sábado, 4 de outubro de 2008

ARTIGO - Crise deixa nervosos os defensores do deus mercado.

Mário Augusto Jacobskind
Crise deixa nervosos os defensores do deus mercado

O noticiário dos jornais e televisões está sendo ocupado quase integralmente pela crise financeira nos Estados Unidos com reflexos em todo o mundo globalizado. Alguns analistas chegam a afirmar que o mundo entra em uma nova época, mas até agora, com poucas exceções, ninguém se atreve a prever os próximos dias. George W. Bush em seus estertores roga ao Congresso US$ 700 bilhões para salvar o sistema financeiro, o mesmo que há longo tempo vive de especulação desenfreada, que resultou no quadro atual.

E a mídia, como tem noticiado os acontecimentos? Os colunistas de sempre, os mesmo que há dias faziam apologia do mercado e propugnavam o Estado mínimo, na maior cara de pau tornaram-se adeptos fervorosos da injeção estatal para salvar a quem eles cultuam de forma acrítica. Que o digam Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Letão, dois dos radicais defensores da retirada de cena do Estado e favoráveis a deixar tudo por conta do deus (ou será diabo?) mercado. Não será de se estranhar que a crise financeira se intensifique e mais gigantes financeiros que se nutrem da especulação quebrem, para angústia dos defensores do mercado, agora non tropo.

De Clinton a Barack, passando por McCain
Sob os holofotes midiáticos entraram em cena os candidatos John McCain e Barack Obama, num esquema meio cínico, até porque ambos já receberam milhões de dólares destes mesmos grupos financeiros que estão quebrando.

Um informe da jornalista estadunidense e apresentadora do programa radiofônico Democracy Now!, Amy Goodman dá bem a idéia do cinismo que também se faz presente na campanha eleitoral norte-americana.

Segundo ela, em 1999 o então presidente Clinton e seu Secretário do Tesouro, Robert Rubin (agora assessor em temas econômicos de Obama), foram os principais promotores da derrubada da Ley Glass-Steagall, lei esta aprovada em 1929 depois do início da grande depressão para exatamente frear a especulação responsável pela calamidade. No Congresso, a derrubada da referida lei foi impulsionada pelo ex-senador republicano Phil Gramm, um dos ex-principais assessores de McCain.

Na verdade, os políticos dependem bastante de Wall Street para fazer alguma coisa e, em função disso, fazem teatro de baixa qualidade Precisam a todo custo esconder o jogo, porque se ficar claro, maior quantidade de cidadãos estadunidenses não irão votar.

Lá como cá
Em termos de Brasil, o esquema não é lá tão diferente. Mesmo agora, nas eleições municipais o que se observa é muito cinismo e até mesmo teatro do gênero absurdo. Candidatos que ontem diziam exatamente o contrário do que dizem hoje são galgados à condição de favoritos pelas pesquisas em função de promessas incumpríveis e que jamais serão cobradas pela mídia conservadora.

Na área econômica, políticos defensores do Estado mínimo saem em campo para ditar regras, como se nada tivessem a ver com mazelas em seus períodos de governo. Fernando Henrique Cardoso, simpatizante de Clinton e do então presidente mexicano, o mafioso Salinas de Gortari é chamado para opiniar sobre questões econômicas, como se ele não fosse responsável por uma série de trapalhadas que resultaram em prejuízos para a maioria dos brasileiros.

Até mesmo na área do petróleo, volta e meia o ex-genro de nome David Zylberstein, também conhecido pela alcunha de “O petróleo é vosso” (assim falou para big-shots do mundo petrolífero) é convocado pela mídia para dissertar sobre marco regulatório e outras coisas mais. Cardoso e Zylberstein são chamados como se fossem os ban-ban-bans de alguma coisa, quando acontece exatamente o contrário.

Em suma, tanto lá como cá, estes “especialistas” são alçados a consultores de temas econômicos, quando deveriam ser cobrados pela série de irresponsabilidades de vários gêneros que fizeram quando exerciam mandatos. Como isso não acontece, preferem adotar a prática do cinismo e da cara de pau. Na área midiática, dá para perceber claramente que os últimos acontecimentos no mundo financeiro têm provocado intenso nervosismo entre “renomados” analistas.

Além de torcerem escancaradamente pela aprovação do pacote de Bush pelo Congresso estadunidense eles demonstram em suas fisionomias o nervosismo bem comum nas horas de grave crise como a atual. Quem tiver alguma dúvida nesse sentido é só observar na hora dos comentários dos comentaristas de sempre.

Fonte: Blog Fazendo Média

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