sexta-feira, 17 de maio de 2024

Aluno sionista é expulso de Centro Acadêmico.

 


Aluno sionista é expulso de Centro Acadêmico da PUC-SP por ser contrário aos valores de direitos humanos

Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS) da universidade disse que decisão ocorre após posts e ataques de Luiggi Lellis contra grupos pró-Palestina

Por decisão unânime, o Centro Acadêmico de Serviço Social “Amarildo de Souza” (CASS), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), decidiu expulsar um aluno da gestão da chapa pelas declarações e posicionamentos assumidamente favoráveis ao sionismo. 

Em nota, nesta quinta-feira (16/05), o CASS esclareceu que “preza pela pluralidade e sobretudo pela defesa intransigente dos direitos humanos‘. Para explicar a decisão proferida contra Luiggi Lellis, de 19 anos, na data referente a 10 de maio, a entidade fez alusão ao cenário atual no território palestino, mencionando o processo israelense de limpeza étnica, o cometimento de genocídio e, inclusive, as atuais mobilizações universitárias em diversos países contra quaisquer vínculos e cumplicidade de suas respectivas instituições às ações sionistas de Israel.

“Durante sua permanência, o estudante, através de ações independentes, se manifestou e agiu de maneira desalinhada em relação aos posicionamentos que a chapa vem defendendo – desde que foi eleita, através das redes sociais e eventos – contra o apartheid que o povo palestino sofre, pelo cessar-fogo imediato e o rompimento de relações total do Brasil com Israel. Por meio de posts em suas redes sociais, posicionamentos dentro de reuniões da gestão e ações de perseguição dentro da Universidade a grupos e Centros Acadêmicos que se colocam em solidariedade à Palestina, o ex-membro expôs seu apoio ao movimento sionista”, diz um trecho do comunicado. 

A nota também destaca a importância de diferenciar o antissionismo de antissemitismo, explicando que o primeiro se trata da “justa crítica ao Estado de Israel e a sua ideologia norteadora que, em sua própria gênese, é uma ideologia de supremacia racial, limpeza étnica e deslocamento forçado de um povo em prol do assentamento de outro”. Já o  antissemitismo “inclui discriminar, alvejar, violentar e promover estereótipos desumanizadores contra o povo judeu, pelo fato de serem judeus”.

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“Atacar o povo judeu e culpá-lo pelas políticas de Estado são completamente antissemitas e a gestão se coloca totalmente contrária, não corroborando com nossos valores”, esclarece a nota, reforçando repúdio aos ataques que alunos judeus da PUC-SP vêm sofrendo.

O CASS também revela que a gestão marcou uma reunião extraordinária para ouvir Luiggi. Durante a conversa, o agora ex-membro teria exposto “de forma mais clara seus posicionamentos” e “se reafirmou sionista”, declarando-se como alguém de “esquerda, socialista, que acredita na existência e convivência entre dois Estados”.

No entendimento do centro acadêmico, trata-se de uma postura contraditória, uma vez que “Israel e sua ideologia mãe, fundada sobre as bases da limpeza étnica, da expulsão forçada de centenas de milhares de pessoas e da instauração de um regime de apartheid, não pode acomodar ideologias que defendem a emancipação dos povos, como o socialismo e outras vertentes de esquerda”.

Flickr/Stefanie Silveira
Aluno da PUC-SP é expulso do Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS) por posicionamentos sionistas

A Opera Mundi, Maria Cléo Montesso Eberlein, presidente do CASS, contou que Luiggi ingressou no começo de 2024 como agregado da gestão do centro acadêmico, que buscava calouros para contribuir na promoção do diálogo. No entanto, o estudante começou a manifestar posicionamentos contraditórios com os valores da chapa, principalmente por meio de postagens em redes sociais, onde se assumia publicamente como sionista e denotava ações que passaram a “incomodar” os membros da entidade.

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“Acusava militantes em prol da Palestina de antissemitismo e chamava o Hamas de organização terrorista. Ele ajudou também a fazer uma denúncia de um escrito na faculdade que dizia ‘Do rio ao mar, liberdade aos povos oprimidos’. O fez sem nos consultar e não nos informou deste fato em momento algum”, explicou a presidência do CASS.

À reportagem, Cléo acrescentou que houve conversas com Luiggi para que “deixasse de fazer essas postagens”. No entanto, o aluno não teria acatado aos pedidos e “até tornou os posts mais agressivos”. 

“Marcamos uma reunião extraordinária para discutir isso, em que o ouvimos e respeitamos os seus posicionamentos mas explicamos que não tínhamos força política para defendê-lo e muito menos gostaríamos de fazê-lo, já que somos antissionistas”, afirmou Cléo.

A expulsão foi decidida por unanimidade durante uma reunião marcada em 10 de maio, na qual se votou pelo desligamento do membro da chapa vigente.

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Procurado por Opera Mundi, o estudante Luiggi Lellis acusou a postura do centro acadêmico como “antissemita”.

“Deixei bem claro que sou: um judeu sionista de esquerda, contra os assentamentos ilegais na Cisjordânia, contra o governo de extrema-direita do Netanyahu, a favor de um Estado palestino soberano, a favor do reconhecimento da Palestina como estado membro pleno pela ONU (e não apenas ouvinte)”, disse o ex-membro à reportagem.

Questionado sobre a definição de “sionismo de esquerda”, Luiggi explicou ser “aquele sionismo socialista, um sionismo que se preocupa com justiça social e um sionismo que frisa a liberdade do Estado palestino soberano”, incluindo “crenças de esquerda”, e que “para ser sionista você acredita na existência do Estado de Israel como um estado democrático e um estado de autodeterminação, de uma etnia de um povo originário e originário da terra de Israel”. 

No entanto, de acordo com a presidência do CASS, falar sobre “sionismo de esquerda” é uma tentativa de Luiggi de querer “minimizar o fato de ser sionista”.

“Ele fala que é a favor da Palestina mas denuncia alunos e entidades por dizerem ‘Do rio ao mar” sob a alegação de antissemitismo”, afirmou Cléo.

Na quarta-feira (15/05), a entidade sionista Stand With Us também se pronunciou sobre o ocorrido ao lançar uma nota de repúdio, afirmando “indignação e repúdio” em relação à decisão da instituição, acusando a gestão do CASS por “distorção do conceito” e de “censura, exclusão social e cerceamento à liberdade de expressão”.

Em defesa de Luiggi, a entidade também solicitou uma “pronta resposta” da PUC-SP, “com o objetivo de coibir atitudes que restrinjam a liberdade de expressão dentro do meio universitário, pois a censura sufoca a diversidade de opiniões e cerceia o debate público”.

Vale lembrar que a nota do CASS foi publicada nesta quinta-feira, um dia após a manifestação da Stand With Us. Nela, a entidade estudantil revela que tem sofrido “ataques nas redes sociais, com percepções distorcidas de como aconteceram os ocorridos relatados”.

“A tentativa de confundir a ideologia sionista com a luta do povo judeu por libertação é uma tática comumente realizada por grupos sionistas como forma de legitimar e blindar qualquer tipo de crítica e luta travada contra o Estado de Israel”, diz um dos trechos do comunicado. “O que reforça a atuação da máquina sionista, e com objetivo de criminalização do movimento estudantil e das lutas a favor da Palestina – luta essa travada por pessoas judias e não judias”, acrescenta.

Opera Mundi, o presidente da FEPAL (Federação Árabe Palestina do Brasil), Ualid Rabah, afirmou que a reação do CASS foi correta uma vez que ela obedece as convenções internacionais e a legalidade brasileira.

“A ideologia sionista é uma ideologia supremacista baseada no extermínio de uma população originária para substituí-la por uma estrangeira. Logo é uma ideologia análoga ao nazismo. Nenhum sionista deve ser tolerado. Nenhum sionista deve ser interpretado como alguém que não seja um criminoso. É intolerável que um sionista declaradamente, que o faça inclusive publicamente em seus perfis, deva ser interpretado de outra maneira que não um promotor do genocídio “, afirmou Ualid.

Leia a nota do Centro Acadêmico de Serviço Social “Amarildo de Souza” na íntegra:

“O Centro Acadêmico “Amarildo de Souza” de Serviço Social da PUC-SP é um espaço que preza pela pluralidade e sobretudo pela defesa intransigente dos direitos humanos. Temos como princípio ético a valorização da vida em sua plenitude acima de qualquer circunstância.

Desde 1948 com a Nakba, o povo palestino tem sido alvo de um processo de limpeza étnica levados a cabo pelo Estado de Israel, a partir de um processo massivo de colonização e ocupação das terras palestinas com a expulsão de famílias, destruição de suas terras e casas e causando a morte de milhares de pessoas.

Desde então estamos vendo as movimentações massivas ao redor do mundo em prol de uma Palestina Livre e contra o sionismo. Atualmente são mais de 300 Universidades ocupadas pelos acampamentos de estudantes contra as relações entre suas Universidades e o Estado de Israel.

Do Brasil à Tokyo, o movimento estudantil se coloca em solidariedade ao povo Palestino e com o compromisso real por sua libertação.

E por esta razão é que nos sentimos no dever de tornar público as motivações que ocasionaram no desligamento de um dos membros da Gestão do Centro Acadêmico da chapa.

Em primeiro lugar é importante, é importante ressaltar que a saída da Gestão não impede que o aluno participe das atividades e eventos promovidos pelo Centro Acadêmico ou que aproveite os espaços físicos que o pertencem. Ele esta, apenas, afastado de uma posição de tomada de decisões dentro da Gestão.

Desde seu ingresso, o estudante participou ativamente das atividades e reuniões semanais do Centro Acadêmico sempre emitindo seu pensamento quanto às diversas pautas levantadas, e sendo sempre respeitado.

Durante sua permanência, o estudante, através de ações independentes, se manifestou e agiu de maneira desalinhada em relação aos posicionamentos que a chapa vem defendendo – desde que foi eleita, através das redes sociais e eventos – contra o apartheid que o povo palestino sofre, pelo cessar fogo imediato e o rompimento de relações total do Brasil com Israel.

Por meio de posts em suas redes sociais, posicionamentos dentro de reuniões da gestão e ações de perseguição dentro da Universidade a grupos e Centros Académicos que se colocam em solidariedade à Palestina o ex-membro expôs seu apoio ao movimento sionista.

E preciso, também, diferenciar antissionismo de antissemitismo.

Antissionismo é a justa crítica ao Estado de Israel e a sua ideologia norteadora que, em sua própria gênese, é uma ideologia de supremacia racial, limpeza étnica e deslocamento forçado de um povo em prol do assentamento de outro. Não é preciso ser judeu para ser sionista, isso se mostra claro quando atestamos que a extrema direita, os neonazistas e os reacionários neopentecostais do Brasil e dos EUA apoiam incondicionalmente a Israel em seus esforços de limpeza étnica.

Em contrapartida, nem todo judeu é sionista, como ficou demonstrado pelos valorosos companheiros do coletivo ‘vozes judaicas por libertação’ que, desde o começo do genocídio, nunca deixou de participar de atividade contra a Israel e de se manifestar por uma Palestina livre.

Antissemitismo inclui discriminar, alvejar, violentar e promover estereótipos desumanizadores contra o povo judeu, pelo fato de serem judeus. Atacar o povo judeu e culpá-lo pelas políticas de Estado são completamente antissemitas e a gestão se coloca totalmente contrária, não corroborando com nossos valores.

Repudiamos, inclusive, os ataques que os alunos judeus da nossa faculdade estão sofrendo. O compromisso com a luta pela libertação da Palestina é uma luta pela libertação e emancipação de todo os povos e isso inclui o povo judeu; nenhum povo será livre enquanto outros continuarem a sofrer um processo contínuo de genocídio.

Enquanto ideologia política, o sionismo tem suas raízes históricas no final do século XIX, ainda quando a Palestina era ocupada pelos ingleses. Esta ideologia se consolidou no etnonacionalismo expansionista resultando na expulsão de 750.000 palestinos de suas terras originárias.

A tentativa de confundir a ideologia sionista com a luta do povo judeu por libertação é uma tática comumente realizada por grupos sionistas como forma de legitimar e blindar qualquer tipo de crítica e luta travada contra o Estado de Israel.

A oposição política ao sionismo e às políticas de Estado que Israel possui contra o povo palestino (postos de controle, muros e militarização de territórios palestinos, processos de limpeza étnicas etc.) não é diferente de qualquer tipo de posicionamento político contra qualquer Estado-nação.

Entendemos que a autodeclaração de ser sionista, na conjuntura atual, é associada diretamente com o genocídio que esta ocorrendo no território palestino, uma vez que o governo israelense utiliza do discurso sionista para legitimar suas ações. Além disso, enquanto uma gestão comprometida com a libertação dos povos e da luta antirracista, levamos como exemplo a solidariedade histórica da África do sul com o povo palestino, ao comparar o apartheid que antes existia contra o povo negro no país, ao que ocorre há 76 anos e 7 meses com o povo palestino e na demonstração prática (seja na ONU e em suas políticas de Estado) do combate ao sionismo.

Em vista dos posicionamentos do ex-membro, a gestão marcou uma reunião extraordinária para discutir este tema. Neste momento, durante a conversa, o ex-membro expôs de forma mais clara seus posicionamentos e os acontecidos por sua perspectiva. Durante o diálogo, o ex-membro se reafirmou sionista, apesar de se autodeclarar de “esquerda, socialista, que acredita na existência e convivência entre dois Estados”.

Seu posicionamento é contraditório, pois a Israel e sua ideologia mãe, fundada sobre as bases da limpeza étnica, da expulsão forçada de centenas de milhares de pessoas e da instauração de um regime de apartheid não pode acomodar ideologias que defendem a emancipação dos povos, como o socialismo e outras vertentes de esquerda.

Nosso compromisso pela defesa de uma universidade livre, democrática e plural, sem a convivência com ideologias nefastas que pregam o extermínio de um povo é de extrema importância, isto, no entanto, não pode justificar a convivência com defensores de uma ideologia supremacista. Os tolerantes não devem, jamais, tolerar a intolerância.

Expusemos que uma das nossas opções seria a possibilidade de sua retirada da gestão, tendo em vista seus posicionamentos políticos desalinhados com os da chapa, propondo por ora, até que uma decisão fosse
tomada, que ele ficaria afastado da gestão.

No dia 10 de maio, então, realizamos a reunião extraordinária para votar a permanência do membro, onde todos os membros votaram a favor de seu desligamento da chapa vigente.

Nos últimos dias, a gestão do CASS tem sofrido ataques nas redes sociais, com percepções distorcidas de como aconteceram os ocorridos relatados. Além disso, ressaltamos como parte desses ataques tem caráter completamente direcionado (o que reforça a atuação da máquina sionista) e com objetivo de criminalização do movimento estudantil e das lutas a favor da Palestina – luta essa travada por pessoas judias e não judias.

É de extrema importância deixar claro que a nossa deliberação foi baseada unicamente em seus posicionamentos supracitados, não em sua etnia ou religião.
Sempre estivemos abertas a conversas e lamentamos que o evento tenha tomado estas proporções.

PALESTINA LIVRE!
CESSAR FOGO JÁ!
PELO ROMPIMENTO DE RELAÇÕES DO BRASIL COM ISRAEL!”