Barack Obama promove “guerra não declarada”
O semanário alemão Die Zeit qualificou como uma “guerra não declarada” o uso pelo Pentágono de veículos não tripulados no combate aos “terroristas”.
Por Oleg Severguin*, na Voz da Rússia
Militante do Exército Islâmico O tema voltou a ser focado após a publicação pelo periódico The Guardian dos resultados de uma investigação feita pela Reprieve, organização da defesa de direitos humanos com a sede em Londres, que se manifesta pela abolição da pena de morte e prática de torturas. A pesquisa tinha por objectivo analisar os efeitos do emprego de drones contra presumíveis terroristas.
O semanário Die Zeit caracteriza os ataques aéreos como uma “execução sem culpa formada”. Tais atos não proporcionam aos condenados à morte nenhuma possibilidade de se proteger e sobreviver.
Também aqueles que se consideram “perdas colaterais” são privados de tal possibilidade. Segundo escreve o The Guardian, os peritos da Reprieve analisaram a ação de drones norte-americanos no Paquistão e no Iêmen. No Paquistão se colocava a tarefa de neutralizar, dessa forma, 24 pessoas inscritas na lista especial de terroristas, no Iêmen – 17.
Conforme adianta a mesma fonte, para aniquilar um só terrorista era preciso alvejá-lo, por meio de drones, mais de uma vez. Em resultado disso, até ao final de novembro, em ambos os países, foram liquidados 34 terroristas do total de 41 condenados à morte. Em paralelo, os golpes aéreos ceifaram a vida de 1147 pessoas, inclusive 150 crianças.
A “eficiência” dessa “arma de alta precisão” tem sido comprovada por um simples cálculo aritmético: 33 vítimas por cada suspeito de terrorismo.
Entretanto, os números citados constituem uma pequena parte da guerra travada mediante os drones. A CIA e a NSA, que a protagonizam, bem como, em parte, o Pentágono, têm enviado seus “guerreiros silenciosos” não só para “caçar” e matar os “criminosos”. O “castigo divino” vai abrangendo aqueles que não fizeram nada de mal, mas, por essa mesma razão, parecem causar suspeitas.
Dizem que tais pessoas podem chefiar “células terroristas”. Segundo o centro analítico Council on Foreign Relations, fora do Afeganistão e do Iraque, tinham sido efetuados 500 ataques de mísseis a partir de drones que, ao todo, aniquilaram 3.674 pessoas.
Convém perguntar: será que todos se empenharam em hediondos atos terroristas? O jornal alemão Neues Deutschland citou dados, tornados públicos pelo Bureau of Investigative Journalism, (TBIJ) – dos 2.500 suspeitos que foram mortos no Afeganistão e no Paquistão, apenas 12% podem ser considerados extremistas e apenas 4% - militantes da Al-Qaeda. A mesma fonte observa que o “princípio de identificação” de possíveis vítimas de drones é muito simples: se um morto usava barba e cabelo comprido, teria sido terrorista ou extremista. Parece que esse critério pode ser aplicado em relação a todos os habitantes do Afeganistão de sexo masculino.
Após a assinatura de um acordo de segurança entre Washington e Kabul, que deu luz verde à missão da Otan em Hindu Kush, Barack Obama rubricou uma portaria secreta, segundo a qual o contingente militar dos EUA no Afeganistão não se limitará ao cumprimento de tarefas de instrução, assessoria e consultas. O documento permite que os soldados dos EUA participem de operações militares contra Al-Qaeda, o Taliban e outros grupos terroristas. A Casa Branca também tomou a decisão de apoiar as tropas afegãs e utilizar para esse fim os aviões de combate e veículos não tripulados.
O The Guardian constata ainda que Obama faltou à promessa de limitar o uso de drones e de acabar com o ambiente de secretismo à sua volta. A informação fornecida a esse respeito por Washington contém mais perguntas do que respostas. Será que essas respostas existem?
*Articulista da emissora pública de rádio Voz da Rússia
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