A operação Wikipédia — Testando hipóteses
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| Serra e Afif |
Se analisarmos o histórico das intervenções
na Wikipédia feitas a partir do IP do Palácio do Planalto,
constataremos facilmente que as acusações da Globo e de seus jornalistas
foram irresponsáveis e levianas.
Mais
da metade das alterações não tem conotação política ou
administrativa, deixando bem claro que o uso da internet no Palácio era
feito com desenvoltura, por parte de visitantes e servidores.
Possivelmente
até mesmo turistas que passeiam ali por perto tinham acesso à rede,
seja por conhecerem alguém ali dentro do Palácio, seja porque
perguntaram a alguém que sabia a senha de acesso, já que esta era
fornecida generosamente a qualquer um que a pedisse.
Essa
história me intriga. Em outros posts, já mostrei que todas as grandes
redes públicas, no Brasil, tem seus IPs usados por centenas ou
milhares de pessoas, e são inúmeras as intervenções na Wikipédia
partindo dessas redes.
Difamaram até mesmo o Raul Seixas a partir da internet do governo de São Paulo!
Se
a alteração no verbete de Miriam Leitão partiu de um servidor
público, está claro que se trata de um imbecil, ao não considerar que,
se o Wikipédia guarda os Ips dos usuários que acessam o site, a ação
teria consequências políticas.
Por outro lado, e se foi uma armação?
Não
podemos descartar essa hipótese, até porque alguns fatores despertam
suspeitas. Por exemplo, por que Miriam e Sardenberg protestaram só
agora por algo que aconteceu em maio de 2013? Estariam esperando o
momento certo?
Estariam esperando o processo eleitoral?
As
informações sobre cada usuário do Planalto ficam guardadas até seis
meses. Se a denúncia tivesse sido feita dentro desse prazo, portanto, o
governo poderia identificar facilmente quem fez a alteração nos
verbetes.
Eu tenho analisado com afinco o histórico de intervenções
feitas a partir do famigerado IP 200.181.15.10, tentando encontrar
alguma pista que me ajude a descobrir quem mexeu nos verbetes da nossa
querida Miriam.
Partilho com vocês o que descobri até o momento. Por sugestão de um internauta, atentei para algumas coincidências.
Os
verbetes de Miriam Leitão e Sardenberg foram alterados nos dias 10 de
maio, depois no dia 13 e 14. No dia 14 de maio, outro verbete foi
alterado por diversas vezes: “Ourinhos”, referente a uma cidade do
interior de São Paulo. Para ser exato, o verbete Ourinhos foi alterado
25 vezes pelo IP do Planalto. É o verbete da Wikipédia que mais recebeu
atenção dos usuários do referido IP.

Não é estranho usar tanto a rede do Planalto para alterar o verbete de um município do interior de São Paulo?
As
alterações são sempre no sentido de criticar a atual administração.
Não é implausível acreditar que o usuário é de Ourinhos e faz à
oposição da prefeitura.
Alguns meses depois, o verbete de Claury Santos Alves da Silva também é alterado, duas vezes, usando-se o IP do Planalto.
Claury
é um dos políticos mais ilustres de Ourinhos. Eleito em 1982, foi um
dos vereadores mais votados da história do município. Reelegeu-se para
um novo mandato em 1988. Em seguida, foi prefeito de Ourinhos entre
1993 e 1996. Elegeu-se deputado estadual em 1998. Seu partido era, e
continua sendo, o PTB. Mas aliou-se a José Serra, do PSDB, quando este
se candidatou ao governo de São Paulo em 2006.
A partir de 2008, Claury exerce a função de secretário de esportes e turismo do estado de São Paulo, no governo José Serra.
Em 2012, Claury tenta novamente ser prefeito de Ourinho, mas não se elege.
Durante
a gestão Serra no Palácio dos Bandeirantes, Claury tinha como colegas
Aloysio Nunes Ferreira Filho, então secretário-Chefe da Casa Civil e
Guilherme Afif Domingos, secretário do Emprego e Relações do Trabalho.
Outro
colega de Claury era Nelson de Almeida Prado Hervey Costa, adjunto na
Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, ainda no governo Serra.
A
partir daqui, o papel de Nelson de Almeida ganha importância em nossa
história. Em 2010, ele se torna Presidente do Conselho de
Administração da Imprensa Oficial do Estado S.A. – IMESP, e secretário
do Governo Municipal, na gestão Kassab.
Pulemos para 2013.
No
dia 6 de maio de 2013, a presidenta Dilma anuncia a criação da
Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE), e nomeia como titular da
pasta ninguém menos que Guilherme Afif Domingos, atual vice-governador
de São Paulo na gestão Alckmin e ex-secretário do Emprego e do
Trabalho na gestão anterior, exercida por Serra.
A
imprensa recebe a notícia com perplexidade, sobretudo porque Afif não
renunciou ao cargo de vice-governador. Ele continua até hoje
acumulando os dois cargos.
A
SMPE, apesar de ter status de Ministério, e funcionar num edifício
externo, no Setor de Rádio e TV Sul, 701, quadra 03, bloco M, 6° andar, é
vinculada à Presidência da República, o que confere a seus
funcionários livre acesso ao Palácio do Planalto.
O secretário executivo de Afif na SMPE é Nelson de Almeida Prado Hervey Costa, que desfiliou-se do PSDB em 20 de maio de 2013, ou seja, alguns dias depois de iniciar seus trabalhos em Brasília.
Nelson era filiado ao PSDB desde 1995, e sempre trabalhou em cargos de confiança do partido, sobretudo junto à Serra.
Em
virtude de uma ligação tão orgânica com o PSDB, sua desfiliação não
me parece sincera, mas apenas uma maneira de evitar atritos junto ao
novo patrão, o governo do PT.
Ou um disfarce.
As
alterações na Wikipédia de Miriam Leitão, assim como na de Ourinhos e
Claury, começaram a ser feitas apenas alguns dias após a entrada em
operação da SMPE, e da chegada desse bando de raposas serristas ao
galinheiro petista.
Ou seja,
temos que lidar com essa hipótese, de que um ou mais tucanos
infiltrados dentro do governo tenha participado de uma operação de
sabotagem política.
A “bolinha
de papel”, aquela farsa protagonizada por Serra em 2010, agora pode
estar voltando a acontecer, e operada pelo mesmo Serra, através de
ex-companheiros de governo, tucanos fieis que, por um desses acasos da
vida, hoje tem acesso privilegiado ao Palácio do Planalto.
Estas
são apenas especulações. Tocqueville ensinava que o tempo eleitoral é
sempre um momento de profunda crise política. E durante as crises é
preciso pensar em tudo. Todas as conspirações ganham força e
consistência quando o jogo de poder se intensifica.
Em vista dessas circunstâncias, diria Ali Kamel, não custa nada “testar hipóteses”.

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