The New York Times: “LULA está de volta”

28/11/2021  Por REDAÇÃO URBS MAGNA
The New York Times: “LULA está de volta”

 “A épica ascensão e queda da carreira política de Luiz Inácio Lula da Silva parecia paralela à do Brasil, país que governou por duas vezes como presidente. Agora ele quer uma chance de liderar novamente”, diz o The New York Times. No título da matéria deste sábado, o jornal diz: “O presidente Lula do Brasil está de volta. Ele pode levar o país junto? – Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente, rechaçou uma enxurrada de casos de corrupção e subiu à frente da corrida presidencial do próximo ano” | Foto de Mauricio Lima para o TNYT


PROGRESSISTAS POR UM BRASIL SOBERANO

O jornal americano mais premiado do mundo conta a história política recente do Brasil, começando pelo ex-presidente desde o início de sua vida pública, a partir do ABC Paulista, até chegar aos dias atuais, na era Bolsonaro e, no final, enfatiza declarações pessoas que viviam melhor nas gestões do Partido dos Trabalhadores

O jornal americano mais premiado do mundo e que tem mais de 170 anos de idade, o The New York Times, pôs no ar, neste sábado (27/11) uma extensa reportagem sobre a vida política de LULA, em cujo título o jornalista Ernesto Londoño escreve que ele “está de volta“, questionando, em seguida, se o ex-presidente conseguirá empolgar os brasileiros de novo e, nos últimos parágrafos, passa a enfatizar algumas falas de pessoas que afirmam que a vida nas gestões petistas era bem melhor.

O jornalista inicia o texto lembrando que LULA deixou o governo “com a popularidade de um rock star” por seus méritos que deixaram a “nação que parecia estar à beira da grandeza“. Em seguida, o jornal mostra a fase ruim que culminou com o ex-presidente impedido de se reeleger, o que, depois, arrastou “para baixo a maior economia da América Latina e dando início a um período de turbulência política“. Mas, “agora, Lula, como é conhecido universalmente, está de volta“, destaca.

Uma série de vitórias no tribunal o libertou e restaurou seu direito de concorrer ao cargo, permitindo que LULA novamente argumentasse que ele é o único no caminho a seguir para uma nação que luta contra o aumento da fome, da pobreza e do aprofundamento da divisão política“, diz o texto. “Temos total certeza de que é possível reconstruir o país”, transcreveu o jornalista, uma fala recente de LULA.

Os eleitores estão dando a ele uma ampla vantagem na corrida presidencial do próximo ano, sinalizando que, para milhões, as memórias de um Brasil em ascensão têm mais peso do que suas reservas sobre a corrupção endêmica que prejudicou o legado de Lula“, escreve Londoño sem tomar partido algum e tampouco reproduzindo os fatos como o conhecemos.

Seu caloroso abraço pelos presidentes da Espanha e da França durante uma recente viagem à Europa deixou claro que outros líderes também podem ansiar pelo Brasil de outrora“, diz o jornalista.

A partir de um momento, o jornal passa a explorar falas de nomes importantes do cenário político com críticas à gestão de LULA e Dilma Rousseff, demonstrando que o jornalista se ateve aos fatos a um grosso modo, da mesma forma que para a maioria dos brasileiros, que somente interpretam as notícias através de títulos de matérias e seus leads para elas, em detrimento da complexa realidade e dos feitos dos ex-presidentes para o Brasil.

Dois anos depois, o país elegeu Jair Bolsonaro, um ex-capitão do Exército de extrema direita que se apresentou como o polo oposto de Lula, elogiando a ditadura e prometendo punho de ferro contra a corrupção e o crime“, escreve o jornalista. “Agora, Bolsonaro está enfrentando uma torrente de escândalos, seu governo envolvido em investigações e sua popularidade em declínio, e LULA se apresenta como a salvação do Brasil“.

Londoño passa a tentar explicar motivos pelos quais o “retorno [de LULA ao governo] poderia trazer a estabilidade e o crescimento que os brasileiros desejam“.

Quando Lula assumiu o cargo em 2003, a economia brasileira havia conseguido conter a inflação e estava desfrutando de um boom de commodities, dando ao governo um raro grau de flexibilidade fiscal. Ele rapidamente colocou em prática planos ambiciosos para recompensar o Nordeste, seu local de nascimento e uma fortaleza eleitoral que abriga um pouco mais de um quarto da população do país, mas quase metade dos pobres“, explica Londoño.

A argumentação do jornalista explora “a ambição do Brasil de se tornar um grande produtor de petróleo” e reproduz outra fala de LULA: “O Brasil se prepara para os próximos 10 anos: crescimento, crescimento, crescimento.”

Em meio ao texto, que também enfoca a indústria naval, há depoimentos como o de um pescador de uma ilha, afirmando que na época de LULA “era uma vida boa, com móveis bonitos, televisão, aparelho de som”. Mas, paralelamente, Londoño ressuscita uma velha polêmica sobre despejos para “a expansão das operações de construção” dos navios.

Apesar da menção negativa, o texto é suficiente para mostrar que tudo melhorava, como a possibilidade, “em Pernambuco” de empregos que “tornaram-se subitamente abundantes“, bem como “investimentos em educação e novos programas de ação” que “estavam permitindo que um número sem precedentes de negros brasileiros ingressassem na faculdade.

Mais adiante, Londoño lembra da “descoberta de vastas reservas de petróleo em 2007“, o que “levou LULA a proclamar, em um discurso: “Deus é brasileiro”. Mas o jornalista toca neste assunto sem tratá-lo como a origem dos problemas que o país passaria a enfrentar, nem como o verdadeiro motivo para a interrupção forçada dos governos petistas no Brasil. Mesmo assim, o The New Yor Times diz, após explicar que o BNDES “emitiu uma das maiores linhas de crédito de sua história”, que “no cenário internacional, LULA estava fazendo barulho.

Ele [LULA] ajudou a colocar em movimento uma aliança diplomática das principais economias emergentes que incluíam China, Índia, Rússia e África do Sul. Nas Nações Unidas, ele argumentou que nações como o Brasil merecem uma voz maior – e um assento permanente no Conselho de Segurança.

Mas, novamente, a partir do último tema exposto acima, Londoño passa a explorar “corrupção” de modo tendencioso e até, referindo-se ao crime, usa palavras como “tornou-se um meio de governar“, mesmo expondo, imediatamente depois, que LULA deixou o cargo no final de 2010 com um índice de aprovação de 80 por cento.

Dilma Rousseff surge no texto do New York Times com a visão negativa do jornalista, que afirmou: “ela começou a se debater à medida que os preços das commodities caíam e as facções do Congresso brasileiro, notoriamente transacional, começaram a romper relações com o partido do governo. Londoño foi tristemente vazio em sua construção textual, que não explorou, nem relacionou o assunto com o pré-sal descoberto, limitando-se a não mencionar a trama que o PT sofreria, a partir de então, por conta de boicotes ao governo, quando o golpe 2016 estava sendo rascunhado.

Novamente a “corrupção” é explorada como o assunto que pode romper toda boa relação governo/povo. Após um breve relato inescrupuloso da recente história do Brasil, em que o ex-juiz declarado suspeito pelo SFT, Sergio Moro, surge como um herói, Londoño mostra ao mundo que investigadores, liderados por Deltan Dallagnol, “logo se concentraram em Lula, que acabou sendo acusado de 11 processos criminais [todos anulados pela Justiça] envolvendo supostas propinas e lavagem de dinheiro“.

A sobreposição de crises políticas e econômicas pavimentou o caminho para o impeachment de Rousseff e se espalhou por todo o país, destruindo vários setores – incluindo a indústria de construção naval em desenvolvimento“, escreve o jornalista, novamente sem relacionar nomes da ‘coluna A’ com a ‘B’.

O Estaleiro Atlântico Sul se desvencilhou. A Petrobras cancelou abruptamente os pedidos de navios. Sua linha de crédito foi suspensa. E altos executivos das duas empresas que o construíram estavam entre os acusados ​​de corrupção. Da noite para o dia, milhares de construtores de navios foram demitidos“, diz o texto.

Quando os brasileiros foram às urnas em 2018, Lula estava na prisão, condenado por aceitar reformas em um apartamento à beira-mar como propina de uma construtora“, excreve Londoño em seu texto esvaziado e carente de argumentos.

Bolsonaro, que foi legislador marginalizado por décadas, canalizou a raiva dos eleitores, apresentando-se como um político incorruptível. Ele derrotou facilmente [não foi facilmente] o candidato do Partido dos Trabalhadores, fazendo uma exibição impressionante em regiões pobres, incluindo a base de Lula no Nordeste, diz o texto.

Sob sua supervisão, o desemprego aumentou, milhões voltaram à pobreza, a inflação voltou a dois dígitos e a pandemia matou mais de 600.000 pessoas”, escreve Londoño. “Pesquisas de opinião pública recentes mostram que, se a eleição fosse realizada hoje, Bolsonaro perderia para todos os prováveis ​​rivais”.

Alguns dos processos criminais contra Lula foram desvendados à medida que os protagonistas da cruzada anticorrupção caíram em descrédito. O crítico entre eles foi Sergio Moro“, diz o texto, que passa a expor a “parcialidade” do ex-juiz “quando ele se juntou ao gabinete do Bolsonaro como ministro da Justiça e, após vazar mensagens que trocou com promotores durante a investigação, mostrou que ele havia fornecido ilegalmente conselho estratégico a eles“.

Como a reputação antes excelente do ex-juiz foi manchada, vários tribunais, incluindo a Suprema Corte do Brasil, emitiram uma enxurrada de decisões em favor de LULA”, explica, ao mundo, o jornalista. 

Dada a torrente de escândalos da era Bolsonaro, um eleitorado que antes estava ansioso para crucificar LULA e seu partido adotou uma abordagem mais otimista, disse John French, professor de história da Duke University que escreveu uma biografia” do ex-presidente, escreveu Londoño, referindo-se ao livro ‘LULA and His Politics of Cunning: From Metalworker to President of Brazil [LULA e sua política de astúcia: de metalúrgico a presidente do Brasil]’.

Por fim, a matéria do jornal americano é encerrada após uma narrativa conturbada, com fatos complexos demais para uma compreensão internacional dinâmica, como a é para poucos brasileiros, mas, mesmo assim, consegue transmitir ao mundo, ainda que em quase superficialidade, que os governos de LULA deixaram saudades para a maioria dos brasileiros que hoje estão encurralados entre a miséria e a fome que voltou a assolar o Brasil.

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