sábado, 6 de fevereiro de 2016

POLÍTICA - Comentário de Bresser Pereira sobre o cerco ao Lula.


Antes um comentário meu:



Em 1954 acompanhei de perto a campanha insidiosa contra o presidente Getúlio Vargas, que acabou o levando ao suicídio, desencadeada pelas mesmas forças que agora querem acabar com o Lula. Naquela época, existia a Tribuna da Imprensa dirigida pelo jornalista Carlos Lacerda que junto com o jornalista Raul Brunini, da Rádio Globo, capitaneavam essa campanha. Porém, existia o contra-ponto na pessoa do jornalista Samuel Wainer, à frente do jornal Última Hora. Agora a situação é diferente.

Esse cerco ao Lula não paralelo na história, já que hoje os meios de comunicação deram um enorme salto, com a TV sendo o principal veículo da mídia, porta voz da mídia golpista, o famoso PIG, que vem atacando o Lula desde que ele se tornou um político. Essa obsessão para pegar o Lula de qualquer maneira, só tem uma explicação: o medo, ou melhor, terror de que ele venha se candidatar em 2018.






















Eleições 2018: Clima de intolerância e de ódio explica o cerco a Lula, diz fundador do PSDB Bresser-Pereira




O cerco a Lula

Luiz Carlos Bresser-Pereira, no FACEBOOK

Há meses que eu ouço frases como: “Quando vão chegar no Lula?”, ou então, “Quando vão pegá-lo?”. Porque, afinal, este é o objetivo maior do establishment brasileiro: atingir o maior líder popular do Brasil desde Getúlio Vargas. Não porque ele seja desonesto, mas porque ele se manteve de esquerda, porque se manteve fiel à sua classe de origem não obstante o clássico processo de cooptação de que foi objeto. Pois bem, o establishment chegou ao Lula. Não para incriminá-lo, mas para tentar desmoralizá-lo.

As duas manchetes de primeira página dos dois principais jornais de São Paulo de hoje são significativas. Na Folha leio que “Lula é investigado por suposta venda de MPs”. Não há nada contra o ex-presidente na Operação Zelotes, a não ser a desconfiança de um delegado irresponsável. O que há nessa operação é o envolvimento de grandes empresas e de seus dirigentes em um escândalo de grandes proporções de pagamento de propinas para obterem MPs favoráveis. No Estado, por sua vez, a manchete é “Compra de sítio foi lavrada no escritório de compadre de Lula”. Neste caso – o do uso por Lula e sua família de um sítio no qual construtoras se juntaram para realizar obras sem que houvesse pagamento – o caso é mais objetivo. Lula aceitou um presente que não deveria ter aceito. 

As contribuições de empresas a campanhas eleitorais (que até a decisão do Supremo eram legais) são afinal presentes. Mas é impressionante como empresas dão ou tentam dar presentes mesmo a políticos – presentes dos quais elas não esperam nada determinado em troca; fazem parte de suas relações públicas. Eu sempre me lembro de como tentaram reformar a piscina da casa do Ministro da Fazenda em Brasília quando ocupei esse cargo em 1987. Minha mulher os pôs para correr. Era o que devia ter feito Lula, que havia acabado de sair do governo. Não o fez, e isto foi um erro político. A reforma não aumentava seu patrimônio, apenas lhe proporcionava mais conforto. Ele não trocou o reforma do sítio por favores às duas construtoras. Não há nada sobre isto na investigação sobre o sítio.

O Estado brasileiro está revelando capacidade de se defender – de defender o patrimônio público – ao levar adiante as operações Lava Jato e Zelotes. Dirigentes de empresas, lobistas e políticos envolvidos estão sendo devidamente incriminados e processados. A instituição da delação premiada revelou-se um bom instrumento de moralização. Mas está havendo abusos. Houve e estão havendo abusos na divulgação de delações sem provas, houve abuso em prisões cautelares ou provisórias quando não havia razão para elas. E não é razoável o que se está fazendo com Lula. Só um clima de intolerância e de ódio pode explicar o cerco de que está sendo vítima.

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