A pesquisa que sumiu dos jornais
Por Luciano Martins Costa
O leitor e a leitora que costumam ler os jornais nas entrelinhas devem
estar estranhando o fato de que, na segunda-feira (7/4), praticamente
sumiram das páginas dos diários as análises sobre a mais recente
pesquisa Datafolha de intenção de voto. Apenas a própria Folha de S.Paulo dá algum destaque ao assunto, no texto que anuncia uma entrevista do presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão.
Pode parecer estranho, portanto, a quem costuma analisar criticamente a
imprensa, que, depois de quase uma semana chamando a atenção para
aquilo que deveria ser a hora da virada na política, os jornais tenham
simplesmente abandonado o tema, depois de haverem destacado, no domingo,
que a pesquisa apontava uma queda de 6 pontos porcentuais na
preferência dos brasileiros pela reeleição da presidente Dilma Rousseff.
O que há por trás de tanto desânimo na imprensa com um tema que lhe é sempre muito caro?
Primeiramente, é preciso pontuar que este observador tem sérias
restrições a consultas de opinião sobre determinados assuntos feitas por
instituto que leva o nome do órgão de comunicação – a simples confusão
entre os nomes pode influenciar diretamente na formação da opinião que
será colhida. Basta uma questão para colocar areia no ventilador:
quantos, entre os consultados pelo instituto, são leitores frequentes da
própria Folha, ou seja, têm suas convicções alimentadas pelo jornal? Ou alguém duvida do poder de indução da imprensa?
Estabelecido esse ponto, voltemos à pesquisa propriamente dita e a seus
antecedentes. No dia 1º de abril, véspera do início das consultas, a
manchete do noticiário econômico da Folha era: “Inflação pode chegar ao pico de 6,72% às vésperas do 1º turno”. Coincidência? Muito improvável.
Nos dias seguintes, os três principais jornais de circulação nacional
mantiveram em primeira página o escândalo da Petrobras, e nos dois dias
que antecederam o anúncio da pesquisa foram unânimes em profetizar que a
vantagem da atual presidente iria cair em função desse noticiário.
E qual foi o mote do Datafolha e da imprensa em geral, no domingo
(6/4), ao analisar o resultado da pesquisa? O suposto pessimismo
econômico que vem sendo diligentemente alimentado pelos jornais sobre
uma base de dados altamente controvertida.
Vazamento de informações
Observe-se que alguns dados da pesquisa, que ainda estava em andamento,
já haviam vazado na quarta-feira (2/4), primeiro dia da consulta,
quando blogueiros especializados e sites de analistas financeiros
começaram a anunciar que a presidente teria perdido grande parte de sua
vantagem eleitoral, o que estaria provocando uma forte valorização de
ações da Petrobras. Essa informação veio a ser destaque dos jornais no
dia 3, quando os pesquisadores ainda estavam em campo.
Portanto, há aqui pelo menos duas questões relevantes a serem
analisadas: o Datafolha vazou dados de uma pesquisa em andamento para os
editores da Folha? Se as especulações do mercado, que foram
veiculadas por sites respeitados entre investidores, não tinham
fundamento, por que a Folha não os desmentiu antes de divulgar o resultado oficial? Pelo contrário, a Folha
respaldou a ideia de que uma eventual queda na vantagem da presidente
teria motivado o mercado, levando à recuperação dos negócios na Bolsa de
Valores.
Essas perguntas não terão resposta, mesmo porque, se levada a fundo, a
eventual vantagem de investidores, que teriam realizado lucros com ações
da Petrobras com base em informação privilegiada, teria que ser
investigada. Mais interessante é analisar o resultado da pesquisa em si.
Segundo o Datafolha, o ambiente social no Brasil está dominado “por
crescente pessimismo com a economia e forte desejo de mudança”. Essa
seria, segundo o instituto, a causa principal da queda das intenções de
voto na presidente da República.
O problema é que, no cenário mais provável, tendo os candidatos Aécio
Neves e Eduardo Campos como principais adversários, Dilma Rousseff
ganharia a eleição no primeiro turno.
Se é verdade que há certo desejo de mudança, ele não se incorpora nos
candidatos oposicionistas, mas se projeta, em primeiro lugar, na figura
do ex-presidente Lula da Silva, na própria presidente Dilma e na
ex-senadora Marina Silva, mas Lula e Marina não são cotados para
disputar a Presidência.
O desejo de mudança é saudável, numa sociedade ainda marcada por fortes
injustiças e carências. Mas o modelo defendido pela imprensa não parece
convencer o eleitor.
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