POLÍTICA - O Papa só pode estar certo.
Se esses 4 são contra, o papa só pode estar certo
Num movimento que parece orquestrado, quatro
fundamentalistas da imprensa brasileira (Reinaldo Azevedo, Guilherme
Fiúza, José Roberto Guzzo e Ricardo Noblat) decidiram liderar uma guerra
santa contra o papa Francisco; o motivo: o fato de o pontífice declarar
que as religiões não devem ser insultadas, após condenar o ataque à
redação do Charlie Hebdo; para os jihadistas da imprensa brasileira, a
liberdade de expressão deve ser encarada como um valor absoluto, mesmo
que essa não seja a realidade da França (basta pensar no humorista
Dieudonné) nem dos Estados Unidos (alô, Wikileaks); ordem do Instituto
Millienium?
247 - Dois dias
atrás, o papa Francisco fez declarações sensatas que, aos olhos de
quatro fundamentalistas da imprensa brasileira, foram consideradas
heréticas. "Não se pode ofender, ou fazer guerra, ou assassinar em nome da própria religião ou em nome de Deus", disse ele. "Acho
que os dois são direitos humanos fundamentais, tanto a liberdade
religiosa, como a liberdade de expressão", completou, antes de afirmar
que "há um limite para a liberdade de expressão".
Foi o bastante para que quatro
jihadististas, num movimento aparentemente concatenado, se unissem uma
espécie de guerra santa contra o sumo pontífice. O primeiro foi Reinaldo
Azevedo, ex-coroinha, que simplesmente mandou o papa calar a boca (leia
mais em Reinaldo sugere que o papa Francisco se cale).
Também sem nenhuma sofisticação, José Roberto Guzzo, diretor editorial
de Veja, afirmou que o papa viajou na maionese (assista aqui), em entrevista... à Veja.
Ricardo Noblat, do Globo, também
usou uma metáfora para se referir ao caso. Disse que o papa Francisco
"pisou feio na bola" (leia aqui). "Duvido
que Francisco concorde com a morte como meio de se responder a uma
ofensa. Mas foi a impressão que deixou", disse ele. Ou Noblat não leu o
que o papa disse, ou foi mal-intencionado. Voltando à primeira
declaração de Francisco, eis o que disse o pontífice: Não se pode
ofender, ou fazer guerra, ou assassinar em nome da própria religião ou
em nome de Deus".
Neste sábado, foi a vez de Guilherme
Fiúza, também do Globo, que, para variar, misturou o assunto da semana
com a política brasileira. "Talvez uma das figuras mais representativas
deste momento esquisito seja o Papa Francisco. Sua Santidade tem
provavelmente uma espécie de João Santana ao pé do ouvido, para
soprar-lhe as últimas tendências do mercado", disse ele, condenando o
que considerou uma defesa do Islã radical feita por Francisco (leia aqui).
Cartilha do Instituto Millenium
Nem todo mundo sabe, mas as famílias
Civita e Marinho são sócias e mantenodoras do Instituto Millenium, um
think tank criado para tentar organizar o "pensamento correto" da elite
brasileira. É desse instituto, apoiado também por empresas como a
Gerdau, que saem os Fiúzas, Mainardis, Magnolis, Guzzos, Contantinos e
afins.
Pode-se imaginar que os quatro
colunistas tenham tido a ideia simultânea de iniciar sua guerra santa
contra o papa Francisco – hoje, uma das figuras mais populares e
admiradas do mundo. Mas também não deve ser descartada a hipótese de uma
blitz coordenada, como ocorreu em Paris com o ataque ao Charlie Hebdo e
ao mercado judaico.
Se você não quiser refletir muito
sobre as declarações do papa Francisco, nem é preciso. Basta olhar para
quem levantou a voz contra suas declarações. Se os jihadistas da
imprensa brasileira estão contra o papa, não tenha nenhuma dúvida: ele
só pode estar certo.
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