O riso nervoso da mídia: Marina pode provocar hecatombe tucana no primeiro turno
Como se sabe, Dilma nunca sorri nos jornais brasileiros
por Luiz Carlos Azenha
Fui um dos primeiros a escrever na blogosfera, sob
críticas, que o antipetismo tornou-se um fenômeno nacional, tendo
chegado inclusive aos redutos mais fieis do PT, no interior do Nordeste.
Não é por acaso. Se Lula ou Dilma forem vaiados em
qualquer parte do Brasil, ainda que por meia dúzia de gatos pingados, a
TV Globo vai garantir que o país todo saiba. O mesmo, obviamente, não
acontece com qualquer outro político de qualquer outro partido. Pelo
menos não de forma sistemática.
Neste espaço também sugeri a blogueiros que não entrassem
na onda de criminalização dos movimentos sociais que decorre de atribuir
qualquer manifestação a “coxinhas” dispostos a derrubar Dilma. Acho
melhor tentar entender os desejos e desencantos que geraram a onda de
protestos de 2013 que simplesmente descartá-los como resultado de alguma
conspiração midiática nacional ou internacional.
Ainda que verdadeira, a ideia de um cerco ao PT contribui para que o partido nunca acredite que tenha cometido algum erro.
Olhando a campanha eleitoral a partir de agora, acredito
que o ascetismo estudado de Marina Silva está sintonizado com os que
pretendem mudar “tudo o que está aí”. O discurso um tanto moralista da
ex-petista está sintonizado também com o novo conservadorismo em torno
dos “valores”. Por exemplo, daqueles que acreditam que a criminalidade é
resultado da “dissolução das famílias”. É irônico que Marina encarne
este papel num país em que existe um número cada vez maior de famílias
dissolvidas e reorganizadas por divórcios e separações.
Na verdade, subjacente ao conservadorismo de valores no
qual parecemos ingressar há outro fenômeno, o do desconforto com
mudanças rápidas numa sociedade que sempre foi extremamente
hierarquizada.
Não é apenas a classe média alta que fica ressentida ao
dividir aeroportos com os mais pobres. As mudanças nos padrões de
consumo do reformismo lulo-dilmista desafiaram também a hierarquia no
interior das classes ditas “subalternas”.
É natural, portanto, que as pessoas procurem
intuitivamente por aquilo que, em última instância, mal ou bem lhes
oferece conforto num mundo turbulento, segurança numa vida insegura e
previsibilidade num mundo em transformação rápida: a família.
Nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que destruia
empregos e direitos sociais, a propaganda de Ronald Reagan vendia a
“dissolução” da família como causa de todos os males, obviamente causada
pela “imoralidade” de ideias esquerdistas como casamento gay,
feminismo, etc.
Com o antipetismo em alta, Marina Silva simboliza para uma
parcela do eleitorado a mudança “na qual se pode confiar”. Aos olhos
dos seus eleitores, é humilde, religiosa e incorruptível.
É preciso frisar que Marina é respeitadíssima em vários
movimentos sociais, dentre os quais o MST — um quadro dos sem terra
chegou a dizer que, em determinadas condições políticas, ela poderia
fazer um governo à esquerda do primeiro mandato de Dilma.
De minha parte acredito que os grandes grupos econômicos
que conduzem o Brasil, notadamente no setor financeiro, querem no
Planalto o governo mais maleável que puderem obter e a maleabilidade
está estritamente ligada à fraqueza deste governo.
Marina Silva eleita por um partido em crescimento, mas ainda frágil como o PSB, é mamão com açúcar.
Bastam duas colunas do Merval para colocá-lo no “rumo certo”.
O desencanto com o PT, obviamente, não pode ser atribuído
exclusivamente a mais de dez anos de campanha praticamente ininterrupta
de demonização do partido pela mídia corporativa. É longa a lista de
promessas descumpridas, alianças espúrias e outros erros.
Vivemos, por exemplo, uma tremenda crise urbana,
aprofundada pelo projeto lulista de alavancar o crescimento da economia
através da produção e venda de automóveis. Nas regiões metropolitanas,
milhões estão descontentes como nunca com o seu dia-a-dia. A demonização
midiática faz com que até problemas locais sejam atribuídos àquele
partido, o “do mensalão”.
O curioso é que, segundo a pesquisa Datafolha recentemente
divulgada, diante de duas alternativas de mudança, a maioria tenha
optado pelo caminho mais à esquerda, pelo menos no discurso: Marina tem
21%, contra 20% de Aécio.
É muito cedo para fazer projeções, já que o horário
eleitoral nem começou. Se o PT tem razões para se preocupar, o PSDB é
que deveria estar desesperado.
Caso Marina cresça às custas de votos de Aécio, a partir
de agora, o resultado do primeiro turno pode não apenas alijar o tucano
da disputa, mas produzir uma redução da bancada tucana no Congresso,
colocando o PSDB no mesmo rumo do DEM.
Ironia previsível: Marina, que abraçou o antipetismo, vai
experimentar logo adiante o veneno do qual por enquanto se beneficiou. A
mídia corporativa está azeitando as baterias à espera dos dossiês que
logo vão sair das gavetas.
Ou isso ou as famílias Marinho, Frias e Mesquita
finalmente se converteram à reforma agrária e ao enfrentamento das
consequências desastrosas do agronegócio.
Leia também:Uma contradição bem concreta para Marina Silva resolver
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