Por Jean-Guy Allard
SEM sequer haver terminado o mandato de George W. Bush, os elementos mais recalcitrantes da máfia cubano-americana de Miami, arruinados pela aliança cega a John McCain, tentam candidatar às presidenciáveis de 2012, pelo partido republicano, seu representante: nada mais nada menos que Jeb Bush.
A associação dos herdeiros da ditadura de Fulgencio Batista ao candidato McCain nunca foi fruto do acaso. Por isso, os grandes meios de comunicação norte-americanos tiveram muito cuidado de eliminar do histórico do político republicano sua peculiar ligação à Cuba do regime de Batista.
Quando McCain casou com Cindy Hensley — na sua chegada ao Arizona, onde começou sua carreira política em 1982 — estava fazendo-o com a única herdeira da fortuna de Jim Hensley, empresário multimilionário da indústria cervejeira.
Acontece que Hensley era também o homem de confiança de Kemper Marley, naquele momento, um dos chefões mais ativos do mafioso Meyer Lansky, que se encarregou mais tarde de converter Havana em santuário da máfia continental.
Quando o aparelho do crime de Havana foi em massa para Miami, após o triunfo da Revolução Cubana e o desmantelamento da indústria do gambling (jogo do bicho), da droga e da prostituição na capital cubana, associaram-se espontanemamente em território norte-americano os que na Ilha tentaram impedir o fim da ditadura.
Aí apareceram alguns politiqueiros, como Rafael Díaz-Balart e Rolando Masferrer, indefectíveis executores das tarefas mais inconfessáveis do ditador expulso, rodeados de abundante mão-de-obra política militar, desde os Pilar García até os Tabernilla e também dos Merob Sosa.
No meio à intensa atividade dos órgãos de inteligência norte-americanos para asfixiar o mais rápido possível o poder revolucionário, surgiu George H. Bush, que participou desde muito cedo da escolha, do recrutamento e da recuperação dos elementos mais fortes da maquinaria batistiana de repressão.
Participou ativamente do plano da fracassada operação na chamada Baía dos Porcos, Playa Girón, e associou-se a quadrilha de oficiais sem escrúpulos que acabou conspirando contra John F. Kennedy.
Assim nasceu a rede assassina de Félix Rodríguez, Posada Carriles, Orlando Bosch e demais matadores que integraram a estação CIA chamada JW/WAVE, que durante anos desencadearam contra Cuba uma guerra terrorista, à base de sabotagem, infiltrações, atentados e assassinatos.
Quando passou à chefatura da CIA e depois à vice-presidência e à presidência do país, George Bush Sr. manteve a mesma ponte — da Venezuela à Nicaragua— sempre em estreita relação com esse fundo de comércio que mantem no aparelho da CIA de Miami que ajudou formar.
A ralé mais fanatizada desta grande empresa, os dirigentes do Cuban Liberty Council, todos estreitamente ligados à camarilha que fugiu de Cuba há cinquenta anos, é junto aos Bush, um poder mafioso aparentemente inmutável. É tanto assim, que, abusos tais como o processo arranjado em que foram condenados cinco cubanos por se infiltrarem na rede criminosa quando se travava uma suposta guerra contra o terrorismo, não encontrou oposição alguma na chamada terra da liberdade.
Graças a uma imprensa fraca, complacente e apavorada, os terroristas da casa se converteram em anjos, num ambiente de puro macarthismo onde a rádio e a televisão se atribuíram o papel de tribunal de inquisição, onde a Usaid — a Agência USA de desestabilização — destinou o orçamento recorde de US$45 milhões aos seus protegidos, além dos US$25 milhões da Rádio e Tevê Martí, que nem se ouve nem se vê, mas sim cola. Tudo isso, até que o mandato de Bush filho acabou e o descontentamento generalizado com seu regime fez com que caísse o castelo de cartas.
Mas, sem o cadáver político de Bush filho número 1 se arrefecer, Bush Sr. propôs Bush filho número 2.
Aproveitando o fim de ano e as entrevistas alternativas que costumam propor às televisoras, o ex-presidente Bush pai disse no domingo, 4 de janeiro, que um dia ele gostava de ver seu segundo filho, Jeb, na presidência dos Estados Unidos.
Numa entrevista com a Fox News, papai Bush afirmou — com rosto completamente inocente — que Jeb, o super-irmão Bush, ex-governador da Flórida, de 55 anos, tem "aptidão" para "ocupar" a Casa Branca.
"Gostaria de vê-lo como candidato. Gostaria que, algum dia, ele seja presidente, ou senador, ou o que for, sim, gostaria disso", declarou Bush pai, que foi presidente entre 1989 e 1993.
"Um pai nunca foi sucedido por dois filhos na Casa Branca", assinalou a agência Reuters, como se a presidência vitalícia tivesse um toque hollywoodense.
Isso importa pouco. Ninguém sabe, fora da Flórida mafiosa, do passado escuro de Jeb Bush, que se associou em 1984 a Miguel Recarey, um cubano-americano vinculado a Santos Trafficante Jr., na época, padrinho da máfia italiana na Flórida.
Jeb Bush se distingue por ter gastado milhões para tentar manipular o processo eleitoral, eliminando eleitores democratas, graças a seus sócios da firma especializada Accenture, entre os quais, um ex-ajudante pessoal.
Bush Sr. confessou com humor maquiavélico ao seu interlocutor da Fox: "Provavelmente, agora seja um mal momento... já tivemos suficientes Bush".
Mas, há esperança, sim, na Miami onde a Agência Central de Inteligência e seus amigos do regime de Batista construíram, há meio século, um intrincado dispositivo que se recusa a desaparecer.
Fonte: Gramna.
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