sábado, 4 de outubro de 2008

ECONOMIA - Porque as bolsas caem.

Porque as bolsas caem

Há dois motivos que explicam a queda do Índice Bovespa assim que foi anunciada a aprovação do pacote de ajuda aos bancos norte-americanos.

A primeira, é a chamada “síndrome do peru” – o que sempre acontece de véspera. Trata-se de uma lógica inabalável do mercado de ações. Sempre que o mercado cria expectativa em relação a algum evento – no caso, a aprovação do pacote – há dois momentos no mercado. Primeiro, a queda das ações, enquanto se aguarda que ocorra o evento. Nesse ínterim, investidores mais ousados passam a comprar ações, esperando a alta do mercado.

Essa alta ocorre antes do evento, pela própria força das expectativas e, também, pela compra de ações por esses investidores. Quando o evento acontece, esses investidores despejam suas ações no mercado para “realizar o lucro” – de acordo com o jargão do mercado. Nesse momento, o mercado desaba por força da venda dessas ações.

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A segunda razão reside na própria natureza da crise mundial. O excesso de dinheiro em circulação, a falta de regulação e a inventividade do mercado financeiro, produziram vários movimentos especulativos complicados – dos quais a bolha do “subprime” é apenas uma das vertentes.

Nesse mercado negociavam-se contratos de hipoteca de alto risco – aquelas com menores garantias. Tem um impacto forte sobre a economia, porque bate direto nos preços dos imóveis, na construção civil e no patrimônio das famílias.

Mas existem muitos outros ativos podres, escondidos por trás de balanços maquiados de diversas instituições.

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O risco maior do pacote é o do chamado “abraço do afogado”. Se uma instituição adere a ele, os executivos terão seus ganhos limitados. Haverá a tendência de muitos deles de tentar postergar o pedido de ajuda, confiando que o mercado melhore em cima das instituições que aderirem ao programa.

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Ainda haverá muitas semanas antes de se apagar o incêndio financeiro. Depois, toca cuidar do incêndio econômico.

Primeiro, haverá a necessidade de restabelecer a confiança dos investidores e dos bancos para que os canais do crédito sejam destravados. No momento, não há recursos para financiar o comércio externo nem os programas de investimento em curso.

O sistema bancário brasileiro sentiu os efeitos dessa parada. Aumentou bastante o custo de captação, os grandes bancos decidiram manter dinheiro em caixa, criando problemas de liquidez para os pequenos e médios. O Banco Central agiu rapidamente flexibilizando o compulsório (parte dos depósitos que os bancos são obrigados a deixar depositados no próprio BC).

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O maior risco brasileiro são, ainda, as contas externas. A queda vertiginosa da Bolsa de Valores, na quinta-feira, se deveu à queda dos preços das commodities no mercado internacional.

Hoje em dia, a balança comercial brasileira é fortemente dependente de commodities. Essa queda poderá ampliar o déficit em transações correntes no próximo ano. E não há garantia de que o fluxo de investimentos se normalizará.

Ainda dá tempo de reverter o déficit, se o Banco Central não cismar de trazer de novo o dólar para baixo.

Fonte: Blog Luis Nassif

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