quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

POLÍTICA - Parece que voltamos aos anos de chumbo.

Relatos da violência da PM em SP

Por Alceu Castilho, em seu blog:



“Neste momento, dezenas de bombas atiradas contra as pessoas, qualquer uma, manifestante, usuário de transporte, idoso, criança, ou quem quer que seja. o cenário é de guerra, pessoas feridas e presas, muita fumaça e desencontros. Estamos encurralados”. (Igor Carvalho, no Facebook)

“Estou na Paulista acabo de presenciar um massacre pela PM, muitas bombas e truculência. Estamos em meio a uma guerra! Com muitos me refugiei em uma loja asfixiados pelas bombas na porta. Só saímos pressionados e insultados pela PM, cercados de todos os lados! Liberdade de manifestação não existe em SP, foi suprimida pela Força e pelas bombas, fui alvo de várias, não há diálogo possível, tentamos tudo! Depois do Caldeirão de Hamburgo, a PM agora promove uma caçada dos manifestantes pelas ruas da cidade, os seguranças do metrô impedem a entrada, todas as ruas cercadas, manifestantes perseguidos e caçados com furor!” (Padre Julio Lancelotti, no Facebook)
“Hoje foi o ato mais violento que já participei na vida… a PM cercou o local do encontro da manifestação, dispersou todo mundo com bomba pra caralho jogadas EM CIMA das pessoas, rachou a cabeça de um moço” (Flavia Brancalion, em coletânea de relatos feita pelo Coletivo Juntos)

Sem rota de fuga

“Manifestantes que tentam se proteger em lojas, prédios e institutos da Avenida Paulista e imediações estão sendo rendidos pela Polícia e tendo que sair desses lugares sob ameaças, intimidação e de mãos para o alto”. (Coletivo
Juntos)

“Hoje estávamos no Instituto Miguel Cervantes e mesmo passando mal e com pessoas feridas a PM continuou a jogar bombas DENTRO do prédio pra nos torturar a PM lançou mais de DEZ BOMBAS com nós todos lá dentro, mesmo não fazendo nada, estando feridos e em pânico, a PM não poupou esforços e bombardeou tudo de gás, e ainda ameaçaram todos nós dizendo que quem não saísse de mãos levantadas seria preso”.(Juan Alan, no Facebook)

“Desci a Consolação toda praticamente correndo… na altura do cemitério as pessoas que estavam descendo a Consolação tiveram que entrar por Higienópolis mas a PM continuava cercando tudo e todos, sem parar com as bombas. Toda a população ficou amedrontada”. (Miguel Tadeu Vicentim, no Facebook)

“Também nos fizeram uma emboscada na rua Sergipe. Bombas e mais bombas e mais bombas em uma rua cercada por policiais. Impossível passar por qualquer lugar. Depois disso, revistas, xingamentos, palavras de ordem autoritárias, pessoas detidas, chutadas, enfim, total despreparo de todos os policiais”. (Thaís Soares, no Facebook)

“Depois que a maior parte dos manifestantes foi empurrada pra tomar bomba na Paulista, que estava totalmente cercada e sem rotas de fuga, eu sobrei com um grupo pequeno de pessoas que teve que sair correndo. Mesmo depois de parar de filmar eles continuaram jogando bomba”. (Thomaz Pedro, no Facebook)

Covardia

“Durante a dura repressão da Polícia Militar ao ato de hoje (12/01) contra o aumento da tarifa de metrô, trem e ônibus em São Paulo, muitos manifestantes foram feridos por balas de borracha e estilhaços das bombas de gás lacrimogênio. Entre eles, o estudante de arquitetura Gustavo Camargos e Silva, 19 anos, teve uma fratura exposta na mão, com fraturas em vários pontos”. (
Jornalistas Livres)

“No momento meu primo de 19 anos, moleque de tudo, estudante de arquitetura, está no hospital sendo operado. ele tomou uma bomba de gás da PM na mão, teve fratura exposta e um tendão rompido”. (Paula Sacchetta, no Facebook)

“E as Bombas explodem no vale e por aqui na Xavier de Toledo. Truculência, violências generalizadas, espancamentos covardes”. (Átila Pinheiro, no Facebook)

Atropelamento

“Ninguém me contou, eu vi. Por volta das 20h, na esquina da Consolação com a Maria Antônia, meia dúzia de policiais em motocicletas perseguiam um manifestante que fugia pela rua da Consolação, subindo em direção à Paulista. As motos atropelaram propositalmente o manifestante, que caiu e bateu a cabeça no meio-fio”. (Ícaro Vilaça, no Facebook)

“Depois de você ver um jovem ser atropelado por policiais de forma proposital e ser lançado no chão, perseguido por aproximadamente cinco motos, que lançaram o jovem na calçada que você estava e não poder fazer nada, porque muitos outros policiais te cercam e não deixam você filmar… Você se sente um impotente que não pode fazer nada”. (Fernando Rocha, no Facebook)

"Olhos ardiam, mas sem lágrimas"

“A bomba de gás estourou no saguão externo do Instituto Cervantes, dali alguns segundos a fumaça iria se espalhar, fazer os olhos arderem, dificultar a respiração, atordoar ainda mais os sentidos. (…)

A primeira descida foi no momento do desespero inicial. Com bombas explodindo nas costas e uma numerosa tropa militar à frente restou a mim e a muitas outras pessoas encarar o confinamento. Respirar a fumaça que invadiu o espaço, ouvir o barulho das bombas lá fora e saber-se completamente sem saída. Voltar para o subsolo não era um horizonte razoável.

Mãos ao alto, tal como civil na linha de frente da guerra, caminhei na direção da avenida Paulista. Contei que o próximo disparo demoraria tempo suficiente para que pudesse me render. Ganhei a rua, mas a liberdade parecia inalcançável.

À frente o enorme buraco do túnel que cruza por baixo da praça do Ciclista, intransponível trincheira. À esquerda duas fileiras de policiais militares em formação perfilados na frente dos homens com escopetas em punho. Dali, a menos de 10 metros, era de onde saia o terror em forma de arma química.

Caminhei em direção a eles, um passo, talvez dois. Aos berros, mandaram-me voltar. Consegui ver que as pistas da avenida do outro lado estavam livres, bastava contornar o gradil que isolava o buraco para afastar-me do centro do massacre de terror.

Consegui chegar à retaguarda, onde outra linha de policiais com mais escopetas e menos escudos estava posicionada. Novamente meu rumo foi definido por um berro vindo de um policial militar. Deveria me posicionar atrás da linha e não na lateral.

Parei em frente à igreja, os olhos ardiam, mas sem lágrimas. Centrei-me em respirar vagarosamente para não absorver mais gás tóxico. As mãos tremiam. O pior passou”.
(João Lacerda)

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