele e está conduzindo bem a bancada aqui na Câmara para apoiar o governo - onde ele é vice-presidente - e defender a legalidade. Creio que nós teremos maioria no PMDB, e abro um parênteses: o PMDB nunca foi unido em nenhum governo. Então, vamos continuar com uma parcela do PMDB, que é majoritária e dará com firmeza o apoio ao governo.
Pontes queimadas com Temer?
Paulo Teixeira: Vamos ter que administrar esse movimento com o Temer. Nós não podemos dar de barato que ele vá para uma posição a favor de um golpe tão desqualificado como esse proposto por Cunha, que não tem a menor condição de presidir a Casa, nem condição de julgar uma pessoa honesta como Dilma. Não creio que Temer terá a tentação de embarcar na canoa furada do golpe. A ver. Vamos acompanhar.
Wadih Damous: Na política, afirmar peremptoriamente que as pontes foram destruídas e não há mais como recompor seria precipitado. (...) É claro, não falamos em nome da presidente ou do governo. Mas tenho a certeza de que não interessa a nenhum governo estar em guerra declarada com o vice-presidente.
Tudo vai depender do próprio Michel Temer, como ele vai se comportar no processo de impeachment. Se ficar caracterizado que ele tenha embarcado na canoa furada do golpe parlamentar, ficará difícil recompor a ponte. Ele passará para a consciência das pessoas que ele quer o atalho, o golpe para sentar na cadeira presidencial. E é bom que ele preste atenção - e Ciro Gomes chamou atenção para isso - porque ele assinou as pedaladas fiscais. Essa situação também pode se voltar contra ele.

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