terça-feira, 5 de março de 2013

VENEZUELA - Entrevista com o prefeito de Caracas.

Chávez investiu US$ 500 bilhões no setor social, diz prefeito de Caracas

Jorge Rodríguez ao lado de Chávez (Foto: Divulgação / PSUV)
Jorge Rodríguez ao lado de Chávez (Foto: Divulgação / PSUV)
 
POR BOB FERNANDES, DIRETO DE CARACAS
 
 
Jorge Rodríguez Gómez, 47 anos, é o prefeito de Caracas. Para ser preciso, de Libertador, o maior dos cinco municípios que formam a Grande Caracas. Vice-presidente de Hugo Chávez entre 2007 e 2008, Jorge Rodríguez foi o chefe-executivo das três últimas grandes campanhas de Chávez e do chavismo. Médico psiquiatra, ele tem o mesmo nome do pai, um fundador da Liga Socialista morto sob tortura e como preso político, em 1976. Neste momento tão crucial, Terra Magazine, do portal Terra, tem conversado com alguns dos mais importantes personagens do passado recente, do presente e do futuro da Venezuela.
 
Nesta conversa, na Casa Anauco, um casarão do século XVII aos pés do Monte Ávila, Jorge Rodríguez aponta o que, no seu entender, resume de maneira macro os 14 anos de Hugo Rafael Chávez Frías como presidente da República Bolivariana da Venezuela:
 
- Chávez investiu quinhentos bilhões de dólares no setor social, em programas sociais…
 
O prefeito de Caracas discorre ainda sobre os embates com a oposição, sobre o que é, na percepção chavista, a Venezuela. Na entrevista abaixo, Jorge Rodríguez lista conquistas sociais avalizadas, segundo ele, pela Unesco, FAO, Organização Mundial de Saúde, ONU:
 
- Chávez reduziu a pobreza extrema de 26% a 7%. E a pobreza geral, de 60%, agora está em cerca de 20%. A mortalidade infantil, de 19%, caiu para 9%.
 
- Tínhamos quase 20% de analfabetos na Venezuela quando Hugo Chávez chegou ao poder (…) A Unesco confirma a condição de país livre do analfabetismo.
 
Terra Magazine: Como é o nome deste local onde estamos?
 
Jorge Rodríguez: Casa Anauco.
 
Estamos perto do…
 
Estamos ao lado do Monte Ávila.
 
Aqui é uma das sedes da Prefeitura?
 
Esta é uma casa patrimonial do século XVII que estava muito abandonada. É patrimônio da cidade de Caracas desde a década de 70, foi reformada por nós e agora é uma casa para servir à comunidade e para esse tipo de reunião protocolar.
 
Você é alcaide, o prefeito, como dizemos no Brasil, de Caracas. Caracas tem três alcaidias?
 
Não… a Grande Caracas tem cinco alcaidias. Caracas, uma cidade histórica, e o maior desses cinco municípios, é o Município Libertador, do qual eu sou alcaide. Por exemplo, o município de Chacao, a leste do Município Libertador, tem 130 mil habitantes. Aqui no Município Libertador temos quase 2 milhões de habitantes.
 
Domingo, dia 3,  por decisão do seu partido, você se tornou pré-candidato à reeleição para alcaide. É isso?
 
Sim. Agradeço muito às bases do Partido Socialista aqui em Caracas. Mais de 90% das unidades vêm de Carabobo, que são outras unidades celulares do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), e propuseram meu nome para a candidatura. Meu partido é tão democrático que não somente as bases são consultadas para que escolham o candidato a alcaide. As bases definem quais são os pré-candidatos, postulam pré-candidatos… Este processo que vivemos no último final de semana é para postular a pré-candidatura. E eu tive mais de 90% das "postulações" das unidades de Carabobo.
 
As eleições municipais estão marcadas para julho.
 
Para 14 de julho de 2013.
 
Porém, talvez haja a necessidade de uma nova eleição presidencial. Ou por decisão do presidente Chávez, ou por decisão do destino, o que seja. Nesse caso, qual eleição é prioritária? Primeiro a presidencial e depois a municipal, ou o contrário?
 
Não temos como tratar dessa suposição… é claro que, de forma interessada, a oposição vem jogando no ataque, para usarmos a linguagem futebolística. Eles acabam de ter uma derrota imensa, derrota imposta nas urnas pelo presidente Chávez. A 7 de outubro do ano passado, Chávez teve mais de 1,7 milhão de votos de diferença, quase 12 pontos percentuais. Durante todo o período da campanha, tentaram agredi-lo, dizendo que Chávez não conseguia nem escrever, que Chávez não poderia fazer campanha… Esse tipo de coisa para agredir ao presidente e ao povo da Venezuela, com alusões ao seu estado de saúde.
 
E logo veio o processo eleitoral de 16 de dezembro, para escolha de governadores, isso em meio à dor e preocupação, uma vez que haviam transcorrido apenas seis dias desde a intervenção cirúrgica do presidente. Igualmente, o setor opositor pensava que…
 
…o governo elegeu 20 de 23 governadores…
 
Isso. E a oposição pensava, outra vez, que tratando de se aproveitar da situação pessoal de saúde do presidente, elegeria 16 ou 17 governadores nessa eleição crucial de dezembro. Ao contrário: o povo venezuelano deu um imenso respaldo aos governadores de Chávez e ao próprio Chávez. Tivemos 20 de 23 governadores eleitos, e inclusive recuperamos cinco que estavam nas mãos de opositores. E ainda estamos cumprindo o cronograma e com tudo preparado para as eleições municipais de 14 de julho. Não há nenhuma outra eleição que não seja a de 14 de julho.
 
Henrique Capriles, que foi candidato a presidente contra Chávez em outubro passado, em uma entrevista que me deu há dias...
 
pobrecito de você… (risos) teve que aguentá-lo…
 
…bem…ele disse que houve um derramamento de dinheiro público, que, no ano passado, o gasto público chegou a 5 bilhões e 800 mil dólares…
 
Nós cumprimos todos os requisitos que o conselho eleitoral estabeleceu. Apresentamos todos os livros de gastos ao conselho nacional eleitoral. Nosso partido tem mais de 7 milhões de militantes. É o maior partido que conheço na história da Venezuela.
 
A Venezuela tem 25… 26 milhões de habitantes…
 
Sim. Pouco mais de 25, cerca de 26 milhões de habitantes. Então, quase um terço da população venezuelana milita no Partido Socialista Unido da Venezuela. E se podem militar, podem perfeitamente financiar, como de fato o fazem, nas campanhas eleitorais. Curioso é o que ocorreu com opositores que… apareceram representantes do Conselho Eleitoral por parte do partido Primeira Justiça subornando um empresário venezuelano a troco de uma entrevista com Capriles. O papai do senhor Capriles disse, em entrevista telefônica a um senhor: "Você precisa me trazer o valor em dinheiro vivo", um dinheiro que não vai ser registrado pelo conselho eleitoral, nem declarado porque veio em dinheiro vivo.
 
O pai dele é um empresário?
 
Sim, um empresário representante da oligarquia mais reacionária da Venezuela. Foi proprietário de uma cadeia de cinema de Caracas e a destruiu, obrigando os cinemas a se instalarem nos centros comerciais. O governo revolucionário a reconstruiu.
 
Um número que sempre provoca dúvidas: de 98 pra cá, entre referendos e eleições, houve 16 processos eleitorais na Venezuela. Chávez venceu quantas?
 
Venceu quinze das dezesseis eleições.
 
Dizem que você é um eficiente executivo de campanhas eleitorais. Você dirigiu quantas campanhas e quais?
 
Três campanhas. A da Emenda Constitucional…
 
A do "Não"?
 
Não, a do "Sim", em 2009. A campanha para incorporar uma emenda na Constituição para a reeleição presidencial e dos governadores de Estado. Ali tivemos uma vitória importantíssima. Aí fui chefe da campanha presidencial de Chávez em 2012, colaborei na de 2006, e fui chefe na campanha de governador, a de dezembro último.
 
Não sei se a informação é correta… seu pai foi fundador de um partido socialista, era marxista, e morreu torturado pela DISIP, a polícia política? É isso? Em que ano?
 
Sim, é isso. Ele foi morto em 1976. Meu pai foi dirigente estudantil. Foi delegado no conselho universitário da mais importante universidade, a Central da Venezuela. Foi militante de um partido de esquerda chamado Liga Socialista, foi fundador desse partido de esquerda em 1974.
 
No ano de 76, ele foi capturado por representantes da polícia política, a DISIP, no primeiro governo de Carlos Andrés Pérez (NR: de 1974 a 1979. Pérez voltaria à Presidência entre 1989 e 1993). As torturas foram dirigidas por Henry López Sisco, um torturador famoso por sua crueldade, que hoje está na Costa Rica.
 
Na Costa Rica também estão os irmãos Salazar?
 
Sim. Todos os torturadores se refugiam…
 
Pelo que sei, eles, os dois irmãos, tentaram matar Chávez em abril de 2002…
 
Sim, atentaram contra a vida do presidente… bem, o meu pai… depois de três dias de torturas cruéis, morreu assassinado. Tinha 34 anos à época.
 
E você tinha…
 
…tinha seis anos quando ele morreu.
 
Você é psiquiatra… essa, a da morte do teu pai e o como, é uma marca que te move? Não no mal sentido, mas como um combustível…
 
…é um exemplo. Sem dúvida. Eu também fui presidente na federação de estudantes na universidade onde estudei e onde ele estudou. Creio que os princípios que o conduziram marcaram a vida de muitos e a minha, particularmente. Sem dúvida, o princípio da lealdade, o princípio da constância, o princípio da solidariedade… Ele morreu torturado porque não denunciou seus companheiros.
 
Você tem irmãos?
 
Tenho uma irmã mais nova. Quando meu pai se foi, eu tinha seis anos e ela tinha dois anos. Não… eu tinha dez anos e minha irmã tinha seis anos. Eu lembro de um cárcere quando o capturaram uma vez, entre 72 e 73. Eu tinha seis ou sete anos, minha irmã tinha dois anos, e nós fomos visitar o cárcere.
 
Onde era o cárcere?
 
Era no Serviço de Inteligência Militar, aqui em Caracas… nos arredores de Caracas. Entraram minha mãe, minha irmã de dois anos e eu com seis anos em um cubículo muito pequeno, onde, visivelmente, tinham-no torturado. E quando estávamos vendo ele pela primeira vez depois de duas semanas sem nenhuma visita, ele isolado, nenhuma notícia, um dos torturadores jogou uma bomba de gás lacrimogênio no recinto, onde estávamos nós quatro, e o fechou. Minha mãe, meu pai, minha irmã e eu.
 
Qual o nome da sua mãe?
 
Delcy.
 
E de sua irmã?
 
Delcy também. Ela foi Ministra de Despacho de Chávez e vice-ministra da Chancelaria… Aquilo desenvolveu na minha irmã a primeira crise de asma da vida dela. Foi uma coisa desesperadora porque não abriam a porta. Só depois de um tempo aqueles homens abriram a porta da cela…
 
Na entrevista com Capriles ele disse que a Venezuela não é nem uma ditadura e tampouco uma democracia, é um híbrido. O que pensa você a respeito disso, da Venezuela…?
 
Em primeiro lugar, vejo uma imensa fragilidade intelectual por parte deste representante da direita. Porque é um absurdo dizer que não é uma coisa, nem outra coisa. Eu creio que a Venezuela é a democracia mais sólida em toda a história de governos da Venezuela, e creio que é a democracia mais sólida do continente americano. Sem dúvida, uma democracia mais sólida que a dos Estados Unidos, onde a eleição com participação popular não é direta, como a de presidente, são participações de segundo ou terceiro grau, em colégio eleitoral…
 
Nós temos uma Constituição que preserva principalmente os direitos sociais de toda a população, os direitos políticos, os direitos econômicos. A Constituição de 1961 é uma Constituição que Capriles defende, e esta foi derrubada pelo povo nas eleições de 1999. Essa Constituição de 61 foi feita por um grupo de pessoas, de representantes de partidos da Quarta República, que se reuniram e fizeram uma Constituição.
 
A Constituição que Chávez propos ao país em 1998/99 primeiro levou a uma eleição onde o povo elegeu seus representantes à constituinte. Depois, a constituinte escreveu a Constituição que, após ter sido redigida, ainda foi submetida a um referendo popular. É a primeira Constituição que foi realmente votada e aprovada pelo povo.
 
Tivemos, desde então, mais outras 15 eleições… nos 14 anos de Revolução Bolivariana tivemos mais eleições do que nos 40 anos da Quarta República. Tivemos mais eleições entre 1999 e 2013 do que nos quarenta anos entre 1959 e 1999.
 
Isso em um país que tem uma triste tradição… se não me engano, foram 12 insurreições, revoluções ou golpes desde 1835.
 
Sim, é um país marcado pelos golpes de Estado, pelas ditaduras. Vivemos aqui na Venezuela a ditadura mais longa da América Latina com Juan Vicente Gómez, tivemos também uma ditadura com Marco Pérez Jiménez até 1958, e a suposta democracia representativa…
 
com a Ação Democratica e o Partido Social Cristão se revezando no poder por quarenta anos…
 
…Sim, quarenta anos de governos dos mesmos dois partidos. E, além disso, se você não militava pelas ideias políticas da direita e dos seus partidos, te desapareciam, te torturavam, te matavam, as manifestações eram reprimidas. Capriles defende este status quo porque este status quo defende os interesses de sua classe.
 
Porém, não há como cortar a história abruptamente, não há como a Venezuela nem país nenhum mudar, apagar sua história tão rápida e completamente… Há dúvidas e questionamentos que surgem exatamente por fatores institucionais. Por exemplo: você foi presidente do Conselho Eleitoral Nacional, mas é um homem profundamente ligado ao chavismo. Como pode, ao mesmo tempo, dirigir o processo eleitoral de maneira independente sendo quem é, tendo a história que tem?
 
Eu tenho ideias de esquerda desde que tenho seis anos de idade… muito antes de conhecer Chávez, a quem conheci muitos anos depois, quando se gerou uma crise política na Venezuela pela necessidade de convocar um referendo ou a possibilidade de convocar um referendo revogatório (NR: consulta popular, prevista na nova Constituição, para a continuidade, ou não, do mandato do presidente)… se necessitava de pessoas que tivessem tido participação política, mas que, naquele momento, tivessem uma atividade independente. Naquele momento eu exercia uma atividade independente e pude participar do Conselho Eleitoral…
 
Isso foi em 2003?
 
Em 2003. E, em 2004, convocou-se o referendo…
 
…só depois que começou sua militância mais intensa no chavismo?
 
…muito depois…
 
Você foi vice-presidente da República, com Chávez, de 3 de janeiro de 2007 a 3 de janeiro de 2008.
 
Correto. Fui vice-presidente da República quatro anos depois de ter estado no Conselho Eleitoral…
 
… aqui o vice é nomeado pelo presidente.
 
Sim, o vice-presidente é um executivo e é nomeado pelo presidente. Chávez nomeou vários vice-presidentes ao longo da história.
 
Atualmente… de todos os que estiveram comigo no Conselho Eleitoral, alguns logo depois incursionaram na política. A senhora Sobella Mejías foi candidata a prefeita na cidade de Barquisimeto, pela Ação Democrática. O senhor Ezequiel Zamora, representante da chamada Mesa de Unidade Democrática (MUD), dos mais recalcitrantes…
 
Havia uma representação político-partidária ampla no Conselho Nacional Eleitoral?
 
Claro e, além disso, foi o Conselho que realizou o referendo revogatório, foi o Conselho que automatizou as eleições na Venezuela, porque o sistema manual nas votações permitia muitas manipulações. Esse sistema eletrônico da Venezuela, diga-se o que o quiser, é um dos mais modernos do mundo. Impede qualquer possibilidade de fraude.
 
Continuando sobre esses movimentos de, digamos, sístoles e diástoles na Venezuela… eu estive aqui em 2002, estava inclusive no sábado 13, o dia em que se efetiva o contragolpe, e estive aqui um mês antes do golpe… Capriles, nessa entrevista dada a mim há alguns dias, admite que em abril de 2002 houve um golpe midiático e militar.
 
Correto. Mais midiático do que militar…
 
…porém, é muito difícil que as pessoas de fora acreditem nisso, visto que as informações, muitas vezes, ou quase sempre, chegam apenas de outra maneira, com viés único. Por outro lado, abril de 2002 não gerou depois esses movimentos contínuos de fluxos e contra-fluxos, uma certa… não sei se perseguição, mas uma visão autoritária em relação a certos setores da imprensa? Agora, por exemplo, a Globovisión está fora, não poderá participar dos pacotes de TV Digital. Para quem vive fora, isso parece um exagero, um ato…
 
…muito pelo contrário. Depois que sequestram o presidente…Sequestram, tentam assassinar Chávez… o único fechamento abrupto…
 
…sim, tentam duas ou três vezes, durante aquelas mais de 30 horas ocorreram dois episódios…
 
…onde foi iminente o assassinato de Chávez…
 
…onde era iminente uma ação para seu assassinato…por parte dos irmãos Salazar…
 
…quer dizer…sequestraram o presidente, derrubaram a Constituição aprovada pelo povo, derrubaram todas as leis, eliminaram todos os poderes públicos, fecharam a Assembleia Nacional, fecharam a Suprema Corte de Justiça, destituíram todos dos poderes públicos…
 
…e falam em ditadura…
 
…e essa gente vive a falar em ditadura… E o Capriles esteve na embaixada de Cuba…
 
…o que tem Capriles com a Embaixada de Cuba? O que aconteceu?
 
…no abril de 2002, o Capriles se meteu na embaixada de Cuba com um grupo violento que destruiu veículos…
 
Capriles estava naquela ação? Me lembro daquilo, daquelas cenas, mas não de Capriles…
 
Capriles esteve na embaixada de Cuba. Se meteu ali. Saltou por uma grade e se meteu na embaixada, que era, como é toda embaixada, um território de outro país, ali, um território cubano…
 
Durante os ataques?
 
Sim! Buscando Diosdado Cabello (NR: À época do golpe, Diosdado, hoje presidente da Assembleia Nacional, era o vice-presidente da República) que supostamente estava refugiado na embaixada.
 
Me lembro daquelas cenas, de um ataque…
 
…sim, o ataque a um carro…
 
…das agressões contra uma pessoa…
 
…aquele era o ministro do Interior, detido sem nenhuma acusação contra ele, sem nenhum fiscal (NR: do Ministério Público). Capriles junto com Leopoldo López…
 
…o Capriles era o que naquela época?
 
Era alcaide (prefeito) de Baruta.
 
Então ele foi pessoalmente à embaixada?
 
Ele foi pessoalmente à embaixada, e pessoalmente foi deter o ministro Rodríguez Chacín…o detiveram em sua residência…detiveram também o deputado Tarek William, isso, este senhor Capriles e o senhor Leopoldo López…
 
Distanciando-se um pouco disso… eu tenho assistido à programação das emissoras de televisão à noite, tanto do Canal 8, estatal, quanto da Globovisión. Poucas vezes no mundo vi, não diria nem críticas duríssimas, não só polarização, mas sim, de parte a parte, uma agressividade incrível, agressões verbais de parte a parte… por isso, soa estranho quando falam em, formalmente, uma ditadura… O que é isso?
 
Depois do golpe, Chávez apareceu (NR: em cadeia nacional de rádio e TV) com um crucifixo pedindo perdão e convocando uma mesa de diálogo…
 
…crucifixo que lhe foi dado pelo velho general Jacinto Pérez Arcay, professor de história deles todos nos tempos da Academia Militar…
 
…sim, e três meses, quatro meses depois, estavam parando a indústria petroleira, a sabotagem petroleira que custou mais de 10 bilhões de dólares à Venezuela. E, logo depois, vieram os protestos da oposição para o referendo revogatório.
 
E Chávez sempre se manteve dentro dos limites da Constituição. Reveja os jornais da época, diria qualquer jornal, ou 90% deles, que respondem aos interesses da direita venezuelana.
 
A Venezuela é a segunda, terceira ou a primeira reserva de petróleo do mundo?
 
É a primeira reserva de petróleo do mundo. Temos reservas para mais de cem anos, temos reservas comprovadas de 300 bilhões de barris.
 
Isso talvez ajude a explicar porque tanta atenção do mundo para com Chávez e a Venezuela?
 
Sobretudo dos Estados Unidos.
 
Se não me engano, não sei se ainda é este o número, a PDVSA tinha, há dez anos, nove refinarias nos Estados Unidos e uma rede de postos de gasolina na Costa Leste…
 
A PDVSA esteve em um tempo completamente a mercê dos Estados Unidos. Tanto que criticam todos os convênios que Chávez tem feito com os países da ALBA, com os países aliados da América Latina e Caribe. E o único país para o qual a Quarta República vendia petróleo com desconto eram os Estados Unidos. Precisamente, concediam descontos de 40, 50 até 60% no preço.
 
Já existiam essas refinarias à época?
 
Algumas já haviam sido vendidas.
 
Economia: inflação por volta de 30% hoje, desabastecimento, segundo Capriles de 20%, faltam açúcar, farinha, etc. Há uma crise econômica… é um pouco menos do que isso ou é um pouco mais do que isso?
 
Não, muito pelo contrário. O resgate que Chávez fez dos preços do petróleo colocou a Venezuela no panorama de potência petroleira mundial. A sanidade e a responsabilidade com que Chávez tem tratado as finanças públicas nos permite ter uma das economias mais sólidas do continente… veja, houve um momento em que a Venezuela estava completamente quebrada enquanto a oligarquia venezuelana, a qual Capriles representa, tinha no exterior mais de 70 bilhões de dólares.
 
…a propósito de bilhões, ouvi o ministro da Economia, Jorge Giordani, afirmar que os investimentos sociais em 14 anos foram da ordem de…
 
…500 bilhões de dólares.
 
Em dólar ou Bolívares? 500 bilhões?
 
Sim, senhor. Quinhentos bilhões de dólares para o setor social, em programas sociais…
 
Quinhentos bilhões de dólares? Tem certeza?
 
Sim, senhor. Para a saúde, para a alimentação, para a educação, para a cultura, para metrôs, transporte público, para a construção das viviendas… (NR: casas e apartamentos, com 72m2, mobiliados e cedidos gratuitamente).
 
Sobre as viviendas, Capriles diz que são 60 mil, o governo diz que são 350 mil. Afinal, quantas são e em quantos anos?
 
São 350 mil nos últimos dois anos. E o plano são mais 380 mil para este ano de 2013.
 
O déficit é de quantas?
 
O défict é próximo de 3 milhões. Até o ano 2019 nós teremos corrigido completamente o défict de viviendas na Venezuela.
 
E a erradicação do analfabetismo? É uma lenda, ou isso está comprovado? Por quem?
 
Foi ratificado, confirmado pela Unesco, que confirmou a condição de país livre do analfabetismo. Tínhamos quase 20% de analfabetos na Venezuela quando Hugo Chávez chegou ao poder.
 
Outra coisa: 30 mil médicos e dentistas cubanos estão "ocupando" a Venezuela. Qual é o significado disso?
 
A missão Barrio Adentro…isso é… são precisamente os imensos investimentos sociais que Chávez fez para corrigir as imensas diferenças sociais. Tínhamos 26% de pobreza extrema. Nossas crianças nos bairros, da periferia de Caracas, comiam alimento para cachorros, Perrarina. As mães compravam ração de cachorro, Perrarina, dissolviam em água, e davam para eles comerem. Consumiam tanta ração que a empresa fabricante de alimentos para cachorro pensou em abrir uma linha para alimentar as crianças pobres de Caracas. Eu tenho os recortes dos jornais.
 
Por isso, Chávez, por essa imensa agressão contra o povo da Venezuela, reduziu a pobreza extrema de 26% a 7%. E a pobreza geral, de 60%, agora está em cerca de 20%. A mortalidade infantil, de 19% a 9%.
 
Esses números são reconhecidos por quem?
 
São reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde, são reconhecidos pela Unesco, são reconhecidos pela ONU. Os únicos que não reconhecem são os opositores… eles disseram na campanha, esse senhor Capriles é tão irresponsável, que dizia na campanha que 4 milhões de venezuelanos iam dormir sem comer, isso quando toda a FAO e a OMS afirmam que a oferta calórica e proteica no estado venezuelano foi quadruplicada.
 
Digamos que o destino decida que haverá outra eleição presidencial. Por um motivo ou outro, o que seja. A candidatura, ou a sucessão, será a que está indicada por Chávez ou haverá problema no chavismo?
 
Não, não… Absolutamente nenhum problema… É fato que na eleição de 16 de dezembro se verificou um fenômeno. O chavismo se apresentou nessas eleições mais unido que nunca por causa da intervenção cirúrgica do presidente Chávez seis dias antes. E a oposição apostou que a condição em que Chávez estava sendo operado iria impactar negativamente a força da revolução… e foi exatamente o contrário.
 
Chávez, com a visão de futuro que sempre teve, em 8 de dezembro, lançou uma proclamação ao povo venezuelano. Essa proclamação está muito clara (NR: que o seu eventual sucessor é o vice, Nicolás Maduro) e, neste momento, nós estamos concentrados no exercício do governo bolivariano com o presidente Chávez.
 
Para encerrar, duas questões. Primeira: há, é fato, uma crise de abastecimento. Isso é contornável?
 
O que ocorreu, tem ocorrido e tentam há um certo tempo é um processo de acumulação, de ocultar os alimentos para especulação. Eles tinham como proposta econômica um pacote neoliberal clássico, que fariam caso Capriles tivesse ganhado a Presidência. Afortunadamente, o povo venezuelano impediu que se impusesse a proposta dele. Proposta que foi escrita e entregue ao Conselho Nacional Eleitoral.
 
Quando entregou o programa no Conselho Eleitoral, diziam da liberação dos preços dos alimentos, liberação das taxas de juros, privatização do serviço público e empresas do Estado, redução do Estado…um programa clássico como o que está acontecendo na Europa, na Espanha, Itália, Grécia… como foi no Brasil, etc. Aqui, não. Aqui o ajuste cambiário foi feito precisamente para proteger. Para permitir a compra de alimentos, da comida, não há desabastecimento, o que há é um enfrentamento…
 
Uma última pergunta, a mesma que fiz a Capriles. Que papel, de maneira sucinta, a história reservará para Hugo Rafael Chávez Frías?
 
Chávez é o homem, o estadista mais importante nascido na Venezuela desde Simón Bolívar.
 
Ok. Obrigado.

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