Pedro do Coutto
A aliança Eduardo Campos – Marina Silva, com o ingresso da ex-senadora no PSB, teve suas bases lançadas no sábado, em Brasília, mas na tarde de terça-feira, portanto ainda em plena alvorada, Marina Silva já começou a divergir do candidato a presidente da República nas eleições de 2014. Dois lances que protagonizou numa entrevista acentuaram o que pode representar o início de um processo prematuro de distanciamento.
Revela o repórter Paulo César Pereira, na edição de quarta-feira de O Globo, que Marina Silva se afirmou contrária à política defendida por Campos de fazer aliança com diversos partidos apenas com o objetivo de ampliar o tempo de televisão no horário da propaganda gratuita. “Trata-se de uma armadilha a de juntar alhos com bugalhos pensando no espaço na TV. Não tem a ver com nova política” – acrescentou.
A segunda divergência, ainda mais profunda, foi objeto de reportagem de Renier Bregon e Mateus Leitão, Folha de São Paulo, também na quarta-feira. Ao responder uma pergunta sobre candidatura presidencial do PSB, respondeu: “Para nós (ela e Eduardo Campos) não interessa agora ficar discutindo as posições. Nós dois somos possibilidades e sabemos disso.
Para aliviar o reflexo, colocou que a candidatura de Campos está posta e essa é a realidade. Na entrevista de sábado, seu apoio a Campos foi muito mais enfático, aliás como a ocasião e o cenário favoreceram. Afinal, ela estava ingressando no partido do governador de Pernambuco. Não seria possível posicionamento diferente.
Mas a diferença de tom surgiu na entrevista de terça-feira (publicada na quarta). Não pode ser outra a interpretação. Inclusive Marina Silva voltou-se de maneira frontal contra a filiação do deputado Ronaldo Caiado, ao PSB. É óbvio que Ronaldo Caiado não se sentirá confortável nesse quadro e imagino que ele já esteja se preparando para a campanha do Aécio. Não há lugar na Rede Sustentável para um inimigo histórico dos trabalhadores rurais, das comunidades indígenas e para quem articulou a derrota do projeto do Código Florestal.
ADENSAMENTO
“Nós vamos precisar primeiro –assinalou – fazer um adensamento antes de um alinhamento que nos levará a uma linha de corte.
Tal afirmação foi forte. E se Ronaldo Caiado tiver se inscrito no PSB e se Marina Silva lutar pelo seu desligamento, o tornará inelegível em 2014, uma vez que o prazo destinado a troca de legendas se esgotou em 5 de outubro. Tanto assim que ela, Marina, inscreveu-se à tarde do dia 4. Marina Silva, assim, mal ingressou na sigla da oposição e começou a fazer exigências quanto à entrada no partido de outros políticos, do qual não é dirigente. E se Caiado tiver se inscrito e a agremiação não desligá-lo, que fará Marina? Sairá do PSB? Desistirá de seu projeto político? Não é provável.
Sobretudo no instante em que ela própria revela ser uma possibilidade para a sucessão presidencial de 2014. Como um partido somente pode concorrer com uma candidatura, na hipótese de, no final da ópera, vir ela a ser escolhida, que papel estará reservado a Eduardo Campos? Pessoalmente tenho a impressão de que as pesquisas do Ibope e Datafolha vão definir o processo. Se o apoio de Marina alavancar Campos, colocando-o no segundo turno, ele permanecerá candidato. Porém, se não ameaçar Aécio Neves (ou José Serra), Marina Silva assume o papel principal, apresentando-se como a melhor alternativa.
Se na alvorada a ex-senadora colocou de cara o seu plano, pode-se calcular o que fará no entardecer, na reta final da campanha, se as pesquisas a colocarem na frente de Campos. A divisão que já começa a se projetar representa um fator a mais para a campanha da presidente Dilma Rousseff. Não poderia ter acontecido nada melhor para o Planalto. Diminuiu o número de candidatos e as divisões internas que podem ocorrer enfraquecem tanto Aécio quanto Campos.
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